Agosto - 2022 - Edição 282

O quarto estava gelado e escuro

O Quarto Estava Gelado e Escuro (Ed. Gryphus, 2022) marca a estreia do jornalista Zé Ronaldo Müller na literatura. Com diálogos ágeis e uma narrativa muito bem elaborada, ao longo de 224 páginas, a obra é ambientada no início dos anos 1980, elencando as peripécias de dois amigos que vivem a transição entre uma adolescência prolongada e a vida adulta, partindo em busca de novas experiências. Nesse percurso, os personagens deslocam-se geograficamente entre dois continentes, numa sucessão frenética de cenas que prendem o leitor do início ao fim. O Quarto Estava Gelado e Escuro poderia ser classificado como um “ride novel”. Nas suas três partes, o enredo se desenvolve em Nova York, no Mediterrâneo, e na Califórnia. Há também um epílogo no qual o narrador-protagonista faz um balanço de suas experiências, e procura solucionar seus impasses existenciais. O livro conta com apresentação de Roberto Ferreira da Rocha, professor do Departamento de Letras da UFRJ e contracapa do poeta e jornalista Christovam de Chevalier. José Ronaldo Müller é jornalista com mais de 15 anos de experiência. Cursou MBA em Film and Television Business na Fundação Getúlio Vargas. Trabalhou com inúmeros colunistas sociais. Há mais de cinco anos seu site www.zeronaldo.com tem conteúdo diversificado e exclusivo.

Gaivotas na selva de neon

Na coletânea Gaivotas na Selva de Neon (Ed. Viseu), José Carlos Dinardo reúne 70 poemas, de épocas distintas. Sem polarização temática, os textos estão dispostos em sequência aleatória. O conjunto manifesta a luta do homem no seu anseio de adaptação aos papéis que representa na vida, tais como se percebe em “Existencial”, onde se lê: “E a vida vai me levando, /À contragosto do meu gosto:/ Por tempo,/ Por crescimento,/Por invento.” Na contracapa do livro, o autor explica: “Assemelha-se, a colocar os poemas como mensagens numa garrafa e lançar ao mar, contendo meus sentimentos, impressões, sonhos e pesadelos, esperando que o leitor ache a garrafa e desfrute do seu conteúdo.” Nascido em 1950, em Rio Claro, no interior do Estado de São Paulo, José Carlos Dinardo passou a infância à beira de uma floresta de eucaliptos. O fascínio pela natureza e pelos animais provém deste cenário: “Neste clima de sonhos, pavimentei o meu caminho”, explica. É graduado em Engenharia de Telecomunicações. Escreve e declama poesias desde o início da década de 1980. Em abril de 2019, publicou o primeiro livro, Caos Estrelado, também pela Editora Viseu. Seis de seus poemas foram publicados na edição 85 da revista digital InComunidade, de Portugal.

Academia Sobralense

No âmbito das comemorações do Centenário da Academia Sobralense de Estudos e Letras, destaca-se a obra Academia Sobralense e a Cadeira de nº 24 (Fortaleza, 2022), de José Luís Lira. Ultrapassando o gênero biográfico, o autor aprofunda-se nas origens da Academia Sobralense de Letras (1922), em sua primeira fase, para atingir a Academia Sobralense de Estudos e Letras (1943), segunda e definitiva fase de sua instituição, como primeira entidade literária sobralense, cuja história é marcada por avanços e recuos. Como resultado, brinda-nos com pesquisas sobre a “Cadeira 24”, por ele ocupada, apresentando biografias do seu patrono, fundador, antecessores e a sua própria. Com um estudo acurado, Lira faz uma retrospectiva histórica elucidativa, com fontes primárias, como Atas, artigos publicados, discursos e documentos, apresentando uma visão contemporânea da ASEL, nascida em Sobral, terra hegemônica de notáveis cearenses. Nascido em Guaraciaba do Norte, no dia 17 de dezembro de 1973, José Luís Araújo Lira é advogado, jornalista, escritor, mestre e doutor em Direito pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora, Argentina, com título de doutor reconhecido no Brasil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2020). É pós-doutor em Direito pela Universidade de Messina, Itália. Fundador da Academia Fortalezense de Letras, entre outras, com 26 livros publicados, é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú.

Apenas um poeta

Apenas um Poeta (Um passeio biográfico pela vida e obra de Gabriel Nascente), publicado pela Editora Kelps (2022), é, como o próprio subtítulo anuncia, uma síntese do registro poético do autor do monumental Ópera dos ausentes. Na introdução, o acadêmico goiano Miguel Jorge destaca o que o autor chama de “duelos com a palavra”: “É bom ouvi-lo em seus brados de alerta! Assim é esse nosso poeta. Sempre com os olhos bem abertos e a mente ágil. Asas abertas para voos vagos, ou para novas conotações de abandono e tristeza, mas sempre com a intensa grandeza de coração.” Na contracapa, Batista Custódio não poupa elogios: “O Gabriel Nascente é nômade onde estiver aqui entre nós. Vive do lado de fora desse mundo. Não mora na pessoa. Habita na alma. Gravita na órbita das ideias e no universo da mente. Viaja na inspiração, põe poemas no coração, brinca com sonhos no passeio dos desejos escondidos no sentimento.” Com o primeiro livro (Os Gatos) publicado aos 16 anos, Gabriel Nascente tem mais de 60 obras. Membro da Academia Goiana de Letras, ganhou vários prêmios literários do país, entre eles, o prêmio nacional de poesia da Academia Brasileira de Letras, por seu livro A Biografia da Cinza.

Viver é uma arte

Na obra Viver é uma Arte: Transformando a dor em palavras (Grupo Editorial Letramento, 2022), a atriz Beth Goulart estreia na literatura, com uma homenageia à mãe, Nicette Bruno. As duas planejaram escrever um livro juntas, em que contariam um pouco da cumplicidade compartilhada na vida no palco. A narrativa começaria com a morte de Paulo Goulart, em 2014, depois de uma luta de quatro anos contra um câncer. Mas 2020 chegou com a inesperada pandemia de Covid-19, e o processo de escrita foi interrompido pela partida de Nicette Bruno, após 21 dias do diagnóstico. O livro teve que esperar o tempo do luto. Com prefácio da acadêmica Nélida Piñon e posfácio da atriz Fernanda Montenegro, a obra relata, em sua primeira parte, as histórias do amor e da arte da família. Depois, a experiência da filha sem a mãe, a dor da perda. Membro da Academia Brasileira de Cultura, ocupando a cadeira de número 22, cujo patrono é sua mãe, Beth Goulart é dramaturga, diretora, cantora, palestrante e premiada atriz de teatro, cinema e televisão. Sua estreia profissional foi na peça Os efeitos dos raios gama sobre as margaridas do campo (1974), que lhe rendeu a indicação ao Prêmio APCA como atriz revelação.

Nebulosa marginal: teoria e clínica

Nebulosa Marginal: Teoria e clínica (INM Editora), organizada pelos psicanalistas Sérgio Gomes e Rosa Lúcia Paiva, reúne 25 ensaios de nomes expressivos da psicanálise e do pensamento contemporâneo. Os textos foram produzidos a partir de ações do “Instituto Nebulosa Marginal (INM)”, durante a pandemia. Entre abril e dezembro de 2020, foram oferecidos, pelo INM, 58 cursos, fora os dois grupos de estudos formados, além de palestras e uma peça teatral, totalizando 1.895 participantes. Uma das propostas do instituto é de jogar luz sobre autores das escolas inglesa e húngara da Psicanálise, muitos não traduzidos para o português. A coletânea, com 447 páginas, é dividida em duas partes. A primeira apresenta textos teóricos e a segunda traz ensaios clínicos. Alguns dos escritos têm como premissa as proposições clínicas de Sándor Ferenczi, além de nomes relevantes do chamado Middle Group da escola inglesa de Psicanálise. Entre outros nomes da contemporaneidade que também norteiam os escritos, estão André Green, René Roussillon, Anne Alvarez, Didier Anzieu e Harold Searles. O Instituto Nebulosa Marginal e a INM Editora resultam da parceria entre os psicanalistas Sérgio Gomes e Rosa Lúcia Paiva, que, em abril de 2020, tiveram a ideia de promover cursos e debates on-line voltados à psicanálise e a áreas congêneres do pensamento.