Setembro - 2022 - Edição 283
Saudade Não Viaja Bem
Saudade não viaja bem, romance de estreia da escritora
e jornalista Lu Lacerda (Ed. Record), vendeu quase 500
exemplares na noite de autógrafos. Tecelã atenta de uma
arte cujo instrumento é a palavra, Lu Lacerda forma, com
elas, o sustento de sua envolvente narrativa. Observadora
perspicaz, craque em captar as sutilezas das pessoas no
cotidiano, a autora nos oferece uma trama madura, difícil de
caracterizar como “estreante”. Como afirma o editor Rodrigo
Lacerda, na orelha da obra: “Há uma grande elaboração
pregressa, afinal, escrever não é apenas uma questão da
técnica literária, é também um processo de amadurecimento
pessoal.”
A história da protagonista Maria Clara expõe sentimentos
densos, resultando numa obra firme, em que as palavras
surgem como potência. Dividido em 63 capítulos, o livro surpreende pela prosa ao
mesmo tempo crua e lírica, que nos toca com a intimidade própria da Literatura maiúscula.
A voz que nos fala vem de dentro de cada frase, sem máscaras, sem temor. Sua
independência se faz mais forte pela escolha da trama. Corajosa, porém, sem o ranço
da pieguice. Os assuntos narrados são desencadeados de forma harmônica, dando ao
leitor a compreensão sublime do que há de mais evocativo nas lembranças.
Colunista e editora do blog www.lulacerda.com.br, a baiana (radicada no Rio) Lu
Lacerda é jornalista formada pela Faculdade da Cidade, em 1994.
Navalhas Pendentes
No romance Navalhas Pendentes (Grupo Editorial
Caravana, 2021), Paulo Ronsenbaum apresenta uma hipótese ficcional criativa e envolvente para o lançamento de
“best-sellers”.
Na trama, desenvolvida ao longo de mais de 300 páginas
e 13 capítulos, uma editora fictícia se destaca no mercado
por sua enorme capacidade de publicar livros campeões
de vendas. Na orelha da obra, Lyslei Nascimento afirma: “O
narrador parece viver em um pesadelo, como nos enredos
de Kafka, engendrado por um escritor que cria labirintos
com inúmeras entradas e algumas saídas, todas inacessíveis.”
Médico e escritor, Paulo Rosenbaum nasceu em São Paulo,
em 1959. Possui graduação em Medicina pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP-1986), mestrado em Medicina Preventiva,
pela USP (1999), doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo (2005) e
pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (2010). Com mais de uma dezena
de livros publicados, escreve, regularmente, para o jornal Estado de São Paulo, no
blog Conto de notícia. Roteirista e produtor de documentários, atuou como editor
de revistas científicas no campo da saúde. É pesquisador na área de clínica médica,
semiologia clínica, relação médico-paciente, prevenção e promoção da saúde e pesquisa de medicamentos. Além de ensaísta, é poeta, contista e romancista. Entre os
títulos publicados estão A Verdade Lançada ao Solo (Record, 2010) e Céu subterrâneo
(Perspectiva, 2016).
O Intérprete de Borboletas
O Intérprete de Borboletas (Ed. Record, 2022), novo romance
de Sérgio Abranches, com 240 páginas, faz um retrato da
polarização e da intolerância que se infiltrou na sociedade
e nas famílias. Através de relações partidas e emoções à
flor da pele, o livro retrata o tempo presente, e é estruturado a partir de dois núcleos familiares, que se misturam
e ganham companhia de outros personagens. Costurando
toda a violência e a divisão que tomaram conta do país,
está o personagem que dá título ao livro, um ex-preso político que vive recolhido e isolado em um sítio, rodeado de
borboletas, que busca resgatar a capacidade de se conviver
com as diferenças.
Sociólogo, escritor e comentarista da rádio CBN na série
Conversa de Política, Sérgio Abranches nasceu em Curvelo
(MG) e mora no Rio de Janeiro. É autor de No Tempo dos Governantes Incidentais e
Presidencialismo de Coalizão: raízes e evolução do modelo político brasileiro (finalista
do Prêmio Jabuti na categoria Ensaio/Humanidades); dos ensaios A Era do Imprevisto:
A grande transição do século XXI (vencedor do Prêmio Literário Nacional PEN Clube
do Brasil) e Copenhague Antes e Depois (Editora Record), dos romances Que Mistério
Tem Clarice? e O Pelo Negro do Medo (Editora Record), entre outras publicações.
Helô – Diário de uma paixão secreta
Décimo quinto livro do mineiro
Pedro Rogério Moreira, Helô – Diário
de uma paixão secreta (Ed. Topbooks, 2022) fecha a trilogia
iniciada com Memórias da diverticulite (2019) e O livro de
Carlinhos Balzac (2021). As três novelas movem os mesmos
personagens, embora tenham vida própria.
Com uma escrita confessional, que mistura ficção à realidade autobiográfica, a inspiração confessada pelo personagem Toninho é Machado de Assis. Na contracapa, José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) afirma: “O autor
declara que seu livro é uma ‘telenovela das sete’. De fato,
ele aborda o momento grave do Brasil com doses de sexo,
humor, informação e romantismo. Mas o enredo surpreende: o personagem famoso
de Machado de Assis jamais chegaria a tanto em meio à infausta pandemia sanitária,
política e cultural que assola o país. Se a paixão secreta de Toninho foi Helô, suspeito
que a de Pedro Rogério sejam os livros.”
Pedro Rogério Moreira nasceu em Belo Horizonte, em 1946. Começou a vida produtiva como balconista da livraria e editora mais importante de Minas Gerais e uma das
maiores do Brasil – a Itatiaia. Exerceu o Jornalismo diário em São Paulo, Rio e Brasília.
Há 20 anos trabalha no setor de telecomunicações. É membro da Academia Mineira
de Letras.
O Dia Mastroianni
O Dia Mastroianni (Ed. Record), de J.P. Cuenca, retrata os
clichês da geração de jovens dos anos 1990. Ambientado
numa cidade não identificada, mistura de várias cidades do
mundo, entre bebidas e mulheres, os personagens marcam
presença em festas para as quais não foram convidados e
saboreiam os privilégios e as angústias de sua condição existencial. O autor usa artifícios da metalinguagem para criar
uma narrativa questionadora de si mesma. O título faz referência ao ator italiano Marcello Mastroianni, galã que viveu
personagens entre o irônico e o melancólico. Na orelha, o
escritor Paulo Roberto Pires escreve: “O Dia Mastroianni é
também um deboche com a literatura urbana e burguesa à
qual o próprio Cuenca se vinculara em Corpo presente, seu livro de estreia.”
J.P. Cuenca é autor, entre outros, de Descobri que Estava Morto (2016), eleito o melhor
romance do ano pelo Prêmio Literário Biblioteca Nacional e relacionado ao longa-
-metragem A morte de J.P. Cuenca (2015), e Qualquer lugar menos agora (2021). Em
2007, foi selecionado pelo Festival de Hay como um dos 39 jovens autores mais destacados da América Latina e, em 2012, foi incluído pela revista britânica Granta entre
os vinte melhores romancistas brasileiros com menos de 40 anos. Seus livros já foram
traduzidos para oito idiomas.
Edifício Seabra
A obra bilíngue Edifício Seabra/Palais Seabra (Editora
Yvelinédition”) é fruto do trabalho de conclusão do
curso (TCC) em Gestão e Produção Cultural, na FGV,
de Maria Araújo. Com o tema arquitetura e arte eclética, o livro tem como foco o Patrimônio Histórico
Cultural. O prédio é um exemplo do ecletismo arquitetônico, típica do Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XX. A intenção é levar para o leitor um
breve conhecimento daquele período, tornando-o um
expectador de uma sociedade que utilizou de diversos
seguimentos culturais com liberdade de estilos em
suas construções.
O pós-guerra possibilitou a imigração europeia e a modernidade. Artistas e arquitetos
construíram verdadeiras obras de arte, adaptando estilos nas construções, com novos
materiais. Com um viés na urbanização do Rio de Janeiro, a obra oferece belas fotos,
tiradas pelo fotógrafo Márcio Monteiro.
A autora apresenta, ainda, uma breve biografia da família, Grimaldi Seabra, uma das
representantes da classe bem-sucedida dentre os imigrantes europeus, com destaque
para o empresário Nelson Seabra.
Maria Araújo é formada em Desenho de Moda e Indumentária, pela Universidade
Estácio se Sá. Possui Licenciatura Plena nas Artes pela Faculdade Metodista Bennett
e é Pós-Graduada em Gestão e Produção Cultural, pela Fundação Getúlio Vargas. Já
participou de mais de 8 Antologias, no Brasil e no exterior, além de diversas exposições.