Outubro - 2021 - Edição 272
O filósofo da esperança
Tarcísio Padilha, filósofo e professor vitimado pela Covid-19, aos 93 anos
de idade, foi indiscutivelmente um homem
culto. Demonstrou isso no convívio desde
1997 na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Tive o privilégio de recepcioná-lo na Casa de
Machado de Assis.
A lembrança do pensador francês Louis Lavelle marcou o nosso
primeiro encontro. Estávamos no ano de 1955 e ele defendia, no
auditório do Instituto La-Fayette, a cátedra de História da Filosofia na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da então Universidade do
Distrito Federal, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Foi um concurso memorável, em que o jovem candidato, então com 27
anos de idade, ganhou a cátedra de forma brilhante. Tirou dez em todas
as provas.
Tarcísio Padilha ficou marcado pela Filosofia de Louis Lavelle e,
numa dinâmica inversa, marcou o meu espírito de estudante. A vida
permitiu que nossos caminhos se cruzassem. Fui seu aluno duas vezes
na UERJ e ainda na Escola Superior de Guerra. Ele era destacado membro do seu corpo permanente, com aulas maravilhosas da Filosofia da
Educação.
Tive o privilégio de recebê-lo na ABL e depois contei com a
sua colaboração, como secretário-geral, quando presidi a Academia.
Ganhou o apelido de “filósofo da esperança”, pois escreveu muito a
respeito desse tema. Um dos seus sete livros publicados foi Filosfia da
Esperança, o que levou a Encyclopedia Bhilosophique universelle, de
Paris, a incluir o seu nome entre os 5 mil filósofos mais importantes de
todos os tempos.
Homem equilibrado, considerava que toda ideologia enseja um
fechamento do homem sobre si mesmo. Sua filosofia da esperança unia
theoria e práxis. Procurava enriquecer a participação existencial dos
seres humanos no mundo, preservando a dignidade da pessoa humana, e salvar o homem moderno da sua angústia, buscando um vetor da
democratização.
Segundo Padilha, o modismo é uma espécie de busca do palco
momentaneamente iluminado por um pensador, cuja vida útil em geral
não ultrapassa um lustro. Foi com muita competência que ele tratou
da Ecologia do Conhecimento. Suas palavras como escritor, educador e
filósofo foram muito aplaudidas. Elas sobreviverão para sempre.