Maio - 2022 - Edição 279
Gil e a luz do luar
Com belíssimas imagens poéticas, o acadêmico e poeta Antônio Carlos Secchin
saudou a chegada do cantor e compositor
Gilberto Gil à Academia Brasileira de Letras,
em noite das mais concorridas. Recebeu o
colar da nova imortal Fernanda Montenegro.
Secchin dedicou parte do seu discurso à esposa de Gil, Flora,
grande inspiradora da sua consagrada carreira, onde pontuam mais de
600 músicas que enriquecem o cancioneiro popular brasileiro, entre
as quais o famoso “Aquele abraço”. Garantiu que a presença de Gil será
iluminada por uma permanente luz do luar.
Muitos aplausos interromperam o discurso do grande cantor
quando ele criticou o atual tratamento discriminatório dado pelo governo federal à cultura brasileira. Ficou claro o inconformismo também da
plateia. “Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico
nas redes sociais de internet, e a questão merece a atenção dos nossos
educadores e homens públicos. A ABL tem muito a contribuir nesse
debate civilizatório. E eu gostaria aqui, efetivamente, de colaborar para
o debate, em prol da justiça e da cultura”, disse o novo imortal.
Em artigo no jornal O Globo, Merval Pereira escreveu a respeito
do General Lyra Tavares, antecessor de Murilo Melo Filho na cadeira 20
da Casa de Machado de Assis: “Gil falou a seu respeito com elegância e
generosidade, apesar de ter sido vítima da repressão militar que tomou
conta do país, a partir de 1964.” O novo acadêmico falou do comportamento sempre afável e solidário, no convívio com os imortais, num
gesto de grandeza moral. Lyra Tavares era irmão mais velho de João Lyra
Filho, que foi reitor da UERJ e era também notável escritor.
Gil recordou sua participação no movimento chamado de
Tropicália e disse da sua profunda tristeza quando perdeu o filho Pedro
Gil, morto num acidente de automóvel, em 1989.
Primeiro representante de música popular do Brasil, filho de professora primária Claudine e do médico José Gil Moreira. Gilberto chegou
à ABL de forma consagradora, substituindo o jornalista potiguar Murilo
Melo Filho, que me coube saudar na chegada à ABL. Foi muito aplaudido, numa cerimônia marcada para sempre pelo número de convidados
e a diversidade da sua composição.