Novembro - 2025 - Edição 309

Vésperas

Os contos de Vésperas (ed. Record), de Adriana Lunardi, narram os últimos momentos de vida de nove autoras: Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Fitzgerald e Júlia da Costa. Com base em dados biográficos, Lunardi cria uma obra de ficção que homenageia a obra e a vida de escritoras, propondo uma visão íntima de suas angústias, memórias e reflexões sobre o fazer literário e a finitude. A partir de pontos de vista inusitados, as histórias conseguem mapear a complexidade da existência dessas autoras, tanto por serem mulheres quanto por se tornarem personalidades públicas. Por meio de uma escrita poética e sensível, a narrativa aborda com sobriedade os temas da morte, solidão e doença. Ao ficcionalizar os momentos finais na perspectiva das próprias autoras, de quem convivia com elas ou de quem as admirava, o livro cria um retrato enriquecedor de figuras fundamentais para a nossa formação literária. Adriana Lunardi é autora de Corpo Estranho (2006), A Vendedora de Fósforos (2011) e Contos Céticos (2024). Recebeu os prêmios Açorianos, Biblioteca Nacional para Obras em Andamento, Fumproarte e Icatu de Artes. É coautora do seriado de TV Ilha de Ferro (Globo, 2019)

Vocês da imprensa

Vocês da Imprensa (Máquina de Livros), do jornalista João Paulo Saconi, trata da violência contra a imprensa e os impactos que isso causa à liberdade de expressão. A partir de um episódio no início da carreira, em que sofreu os efeitos da hostilidade, Saconi se debruçou sobre esse problema coletivo. A obra não se limita a estatísticas. O principal componente da narrativa é humano, com histórias de jornalistas que morreram ou foram agredidos. O autor ouviu profissionais bem-sucedidos que, por precaução, deixaram de circular nas ruas ou cogitaram se mudar para o exterior com medo do que poderia acontecer com eles. Saconi destaca episódios emblemáticos que envolveram Vera Magalhães, Patrícia Campos Mello, Luiz Fara Monteiro, Renato Alves, Raquel Landim e Natuza Nery. Ele narra também a história de Santiago Andrade, cinegrafista da Band morto em 2013, após as Jornadas de Junho. O livro foi batizado com uma expressão frequentemente usada por fontes, entrevistados e o próprio público para se referir a jornalistas, como se fossem uma parcela à parte do Brasil. Jornalista e pesquisador, João Paulo Saconi tem 29 anos. Desde 2018, trabalha no jornal O Globo, cobrindo política nacional, economia e cultura. Atualmente, faz parte da coluna Lauro Jardim.

(In) certeza

(In) certeza (Ed. Cândido), segundo livro da poeta carioca Gabriela Zimmer, convida o leitor a pensar sobre as múltiplas faces da dúvida. A obra é dividida em cinco blocos temáticos. O título com “certeza” entre parênteses reflete “como a incerteza é tão incerta, que ela mesma não sabe se está certa ou não”, explica Zimmer. Entre imagens de “retalhos e tecidos de cores diferentes” costurados em um “cobertor” poético, os versos transitam da infância ao exílio voluntário na Europa, sempre guiados por ritmo e musicalidade. O processo criativo, segundo a escritora, foge aos roteiros fixos: “São meus poemas que escolhem quando e onde serão escritos, e não o contrário.” Essa espontaneidade se estende à concepção gráfica, que conta com ilustrações de Maria Eduarda Thomé “dialogando com os poemas em muitas camadas”. Uma das vozes mais originais da nova geração, a carioca Gabriela Zimmer estuda Ciência da Comunicação em Amsterdã, Holanda. Sua primeira coletânea poética, Para Nunca se Sentir Só, publicada em 2020, percorre o tema da solidão – suas origens, presenças e diferentes corpos. Autora do conto “A Cronista”, premiado no Concurso de Literatura Juvenil Ferreira de Castro (2020, Portugal), Gabriela também foi reconhecida com o Scheffel-Preis da Sociedade Literária de Karlsruhe, na Alemanha (2022).

Ursa Maior

Ursa Maior (Scortecci Editora, 2025), da escritora e imortal da Academia SulMato-Grossense de Letras Raquel Naveira, evoca a figura da mulher selvagem, conectada à floresta, à Terra e ao cosmos. Através de uma escrita lírica e subjetiva, a autora conduz uma travessia simbólica rumo à reconexão com o sagrado feminino e com a ancestralidade. A unidade temática da narrativa entrelaça forma e conteúdo, com escolhas estilísticas firmes e conscientes, fruto de uma consistência literária robusta da acadêmica. A obra conduz os leitores por uma travessia simbólica, ancorada na figura arquetípica da ursa – símbolo de instinto, coragem e proteção. Inspirando-se também na constelação Ursa Maior, Raquel entrelaça imagens do universo cósmico com reflexões íntimas sobre a jornada feminina, a ancestralidade e a resistência. No prefácio, o pesquisador e crítico literário baiano Krishnamurti Góes dos Anjos demonstra o caráter filosófico do texto: “Naveira, dentre outras coisas, busca um alento, um sopro de vida em meio à barbárie e violência dos atos humanos.” Nascida em Campo Grande, em 23 de setembro de 1957, Raquel Naveira é formada em Direito e em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB/MS); doutora em Língua e Literatura Francesas pela Universidade de Nancy, França; mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP.

Do Antigo Regime ao Constitucionalismo

Do Antigo Regime ao Constitucionalismo – A Casa da Suplicação do Brasil, 1808-1829/1830 (Ed. Processo, 2024), do acadêmico Arno Wheling, traça um panorama robusto sobre o processo estrutural da justiça e do direito no Brasil. Dividida em três partes, com 20 capítulos ao todo, a obra trabalha algumas hipóteses. Em primeiro lugar, considerou-se a possibilidade de analisar a Casa da Suplicação, órgão estatal, como parte de um conjunto jurisdicional (o dos juízes de fora, ouvidores de comarcas e Tribunais da Relação), por sua vez dentro de um conjunto maior, o Estado ou o Governo que regia metrópole e domínios. Evitou-se falar em sistema e subsistema para que não se presuma uma estrutura plenamente racional e burocrática, de sentido weberiano. Filho de um imigrante alemão e de uma catarinense, o professor, acadêmico, advogado e historiador brasileiro Arno Wheling nasceu no Rio de Janeiro, em 1947. Graduou-se em História pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil e em Direito pela Universidade Santa Úrsula, tendo doutorado em História e Livre Docência em História Ibérica, ambos pela Universidade de São Paulo (USP), e pós-doutorado pela Universidade do Porto. Autor de vários livros, é membro, entre outras instituições, da ABL e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Verdade Inventada

A união do teatro com estudos da neurociência, sob o olhar atento de uma pesquisadora do comportamento humano que tem a cena como ofício resultou na instigante e sensível obra Verdade Inventada – Teatro, corpo e neurociência na construção das emoções (Ed. Vestígio, 2025), de Larissa Bracher. A autora transforma o palco em uma metáfora de autoconhecimento, onde seríamos todos atores em constante ensaio. Segundo o texto, com técnica, atenção e presença podemos reinventar o modo de nos expressarmos e nos relacionarmos com o outro e com o mundo. Mais do que um livro sobre emoções, Verdade Inventada é um convite à transformação pessoal, para quem deseja experimentar as emoções como ato criativo e não como sentença biológica. Atriz, preparadora de elenco, diretora e pioneira na coordenação de intimidade no Brasil, Larissa Bracher reúne décadas de experiência em palcos, sets de filmagem e bastidores na investigação das interseções entre corpo, cena e cérebro. É certificada pela Intimacy Professionals Association (IPA), vinculada ao Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA). Unindo teatro, estudos de neurociência e práticas somáticas, Larissa propõe uma reflexão em que o corpo se torna laboratório, a emoção um treino e a identidade, uma obra em processo.