Maio - 2024 - Edição 300
O primeiro indígena na academia
Durou quase duas horas o discurso de improviso de Ailton Krenak
na posse do primeiro indígena na
centenária Academia Brasileira de
Letras (ABL). Foi uma festa muito
bonita, em que se falou dos povos originários e do meio
ambiente. O novo membro da ABL foi saudado pela acadêmica Heloísa Teixeira, que recordou a importância da cadeira número cinco, ocupada entre outros por Ivan Junqueira
e Rachel de Queiroz, a primeira mulher a entrar para a Casa
de Machado de Assis.
A originalidade do discurso de Krenak pôde ser anotada em diversos momentos, como na homenagem a outros
defensores dos povos originários. O Marechal Cândido
Rondon, mesmo não tendo pertencido à cadeira número
5, foi homenageado. “O rito nos põe num lugar de criação
de mundos”, disse ele, diante de uma casa cheia, em que se
destacava a presença de autoridades como o presidente da
Funai, Joenia Wapichana, a ministra da Cultura, Margareth
Menezes e o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida.
O pensamento filosófico de Krenak, expresso em
alguns livros de sua autoria, como A Vida Não É Útil e Ideias
Para Adiar o Fim do Mundo, em que foi difundido o pensamento ameríndio, propondo novos modos de vida e maneira de se relacionar com o meio ambiente, foi devidamente
apreciado pois foi aplaudido seguidamente pela plateia.
Outros imortais foram homenageados, como Darcy
Ribeiro, José Murilo de Carvalho e Gilberto Gil, este chamado de “mestre”, com o discurso interrompido por aplausos.
Krenak criticou o que ele chama de “humanidade
zumbi”, uma ideia de progresso que deslocou os homens do
corpo a terra, levando ao consumo desenfreado e à destruição da natureza.
Além de Carlos Drummond de Andrade, que não foi
acadêmico, o novo acadêmico prestou homenagem a autores africanos como Mia Couto e José Eduardo Agualusa.
Abordando questões indígenas, negras e ambientais, fez
um discurso político de primeira ordem. Por isso, agradou
bastante.