Setembro - 2024- Edição 302

Ensaio da paixão

Para a nova edição de Ensaio da Paixão (Ed. Record), lançado originalmente em 1986, Cristóvão Tezza fez alterações no texto e escreveu um posfácio inédito, em que reflete sobre as mudanças comportamentais e na linguagem dos anos 1970 para cá. A edição conta ainda com texto de orelha assinado pelo crítico Manuel da Costa Pinto. Romance com pitadas de realismo mágico, Tezza trata de sua juventude, inspirado nos anos em que fez parte de uma comunidade de teatro e de uma sociedade alternativa em uma ilha isolada no sul do país, em plena ditadura militar. Combinando humor explícito, com ritmo acelerado, a narrativa mostra como funcionavam as comunidades alternativas dos anos 1970 e de como elas eram vistas pelo Estado. Nascido em Lages, Santa Catarina, desde criança vive em Curitiba, Paraná. Um dos maiores expoentes da literatura brasileira dos últimos tempos, Cristóvão Tezza é autor de mais de vinte livros, incluindo O Filho Eterno, com o qual foi vencedor dos principais prêmios do país, como o Jabuti, Portugal Telecom, Prêmio São Paulo e Zaffari & Bourbon, entre outros. Seus livros já foram adaptados para o cinema brasileiro e para o teatro no Brasil, na Argentina e em Portugal.

Estrela de Madureira

Em Estrela de Madureira: A trajetória da vedete Zaquia Jorge, por quem toda a cidade chorou (Ed. Record), Marcelo Moutinho recupera a história de Zaquia Jorge e reconstitui a transformação cultural do Rio de Janeiro sob a ótica da vedete ícone da cultura suburbana que, em 2024, faria 100 anos. Em sua estreia como biógrafo, o autor recupera a vida da atriz e empresária do teatro, que morreu aos 33 anos, em 1957, afogada na então inóspita praia da Barra da Tijuca, causando comoção popular e especulação midiática. Sua morte trágica inspirou o samba Madureira chorou, grande sucesso do Carnaval de 1958. A narrativa reconstitui a vida de uma mulher à frente do seu tempo – que desafiou o estigma de mulher desquitada, abriu mão da guarda do filho e retomou, após a separação, o nome de solteira –, uma atriz incomum e fora dos padrões, que alcançou o estrelato no teatro de revista, atuou no cinema brasileiro emergente e, posteriormente, decidiu ousar como empresária das artes. Escritor e jornalista, Moutinho conquistou o Prêmio Jabuti 2022 na categoria Crônica, com A Lua na Caixa D’água (Malê), e o Prêmio Clarice Lispector 2017, da Fundação Biblioteca Nacional, com a seleta de contos Ferrugem (Record).

Fundo de quintal

Em Fundo de Quintal – O som que mudou a história do samba (Ed. Malê, 2024), Marcos Salles conta histórias da trajetória do grupo musical. O nome de Salles – jornalista, escritor, produtor, roteirista e diretor de shows – foi unanimidade entre os integrantes do Fundo de Quintal para escrever a biografia, contando as quase cinco décadas de carreira da turma que ele integra desde o quarto LP. Depois de 161 entrevistas em 116 horas de gravações e três anos e 11 meses de trabalho, além de quase dois de espera por causa da pandemia, a obra foi lançada. O livro conta desde o início do grupo, na quadra do Cacique de Ramos, e como o nome foi escolhido; fala dos instrumentos criados ou usados pelo grupo de forma inovadora, da madrinha Beth Carvalho, das várias formações e de ex-integrantes que fizeram história – como Neoci, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Sombrinha, Cléber Augusto e Mário Sérgio –, além da bossa dos irmãos Bira e Ubirany, da censura e de como o grupo “furou a bolha” e derrubou o preconceito da mídia, que abriu as portas para o samba. Estão no livro os sucessos, os prêmios, muitas curiosidades e temas polêmicos, como as drogas.

Estados Unidos da África

Estados Unidos da África (Ed. Bebel Books), de Anderson Shon e Daniel Cesart, apresenta a história do super-herói Rei Bantu em sua missão de trazer paz e justiça para a África. Escrita em narrativa não linear, com 184 páginas, tem projeto gráfico assinado por Manaira Abreu e prefácio de Anne Quiangala. A narrativa é repleta de referências a artistas e pensadores negros, de Conceição Evaristo a Mano Brown, de Nelson Mandela a Bob Marley. Além disso, foram usadas inúmeras referências visuais que beberam da história da moda, da arquitetura, das artes visuais e de manifestações religiosas africanas e afrodescendentes. É possível encontrar várias personalidades entre os retratados como coadjuvantes da trama. Anderson Shon é poeta, escritor e educador. Tem na carreira os livros de poesia Um Poeta Crônico, Outro Poeta Crônico, A Despedida do Super Futuro, Quando as Borboletas Saem do Casulo e Não Termine Comigo, Joana. Daniel Cesart é quadrinista, formado em artes visuais. Cocriador do espetáculo Dança em Quadrinhos. Participou da coletânea Máquina Zero volumes 1 e 2 com histórias curtas; ilustrou o jogo de tabuleiro Livres para a Sinergia Games; fez artes para a Última Plataforma, diagramou as HQs Paxuá e Paramim, Contos dos Orixás e Contos dos Orixás – O Rei do Fogo.

Carnaval amarelo

Carnaval Amarelo (Ed. 7Letras), de Jairo Carmo, é uma viagem no tempo e nas profundezas da vida real, ficcionalizada através da história de um rapaz pobre, do interior do Pará (criado na cidade fictícia de Miradouro), que muda para o Rio de Janeiro, tendo, como pano de fundo, os anos de chumbo. Temas como o racismo, a violência contra a mulher e a desigualdade social também permeiam a trama que tem como personagem principal o advogado José Afonso, suas dores e seus amores. Com sensibilidade narrativa, o autor criou um romance tocante, que faz refletir sobre a passagem do tempo e os revezes da vida. Segundo Elias Fajardo, escritor e jornalista, trata-se de “Um romance para não esquecer, na medida em que nos coloca diante de nós mesmos e dos impasses que a vida nos impõe”. Jairo Carmo nasceu em Monte Alegre, Pará, é casado e tem cinco filhos. É professor de Direito Civil e membro da Academia Brasileira de Letras da Magistratura (ABLM). Atualmente, é tabelião titular do 4º Ofício de Registro de Títulos e Documentos da cidade do Rio de Janeiro. Contista premiado pela Academia Fluminense de Letras (AFF), tem cinco coletâneas publicadas. Carnaval Amarelo é seu primeiro romance.

A cortesia da casa

A Cortesia da Casa (Ed. Record, 2024) é o primeiro romance de Marta Barcellos, vencedora dos prêmios Sesc e Biblioteca Nacional na categoria conto. Instigante e irônico sobre a superficialidade, a trama é ambientada em um spa de luxo da serra fluminense. Trata dos conflitos de uma mulher de meia-idade que busca refúgio em um hotel que oferece serviços de emagrecimento e descanso para endinheirados. O texto de orelha é assinado por Claudia Lage, que ressalta a sagacidade da escrita de Marta e a linguagem falsamente frívola que utiliza para desenvolver a sua personagem principal, remetendo à Bertha Young de “Êxtase”, conto de Katherine Mansfield. Com um trabalho de ocultamento na linguagem, sem resvalar para a caricatura, A Cortesia da Casa se vale do ambiente artificial do spa para mostrar a crise de meia idade de uma mulher que subitamente se sente descartada. Marta Barcellos é escritora e jornalista, autora do livro de contos Antes que Seque (2015), vencedor do Prêmio Sesc de Literatura e do Prêmio Clarice Lispector da Fundação Biblioteca Nacional, além de finalista do Prêmio Rio de Literatura e semifinalista do Oceanos. Carioca, é formada em jornalismo pela UFRJ e mestre em Literatura pela PUC-Rio.