Maio - 2021 - Edição 267

Peça ruim

“Marcelo foi com a noiva na estréia da peça de teatro tão aguardada.”
Não será sucesso de audiência!
Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).
Período correto: “Marcelo foi com a noiva na estreia da peça de teatro tão aguardada.”
Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis


Descida perigosa

“Luana escorregou feio ao descer a escada, pulando os degrais de dois em dois.”
Não poderia evitar o acidente, escrevendo dessa maneira. O plural de degrau é degraus. O de troféu é troféus.
Frase correta: “Luana escorregou feio ao descer a escada, pulando os degraus de dois em dois.”


Para conhecer Machado de Assis – Dom Casmurro

Capítulo XXXII / Olhos de ressaca Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que... Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.


Patente alta

“Mariana estava toda contente, seu primo foi graduado vicealmirante.” Assim, não há promoção que resista! Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Período correto: “Mariana estava toda contente, seu primo foi graduado vice-almirante.”


Diariamente

“Fernanda não come macarrão no seu dia-a-dia.” Dessa maneira, vai acabar com inanição. Veja: conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, não se emprega mais hífen na expressão dia a dia (locução substantiva). Frase correta: “Fernanda não come macarrão no seu dia a dia.


Parecidos, mas diferentes

Você sabe a diferença entre urgência e emergência? Emergência é quando há uma situação crítica ou algo iminente, com ocorrência de perigo; incidente; imprevisto. No âmbito da medicina, é a circunstância que exige uma cirurgia ou intervenção médica de imediato. Por isso, em algumas ambulâncias ainda há “emergência” e não “urgência”. Urgência é quando há uma situação que não pode ser adiada, que deve ser resolvida rapidamente, pois, se houver demora, corre-se o risco até mesmo de morte. Na medicina, ocorrências de caráter urgente necessitam de tratamento médico e muitas vezes de cirurgia, contudo, possuem um caráter menos imediatista. Esta palavra vem do verbo “urgir”, que tem sentido de “não aceita demora”: O tempo urge, não importa o que você faça para tentar pará-lo.


Gente demais

“Éramos em cinquenta e cinco para entrar no ônibus e conhecer o parque de diversões.” Além do grande número de alunos para um ônibus só, esta frase não está bem construída. Não devemos usar a preposição em entre o verbo ser e o numeral. Frase correta: “Éramos cinquenta cinco para entrar no ônibus e conhecer o parque de diversões.”


Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto