
Janeiro - 2023 - Edição 287
Oratório Poético
A coletânea Oratório Poético (Fortaleza, 2022), fruto da
parceria do Instituto Horácio Dídimo de Arte, Cultura e
Espiritualidade com a Academia Brasileira de Hagiologia
contempla santos canonizados, beatos, servos de Deus e
pessoas com fama de santidade. São mais de 80 poetas reunidos que, por intermédio de seus versos inspirados – em
escritas de tom hagiográficos – levam o leitor à sensação de
transcendência, ao final das 140 páginas da obra. Como afirma o poeta Bruno Paulino, no posfácio: “Ao ler cada um dos
poemas é como se tivéssemos frente a frente com os santos,
numa conversa intimista, repleta de ensinamentos divinos,
venerando-os. É quase uma conversa ao pé do ouvido – em
que podemos sentir, de novo e fortemente, a intercessão do
sagrado em nossa vida.”
A coletânea, organizada pelo escritor Luciano Dídimo, com a colaboração de José
Luís Lira (Fundador e Presidente de Honra da Academia Brasileira de Hagiologia),
tem ilustrações de Henrique Rezende. Lira, autor do prefácio, cita Sua Santidade o
Papa Bento XVI para resumir a proposta da coletânea: “Na comunhão dos Santos,
canonizados ou não, que a Igreja vive graças a Cristo em todos os seus membros, nos
beneficiamos da sua presença e da sua companhia e cultivamos a firme esperança de
poder imitar o seu caminho e partilhar um dia a mesma vida bem-aventurada, a vida
eterna.”
Depois de Tudo
Depois de tudo (Ed. 7 Letras, 2022), quinto livro do escritor Jairo Carmo, reúne 14 estórias que, juntas, atestam a
vocação do autor à concisão narrativa – uma das marcas
do conto.
A soma das qualidades literárias do bem elaborado texto
resulta, como observa Jonatan Silva na orelha, num “livro
esculpido” por aquele que é um “escritor-artesão”. Com
a mesma maestria com que fabula, Carmo experimenta
diferentes formas de narrativas. Da mesma forma com que
mistura invenção e memória nos dois contos que abrem a
coletânea, no texto seguinte, a trama fica no limiar entre a
ficção e a crônica.
Jairo Carmo nasceu em Monte Alegre (PA), em 1953. Dedicou-se à advocacia e à
magistratura, tendo sido juiz de Direito no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
É membro da Academia Brasileira de Letras da Magistratura (ABLM) e professor de
Direito Civil. Estreou na literatura com Balaio de Dois (Imprimatur, 2013). É autor de:
Amores Subversivos (2014), Histórias Inverossímeis (2015), O Cão do Teu Olhar (2018)
e Depois de Tudo (2022), todos editados pela 7 Letras. Foi premiado pela Academia
Paraense de Letras pelo texto teatral Nu e o conto Abaporu, do seu novo livro, foi laureado pela Academia Fluminense de Letras (AFL).
Apenas um Subversivo
Em Apenas um Subversivo (Ed. Record, 2022), Dias Gomes
apresenta seu lado família, sua relação com a política,
sua vida nos bastidores do teatro, do rádio e da televisão.
Narra desde os tempos da Bahia, sua terra natal, a vinda
para o Rio de Janeiro, a temporada em São Paulo, passando pela ditadura militar e os anos subsequentes. Conta
detalhes da proibição da novela Roque Santeiro em 1975,
que só seria exibida em nova versão dez anos depois. E
narra episódios particularmente duros, como a perda do
filho.
Marcado pelo humor e pela ironia, a obra tem um tom
descontraído. O título foi dado em referência irônica ao
xingamento recebido quando sua peça O berço do herói
foi censurada por Carlos Lacerda, em 1965, por pressão dos militares. Dias Gomes
revolucionou o teatro brasileiro, mesclando o cotidiano da classe trabalhadora, seus
dramas, suas lutas com tramas fantásticas. Autor de personagens plurais e que abordavam o contexto político e social da época, ele fez de seus textos armas poderosas.
Apenas um subversivo tem texto de orelha da jornalista e mestre em comunicação
pela USP Laura Mattos, autora de Herói Mutilado: Roque Santeiro e os bastidores da
censura à TV na ditadura

Kikando na maturidade
Um guia prático para o “susto” do
envelhecimento: assim é definido o
livro Kikando na maturidade – Uma
senhora mudança (Editora Lacre, 2022), da jornalista Kika
Gama Lobo.
Apresentado pela escritora gaúcha Martha Medeiros, a
publicação, com 92 páginas, traz fotos estilo portrait e
capítulos com depoimentos de especialistas. Sexo grisalho,
doença dos genitores, ninho vazio, perrengue com boletos,
falta de trabalho, saúde mental, espiritualidade tardia: todos
assuntos-tabus pouco explorados,estãonarrados em primeira pessoa.
“Minha ideia sempre foi compartilhar os meus acertos,
depois que eu entendi que não ia morrer de câncer. O Kikando na maturidade é uma
espécie de amuleto positivo para os meus pares. Mulheres 35+, que querem entender
como será a maturidade, e as mais velhas, como eu, que já chegaram lá, mas precisam
ressignificar seu caminhar. Tudo com humor, afinal, de gangorra eu entendo”, afirmou
a autora, no lançamento.
O livro surgiu depois de dramas pessoais: câncer, quimioterapia, separação, filhas
adolescentes, menopausa e outras adversidades. Com humor irônico e inteligente,
chamou a atenção, nas redes sociais, ao falar dessa vida nada glamurosa do seu cotidiano. Na contramão do glamour que os internautas exibem, logo tornou-se uma
‘influencer ageless’ de sucesso.
Kika Gama Lobo, 58 anos, é jornalista, youtuber, criadora da plataforma #Atitude50,
colunista da revista Claudia e do site paulista Inconformidades
Voragem – redemoinhos da vida
Voragem – Redemoinhos da vida (Editora Batel, 2022), novo
livro de Yvonne Bezerra de Mello, suscita discussões acerca das mudanças de comportamento e de pensamento. A
principal personagem, Regina, é uma mulher acomodada
num casamento insatisfatório e na rotina sem sobressaltos
do trabalho, até descobrir a homossexualidade do marido.
Um dos significados de voragem é o de destruir com violência. Outro é o de tragar, no sentido de tirar algo do lugar.
O livro é prefaciado pela professora e musicista Regina
Leitão de Sá, tem a quarta-capa assinada pelo professor
Carlos Eduardo Nunes-Ferreira, da UFRJ, e traz, na orelha,
texto de Luciana Campos Ramos Martha, presidente do
Projeto Uerê, criado por Yvonne no Complexo da Maré.
Yvonne Bezerra de Mello é graduada em Linguística pela Sorbonne, em Paris, especialista em Políticas Públicas pela UFRJ, mestre em Administração pelo Isla, em Lisboa,
e Doutora Honoris Causa pela Universidade de Chicago. Dedica-se, desde 1998, ao
Projeto Uerê, ONG que atua no Complexo da Maré, e cuja metodologia de ensino é
reconhecida mundialmente e adotada em países que passam por conflitos armados.
Na literatura, transita entre a escrita técnico-pedagógica e a ficção, tendo, publicado
romances, crônicas e livros infantis. Seu livro “As ovelhas desgarradas e seus algozes”
ganhou, em 1994, o Prêmio Jabuti.
O Último Romance de Proust
O Último Romance de Proust (Ed. Ibis Libris, 2022), romance
histórico de Cláudio Aguiar, baseado em fatos reais, é uma
homenagem do autor a Marcel Proust no centenário de seu
falecimento.
Já doente dos pulmões, sem condições de escrever, Marcel
Proust (1871-1922) teria ditado os três últimos volumes de
Em Busca do Tempo Perdido ao seu amante Henri Rochat.
Na trama quase policial, situada em 1972, toda a ação se
passa entre o sábado gordo e a quarta-feira de Cinzas. Em
meio ao desfile dos blocos e à luxuriante folia, os personagens se envolvem com pistas falsas, correrias e até um
sequestro. Para além de uma obra de entretenimento, a obra
ficcionaliza um episódio pouco conhecido da história da literatura: como a obra de
Marcel Proust chegou ao Brasil e como aqui se tornou conhecida.
Cláudio Aguiar nasceu no Ceará, em 1944, mas aos 14 anos mudou-se com a família para Pernambuco. Desde 1994, divide-se entre Rio de Janeiro e Recife. Publicou
mais de 30 livros, entre romances, ensaios, teatro e poesia. Com Francisco Julião,
uma Biografia (Ed. Civilização Brasileira) conquistou o Prêmio Jabuti 2015. Membro
da Academia Pernambucana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB), Academia Carioca de Letras e PEN Clube do Brasil.