Novembro - 2021 - Edição 273
A epopeia do Tico-Tico
Devo aos meus irmãos mais velhos
o indiscutível gosto pela literatura. Garoto
ainda, eles me presenteavam com edições
sucessivas da revista Tico-Tico, destinada a
crianças. Era um deleite receber a publicação
e saborear as suas páginas.
Foi a primeira revista de quadrinhos do Brasil, com um elenco de
celebridades extraordinárias. É possível lembrar de nomes como RecoReco, Bolão, Azeitona, Zé Macaco, Chiquinho, o Dr. Sabetudo, Vovô,
Faustina, entre outros. A revista veio à luz em 11 de outubro de 1905.
O Tico-Tico nasceu na editora O Malho, sob a inspiração de Luiz
Bartolomeu. Escolas de tico-tico podem ser explicadas como escolas
de garotos, que adquiriram um alegre didatismo. Na sua vida de mais
de 60 anos, a revista acolheu uma série de grandes expressões da arte
brasileira, como os desenhistas Luiz Sá, J. Carlos (Juquinha, Lamparina,
Jujuba e Carrapicho), K., Lixto, Storni (Zé Macaco, Faustina e Serrote),
Max Yantok e Nino Borges (Bolinha e Bolonha). Assim se construiu uma
epopeia, na cultura do nosso país. Foi também uma série de revistas de
divulgação científica, como a edição de História Natural.
Conta-se até uma cena pensamento, disse de pronto: “Ora, tirei do
Tico-Tico!”
Portanto, a revista não era só leitura dos pirralhos. Era lida também
por membros da Academia Brasileira de Letras, como Josué Montello,
e escritores do porte de Carlos Drummond de Andrade e Raymundo
Magalhães Jr., este também imortal.
Ninguém pode duvidar da seriedade desse vitorioso projeto editorial. Drummond costumava dizer: “Tico-Tico é pai e avô de muita gente
importante. Se alguns alcançaram importância e fizeram bobagens, o
Tico-Tico não teve culpa. O Dr. Sabetudo e o Vovô ensinavam sempre a
maneira correta de viver, de sentar-se à mesa e de servir à Pátria. E da
remota infância, esse passarinho gentil voa até nós, trazendo no bico o
melhor que fomos um dia. Obrigado, amigo!”