Março - 2021 - Edição 265

Os maiores aplausos do Municipal

Entre os anos de 1980 e 1983 tive o privilégio de dirigir a Fundação das Artes do Rio de Janeiro, subordinada à Secretaria de Estado de Educação e Cultura. Com isso, era o responsável maior pela programação cultural do Rio de Janeiro, em que se incluía o notável Teatro Municipal. E do seu maravilhoso ballet, que por minha iniciativa passou a ser dirigido pela amiga Dalal Aschcar.

Com a sua mão de ouro, revelou ao mundo o talento de Ana Botafogo, que logo se tornou a primeira bailarina do Teatro Municipal. E que sucesso! Na estreia de Coppelia, de Leo Delibes, no papel de Swanilda, possivelmente os aplausos recebidos constituíram um recorde, repetido seguidas vezes, nas apresentações depois de D. Quixote e do clássico Romeu e Julieta, para só citar esses exemplos.

Quando Ana fazia as suas piruetas e parava na ponta dos pés ou quando desenvolvia um inigualável pas-de-deux, o público que lotava o Municipal delirava, e aplaudia freneticamente. Os que mais vibravam, naturalmente, eram os seus pais Maria Dulce e Ernani, que não perdiam um espetáculo. Eu gostava de cumprimentá-los pelo sucesso da filha, que se tornaria uma das mais famosas bailarinas da história do Teatro Municipal.

Aqui vocês têm aspectos da sua vida bem-sucedida. São notas e reportagens dos principais jornais do país, sempre elogiando as atuações deslumbrantes de Ana Botafogo, constantemente aplaudida de pé. O clima de magia de Coppelia, reproduzindo uma aldeia polonesa do século XIX, facilitou o destaque da atuação da primeira bailarina, com o seu arabesque seguido de promenade. Os críticos não economizavam elogios, como disse Suzana Braga, no saudoso Jornal do Brasil: “Tornou-se uma mistura de mito e talismã para a dança.” Já Maria Teresa Moro, na Última Hora, garantiu que ela valorizou o artista brasileiro. Poderia repetir o sucesso de Berta Rosanova. E mais: “Sua dança é um hino à perfeição técnica.”

Teve parceiros como Alain Leroy e depois Fernando Bujones, este considerado na época o maior do mundo. Ela foi artista para qualquer papel, como afirmou Márcia Haidée. Deixou o seu nome no balé brasileiro. Quem não se lembra da notável Fada Açucarada do Quebra-Nozes? Ana Botafogo marcou época, em nossa cultura. Vale a pena recordar os seus feitos.