Dezembro - 2023 - Edição 298
Um grande africanista
A Academia Brasileira de Letras
(ABL) sentirá muito a falta de Alberto da
Costa e Silva, que nos deixou aos 92 anos
de idade. Diplomata, poeta e historiador,
ocupava a cadeira nº 9 da ABL, tendo
sido também por um período o seu eficiente presidente.
No Governo Sarney, exerceu a direção da Embaixada do
Brasil em Portugal e organizou uma visita de imortais, de que
temos a melhor das lembranças. Publicou nove livros sobre o
continente africano, entre os quais: A Enxada e a Lança: A África
Antes dos Portugueses, lançado em 1992, e A Manilha e o Libambo:
A África e a Escravidão, de 1500 a 1700, que saiu dez anos depois.
Foi diversas vezes premiado com o famoso “Jabuti” e o
“Camões”, mas ele costumava dizer que a sua maior láurea foi o
título de doutor honoris causa da Universidade de Ifé, na Nigéria.
Recebeu também o Troféu Juca Pato. Sua morte foi também
lamentada pelo presidente Lula, que o qualificou como um dos
mais importantes conhecedores da África existentes no Brasil.
Tinha orgulho de afirmar que seguia a trilha do pai, Antônio
Francisco da Costa e Silva, poeta e funcionário público, que havia
sido desconsiderado pelo Barão do Rio Branco, na carreira pública, segundo ele “por ser muito feio”. O nosso acadêmico nunca se
conformou com essa agressão.
A sua curiosidade pela África surgiu depois de muitas leituras da obra de Gilberto Freyre. Depois de Lisboa, assumiu diversos encargos diplomáticos em Caracas, Washington e Madri. Na
Nigéria, ficou por cinco anos, mais tarde exercendo essa mesma
função em Portugal, na Colômbia e no Paraguai. Atribui ao
ex-governador Carlos
Lacerda o estímulo
para escrever sobre a
experiência africana.
Costumava afirmar que
seguia a máxima de
Goethe: “A cultura é a
soma de poesia e história.”
Seus poemas
sobre a esposa Vera,
precocemente falecida,
foram também premiados. Na década de
2000, lançou Um Rio
Chamado Atlântico. Em
diversos textos condenou o racismo e defendeu as cotas racistas.
Foi também memorialista, com livros como
O Espelho do Príncipe e
A Invenção do Desenho.