Julho - 2021 - Edição 269
A guerra sem futuro
Lamentável a opinião do escritor angolano José Eduardo Agualusa, que confunde
as coisas, tomando partido do Hamas, culpando o Estado de Israel pela beligerância. O
cessar-fogo, mediado pelo Egito, encerrou 11
dias do mais recente combate, no qual mais
de 250 pessoas foram mortas, a maioria delas em Gaza.
Tomando ares de profeta, Agualusa citou o dia 19 de julho de 2018,
quando o Knesset aprovou Israel como uma “nação judaica” e o hebraico como única língua oficial, ele afirma que “nesse dia Israel começou
a morrer”. Comentário odioso e ofensivo, com pouquíssima chance de
se tornar realidade, até mesmo pela falta da necessária credibilidade do
seu autor, que conviveu em silêncio com a longa ditadura de Salazar.
O conflito Israel/Palestina é uma questão complexa. Não pode
ser explicado em poucas linhas. Não é razoável pintar os judeus como
opressores ou colonialistas. As coisas não são assim tão simples.
Podemos discordar de ações do governo israelense sem condenar um
povo inteiro.
E nem o Hamas sozinho representa a Palestina. É uma sofrida
minoria étnica. Devemos deixar claro que se deve garantir a existência
de um país com o direito de professar uma religião.
Nos últimos desentendimentos, a partir de 10 de maio, em que
morreram mais de 400 árabes, não houve o que muitos jornais proclamavam como uma guerra Israel versus Hamas. O Hamas não é um país
regularmente constituído. É um grupo terrorista, infelizmente apoiado
por grupos esquerdistas, embaralhando as coisas.
Devemos ser sinceros, proclamando dois direitos fundamentais:
a existência, já consagrada, do Estado de Israel, e um futuro Estado
da Palestina, desde que naturalmente os árabes se habituem com essa
coexistência. Enquanto isso não for alcançado, por vias democráticas,
estaremos sujeitos a surtos de violência, destruição e mortes, que infelizmente é o pior dos caminhos.
Nós, escritores, acreditamos que os livros são um território livre do
pensamento. Mas o autor da Teoria Geral do Esquecimento não deveria
esquecer jamais de que a literatura é um exercício permanente de colocar-se na pele do outro.