Abril - 2021 - Edição 265

Portinari e o “Guerra e Paz”

Aproveitei os tempos de pandemia e fiz a releitura do genial romance Guerra e Paz, de Tolstoi. Ao mesmo tempo, gravei com o professor João Cândido Portinari, formado em Matemática na PUC/Rio, uma interessantíssima entrevista sobre o seu pai, Cândido Portinari, um dos maiores nomes da pintura brasileira de todos os tempos.

Ele recordou como e quando Portinari recebeu o convite da ONU para pintar o painel que hoje figura com destaque na sede internacional do famoso organismo. É uma obra extraordinária que, de vez em quando, volta ao Brasil, para ser também apreciado por nossos concidadãos. Portinari pintou mais de 5.400 quadros, muitos dos quais espalhados por outros países.

Tinha um caderno onde anotava os seus rascunhos, como aconteceu quando esteve em Israel e colocou o resultado da sua inspiração. Depois, tanto podia pintar mesmo no Brasil ou em outros países, como foi o caso da Itália. O editor Abrahão Koogan era seu grande amigo e colaborou na divulgação de alguns dos principais trabalhos de Portinari. Ajudou grandemente para que a sua obra resistisse ao tempo.

Outra iniciativa fundamental foi o “Projeto Portinari”, dirigido pelo filho, com dezenas de exposições sobretudo no Brasil. O pintor era um homem de esquerda, mas colocou o seu sentimento numa exposição de arte sacra na inauguração da Fundação Roberto Marinho. E ao visitar a família, em Brodowski, todos descendentes de italianos, confessou-se “um pintor cristão”. Foi um extraordinário pintor de tipos humanos, como fez em Israel, onde nasceu um álbum de belíssimas figuras humanas.

João Cândido confessou-nos que, quando fez 40 anos, escreveu uma carta póstuma ao pai afirmando que gostaria que a obra do pai fosse acessível a todos. Assim demonstrou que a obra de Portinari seria para sempre comprometida com os seres humanos, com o social, com os valores. Isso ficou registrado no seu extenso trabalho pictórico. Felizmente, o filho soube honrar a genialidade do pai. Ganhamos todos com isso.