Fevereiro - 2022 - Edição 276

Geografia das águas

Geografia das Águas e Geopolítica Local: o caso da seca no norte do Estado do Espírito Santo (Brasil) (Editora Dialética, 2022) é resultado da tese de doutorado de Tarcisio José Föeger, na Universidade de Coimbra. Cinco anos e quatrocentas páginas depois, o estudo aborda a questão da seca na região norte do Estado do ES, suas principais características e condições. A obra analisa, de forma crítica, as políticas públicas e os mecanismos de gestão dos recursos hídricos que afetam diferentes setores. Ao interpretar esses movimentos, identificou-se um processo segregatório e seus efeitos sobre parcelas da população local. O estudo indica a necessidade de se trilhar novos caminhos, por meio do aprimoramento das articulações políticas de base, sobretudo das minorias de origem étnica envolvidas no processo. Tarcísio José Föeger é graduado em Geografia pela Universidade Federal do ES, mestre em Políticas Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense, e doutor em Geografia Humana pela Universidade de Coimbra – Portugal. Atuando em diversos órgãos ambientais, foi presidente do Instituto Estadual de Meio Ambiente do ES – IEMA, além de superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Atualmente, é secretário de Meio Ambiente do município de Vitória (ES) e presidente do Comitê de Bacia do Rio Santa Maria da Vitória

Veridianas – o livro de aforismos

Em seu recente lançamento, Veridianas – O livro de aforismos (Editora Serena, 2021) Carlos Nejar, um dos principais nomes da poesia brasileira, reúne pensamentos impactantes, levando ao leitor, de forma intensa, suas percepções sobre o entendimento da vida. Do alto da sabedoria de quem tem sido estudado nas universidades do Brasil e do exterior, traduzido em várias línguas, o escritor gaúcho (indicado ao Nobel de Literatura, em 2019), com imensa capacidade linguística, explicita sentimentos, verdades, angústias e reflexões, proferidos de forma sucinta, fundamento do estilo fragmentário e assistemático na escrita filosófica magistralmente dominada pelo poeta. Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia, Luiz Carlos Verzoni Nejar, nascido em Porto Alegre no dia 11 de janeiro de 1939, construiu obra importante em vários gêneros da literatura, indo da poesia ao romance, teatro, conto, ensaio e literatura infantojuvenil. É considerado um dos 37 escritores-chave do século, entre 300 autores memoráveis, no período compreendido de 1890-1990, segundo ensaio, em livro, do crítico suíço Gustav Siebenmann. Na orelha de Veridianas – O livro de aforismos, Gabriel Chalita ressalta a universalidade do poeta dos pampas: “Nejar é a coerência do homem e da obra. Quem o encontra, encontra a elegância, encontra a generosidade, encontra um operário dos afetos.”

O beijo de Judas

Em O Beijo de Judas e Outros Ensaios de Literatura & Psicanálise (Sarau das Letras Editora, RN, 2019), Vera Lúcia de Oliveira coloca o leitor diante de um seleto elenco de autores, oferecendo-nos as entrelinhas que estão para além da superfície dos textos analisados. Com seu estilo elegante, harmonioso e criativo, na mesma medida da robustez estética, a autora nos entrega um livro “precioso”, como descreve, no prefácio, Danilo Gomes, da Associação Nacional dos Escritores: “Quem entende dessas altas cavalarias e desses abissais mergulhos na alma, na mente e no coração da humanidade é a Dra. Vera Lúcia de Oliveira, que tão bem nos apresenta tesouros da literatura, submetidos a uma leitura psicanalítica, com engenho, arte e extrema sensibilidade.” Ao longo de 148 páginas, com belo projeto gráfico e ilustrações de Augusto Paiva, os ensaios iluminam desde “o mago das palavras” José J. Veiga, passando pelo sul-coreano Kim Young-ha (autor do festejado Flor Negra), Clarice Lispector, Dostoiévski, Silviano Santiago (e seu romance Machado), Elisabeth Roudinesco (e a biografia de Freud), além de Graciliano Ramos e Lúcio Cardoso. A professora Vera Lúcia de Oliveira é formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB), onde se especializou em Literatura Brasileira. Especialista em Teoria Psicanalítica pelo UniCEUB, é membro da Associação Nacional de Escritores e da Academia de Letras do Brasil.

Rubem Braga

O volume Rubem Braga, da coleção “Grandes Nomes do Espírito Santo” (Contexto Editora, 2005), coordenada por Antonio de Pádua Gurgel, homenageia “O poeta da crônica” (assim chamado por José Lins do Rego), por meio de lembranças familiares reunidas pelo sobrinho que mais conviveu com ele, o músico capixaba Afonso Abreu. O resultado é um diálogo intertextual primoroso, com um texto lírico-confessional que encanta e seduz os leitores do início ao fim. Apoiado em algumas das milhares de crônicas, Afonso Abreu teceu comentários sobre o dia a dia do tio, que fazia o papel de pai para ele e seus irmãos. O trabalho é enriquecido com textos de João Moraes e de Cláudio e Álvaro Abreu, irmãos de Afonso. No prefácio, intitulado Rubem Braga, o pai dos cronistas, Francisco Aurélio Ribeiro, da Academia Espírito-santense de Letras, ressalta a importância do maior escritor capixaba de todos os tempos, que viveu de 1913 a 1990: “Chamado por Carlos Drummond de Andrade de ‘Professor de lucidez’, obteve, nacionalmente, uma repercussão jamais obtida por qualquer capixaba, sendo ele mesmo, um homem simples, generoso, provinciano, de Cachoeiro do Itapemirim, a ‘capital secreta do mundo’.” Ao final, um resumo biográfico e a lista dos livros publicados por Rubem Braga, ambos textos organizados pelo filho dele, Roberto Seljam Braga.

Uma missão quase impossível

O livro Uma Missão Quase Impossível! (Do muro que separa, nos EUA, para a muralha verde que une, na África) tem criação, coautoria, roteiro, pesquisa, preparação e revisão da competente Liana Gottlieb. Dedicado ao público infantojuvenil, a caprichada edição da Scortecci (São Paulo, 2021) conta com ilustrações de Giba Cartum e coautoria de Paulo Saldiva (Meio Ambiente) e Pedro Sérgio Pereira (História e Política). Com um toque de literatura mágico-realista, os animais são humanizados com encantamento. Duas borboletas enfrentam os desafios de uma viagem intercontinental, voando pelos ventos do planeta para solucionar oito conflitos. Mesclando ilustrações com textos explicativos, o texto aborda conflitos reais, promovendo paz e tolerância com resolução fantasiosa muito criativa. No prefácio, o acadêmico Arnaldo Niskier exalta o carinho com o qual o livro foi preparado, comparando-o à literatura de Monteiro Lobato. A paulistana Liana Gottlieb é professora titular aposentada da pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

Necrochorume e outros contos

Necrochorume e Outros Contos (7 Letras), quinto livro de João Ximenes Braga, marca a volta do escritor à Literatura, após um hiato de 11 anos – período em que se dedicou à criação audiovisual. Em 30 narrativas distribuídas ao longo de 148 páginas, encontramos personagens vivendo situações ou dilemas conhecidos, refletindo o país atual. A sucessão de retrocessos num país sufocado pela própria decomposição, entregue ao ódio e à intolerância, é muito bem retratada nos textos. Os escritos contrapõem o Brasil de hoje ao das (muitas) referências literárias do autor, que divide seu olhar entre dois países: o idílico e o afogado no próprio necrochorume (líquido que resulta da decomposição dos cadáveres). João Ximenes Braga é escritor, jornalista e roteirista. Estreou na literatura com Porra (Objetiva, 2003), ao qual seguem-se Juízo (7 Letras, 2005), A Mulher que Transou com o Cavalo e Outras Histórias (Língua Geral, 2009) e A Dominatrix Gorda (Rocco, 2010). Colaborou com Gilberto Braga (1945-2021) na criação das novelas Paraíso tropical (2007), Insensato coração (2011), Babilônia (2015) e na inédita Intolerância. A novela Lado a lado (2012), escrita juntamente com Claudia Lage, foi laureada com o Emmy. Nos últimos anos, escreveu os roteiros de três longas em fase de captação de recursos