Março - 2023 - Edição 289
José Sarney, o Homem e a Palavra
Homem singular em sua pluralidade, o ex-presidente José Sarney fez-se maior do que a soma de
suas partes. Sua trajetória é analisada por vários
ângulos na publicação José Sarney, o Homem e a
Palavra (AML, 2020). Amigos, de diversas procedências e idades, registram o apreço em homenagens, “na
expressão da palavra que fica”. Como afirma o cientista
político Antônio Lavareda, “José Sarney simboliza uma
parcela diferenciada da elite política brasileira que,
na República, se mostrou capaz de protagonizar os
acontecimentos, tendo os ideais democráticos como bússola”. Na página 110, as
palavras poéticas do conterrâneo e colega de fardão Ferreira Gullar (escritas na
ocasião do aniversário de 70 anos) trazem: “O fato de ter dedicado a maior parte
de sua vida à política pode levar os menos avisados a não verem com justiça o
escritor que ele é. Mas quem ler o seu romance, O dono do mar, não terá dúvida.
Eu sou suspeito, porque sou seu amigo. E é como amigo que faço questão de me
juntar aos tantos que o admiram.” O trabalho de reunir textos para a publicação
resultou da união de esforços de dois presidentes da Academia Maranhense de
Letras – Benedito Buzar e Carlos Gaspar – e de três membros da Casa, Joaquim
Haickel, Félix Alberto Lima e Sebastião Duarte, aos quais se somaram as colaborações do escritor José Jorge Soares e do fotógrafo Nazareno Almeida.
Foi Assim
Na obra Foi Assim... (Gráfica GSA, 2022), Deni Almeida
da Conceição faz um recorte temporal de sua trajetória, ao longo de 55 anos dedicados ao à comunicação,
como um todo. A narrativa objetiva, escrita na primeira
pessoa, expõe, de forma descontraída, as escolhas e
a capacidade humana do autor, ligando, com firmeza
delicada, o passado de muito trabalho ao presente de
merecidas conquistas. O autor fala da formação que
recebeu dos pais, da sua trajetória profissional desde o
início, quando conciliou trabalho e estudo, da liderança
que exerceu no meio estudantil e da ampla participação
que teve (e ainda tem) no desenvolvimento de Linhares,
sua cidade natal.
A voz que nos fala vem de dentro de cada memória selecionada para compor
os 12 capítulos, em que as palavras surgem como potência para demonstrar a
lição de uma vida de quem sempre soube ultrapassar as dificuldades, semeando
exemplos de honestidade, trabalho e responsabilidade. Os amigos também são
lembrados, entre eles, personalidades da sociedade capixaba e lideranças políticas e empresariais. Deni registra, ainda, o seu enorme carinho pela família. Mas
o destaque especial do livro é o jornalismo, em que Deni Almeida da Conceição
se notabilizou como repórter, redator, colunista social e empresário, ao fundar,
na cidade de Linhares, no espírito Santo, O Pioneiro, jornal editado ininterruptamente, desde 1967.
Das Ruínas de Jerusalém à Verdejante Amazônia – Formação da primeira Comunidade Israelita Brasileira
A obra Das Ruínas de Jerusalém à Verdejante Amazônia –
Formação da primeira Comunidade Israelita Brasileira,
de Abraham Ramiro Bentes, ganhou reedição caprichada pela Editora Consultor. A publicação, uma notável
contribuição cultural e histórica, foi lançada pela primeira vez em 1987, pelas Edições Bloch.
Trata-se de uma obra erudita que versa com profundidade, sapiência e dedicação sobre as origens culturais
dos judeus sefaraditas brasileiros e, especialmente,
daqueles que vieram para a Amazônia no princípio do século XIX, provenientes
de Tanger, Tetuãn, Rabat, Fez e outras comunidades marroquinas, após a sua
expulsão de Espanha e Portugal no século XVI.
Paraense nascido em Itaituba, no rio Tapajós, em 1912, Abraham Ramiro Bentes
é descendente de pioneiros hebreus sefaraditas marroquinos que aportaram na
Amazônia, onde sua bisavó materna chegou, em 1850. Filho de Ramiro Moisés
Bentes, natural de Tanger, e de Estrella Benchimol Bentes, nascida no Pará,
Abraham Ramiro Bentes fez seus estudos primários no Marrocos. Em Belém, concluiu o curso no Ginásio Estadual Paes de Carvalho. Em 1933, na Escola Militar
de Realengo, no Rio de Janeiro, concluiu o curso de oficial da Arma de Artilharia.
Após mais de 40 anos de serviço militar, foi transferido para a reserva com os
proventos de General de Divisão.
A Vida por Escrito
Em A Vida por Escrito – Ciência
e arte da biografia (Companhia
da Letras), Ruy Castro oferece um guia de como escrever
biografias incluindo todos os segredos, as técnicas e
os truques. Fazem parte dessa reflexão: a escolha do
biografado, dicas de entrevistas, a decisão sobre como
começar e quando terminar a pesquisa, as ferramentas
literárias que ajudam a reconstituir os fatos, oferecendo
estratégias fundamentais para organizar as informações
e transformá-las em livro.
O autor de O Anjo Pornográfico ensina, ainda, as possibilidades da reconstituição histórica, que se vale das
mesmas técnicas biográficas para retratar determinado
cenário ou época, sem um protagonista específico.
Com uma narrativa simples, objetiva e cativante, na mesma medida da profundidade e precisão do conteúdo, o autor nos brinda com episódios decisivos durante
suas apurações, ampliando o escopo das orientações.
Ruy Castro começou como repórter em 1967, no Correio da Manhã, do Rio, e
passou por todos os grandes veículos da imprensa carioca e paulistana. É autor
de biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, e de livros
de reconstituição histórica, sobre o samba-canção, a Bossa Nova, Ipanema, o
Flamengo e o Rio de Janeiro moderno dos anos 1920. Recebeu o Prêmio Machado
de Assis de 2021 e, em 2022, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras
A Ilha que me Abriu os Olhos
A llha que me Abriu os Olhos: Superação e sonhos pelas
esquinas de Florianópolis (Ed. Maceió, 2022) retrata
desafios e conquistas na trajetória de Gustavo Amorim,
alagoano que, sozinho, atravessou o país em busca de
autonomia.
A luta por respeito e igualdade e a busca por independência são desafios que sempre estiveram presentes na
vida de Amorim. Buscando compartilhar episódios de
sua trajetória, o ex-aprendiz do Ministério Público de
Santa Catarina, com deficiência visual, conta experiências vividas em Florianópolis, cidade onde morou por
seis anos, onde conquistou a sonhada autonomia.
A obra é um relato pessoal do jornalista alagoano que
se mudou para a capital catarinense, em 2014, para morar no alojamento da
Associação Catarinense para Integração do Cego (ACIC). A instituição é referência nacional na luta pela independência das pessoas com deficiência visual.
Escrito em primeira pessoa, com 274 páginas, o livro conta toda a jornada de
Gustavo em solo catarinense, desde a chegada na ilha, as primeiras impressões,
os momentos de medo e insegurança, as conquistas e o início do namoro com a
companheira Esther. O autor também descreve em detalhes o período em que
trabalhou na Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC
A Amante de Proust
Em A Amante de Proust (Ed. Sulina), Gilberto
Schwartsmann faz uma homenagem singular ao francês Marcel Proust, cuja qualidade literária é indiscutível. O romance navega entre o moderno e o imaginário
riquíssimo de Proust, mesclando o perfil da personagem principal com a psicanálise de Freud. A história
percorre o universo amoroso da narradora, recolhida ao
famoso hospital psiquiátrico francês Pitié-Salpêtrière,
aos cuidados do Doutor Palais. A moça, de origem
humilde, teria aprendido o gosto pela literatura “entre
os lençóis”, tendo sido amante de personagens que vão
de André Gidé a André Malraux e Pablo Picasso. Como
resultado, conta a história do seu tempo, avançando
o próprio tempo moral para discutir as suas relações existenciais. Entre ensaio
e romance, com um texto primoroso e fluente, A Amante de Proust reconstrói
o cenário intelectual de Paris, ainda capital cultural do mundo, das primeiras
décadas do século XX.
Gilberto Schwartsmann é oncologista, professor titular da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), membro da Academia
Nacional de Medicina e da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, além
de membro honorário da Real Academia de Medicina da Espanha. Preside
a Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, a Associação de Amigos do
Theatro São Pedro e da Biblioteca Pública do RS.