Junho - 2021 - Edição 268

Tendências na educação

Não existe um significado exclusivo para o que é a educação. Seus princípios variam conforme a época, o lugar, as circunstâncias, a concepção ideológica e política de um dado momento. Aristóteles (384-322 a.C.), há 2.500 anos, em sua obra Política, já se preocupava com o problema da educação, admitindo que a sua prática, em vigor naquela época, era de perplexidade. Ninguém sabia sobre qual princípio deveria proceder: sobre a utilidade da vida? Sobre as virtudes? Ou seria sobre um conhecimento mais elevado? Considerava Aristóteles que, sobre esses três significados, não havia consenso, uma vez que as ideias divergiam sobre a natureza da virtude e, com isso, sobre a sua prática.

Não é de estranhar que idêntica perplexidade à percebida por Aristóteles preocupe aqueles que, ainda hoje, se dedicam à educação. Em tempos de incertezas e dúvidas, de qualquer ângulo que se considere o problema, a pergunta emergente será unívoca: “como educar para novos tempos?”

A tragédia sanitária que se abateu sobre o planeta, com o alastramento do Covid-19, impactou a forma como vivemos, acelerando mudanças que já estavam em curso, antes da pandemia. Para debater sobre os rumos da educação no país, o Centro Cultural Midrash convidou o professor Celso Niskier para um debate no Ciclo Tendências, com curadoria do jornalista e editor Bruno Thys.

Reitor da UniCarioca, presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Rio de Janeiro (Semerj), fundador e Reitor do Centro Universitário UniCarioca, membro da Academia Internacional de Educação e do Conselho do Centro de Integração Empresa Escolado Rio de Janeiro por 12 anos, o entrevistado é Doutor em Inteligência Artificial.

Celso Niskier destacou os impactos distintos na educação superior e básica, traçando um panorama da esfera pública e particular (cuja adaptabilidade ao ensino remoto foi menos sofrível), em contraponto com a “tragédia” que se abateu sobre a educação infantil: “Não há como colocar uma criança de dois, três, quatro anos na frente de um computador. Certamente, o prejuízo foi – e é – muito grande. Vamos ter gap de aprendizagem que pode significar, segundo um estudo do FMI, até mesmo 10% de perda na renda futura desses jovens. Teremos que ser criativos, como educadores, para garantir que esse gap seja recuperado.” É preciso inovar, com criatividade, a fim de atrair os alunos para um ambiente acadêmico diferente. Para o Reitor da UniCarioca, a grande tendência da educação é a inovação: “Acredito muito nas metodologias ativas. As salas de aula não vão ser mais para transmissão de conhecimento, e, sim, para a aplicação prática do que for estudado. O professor vai definir o conteúdo (e a forma que esse será disponibilizado), sendo muito mais um designer da aprendizagem do que um mero entregador do conhecimento.”

Com uma visão otimista, Niskier citou exemplos positivos de visitas recentes, antes da pandemia. No Estado de Israel e na China, o modelo de educação híbrida, que conjuga alta tecnologia às salas de aula, já está em uso, de formas muito bem-sucedidas: “As salas vão ficar um pouco assim: uma combinação de presença física, remota e muito conteúdo não presencial a ser estudado entre as aulas. Esse é o modelo vencedor no futuro”, apontou.

A educação continua sendo o meio pelo qual a sociedade transmite seus princípios e valores. É reforçando a educação que estaremos reforçando o conhecimento do mundo, tornando-nos capazes de melhorá-lo. Teoria e prática devem sempre andar juntas.