Janeiro - 2022 - Edição 275
Pescoço
Nos 13 textos reunidos em O Pescoço (7 Letras, 2021), o autor
Thiago Picchi mescla, com liberdade, a escrita ficcional
com outros gêneros literários, permitindo-se experimentações com diferentes formas narrativas. Em Decapitação,
por exemplo, elaborado a partir de um fato ocorrido numa
universidade, é estabelecida uma linha tênue entre o conto e
a crônica. Já em Boxe, cujo personagem central é o pugilista
Deontay Leshun Wilder, o relato oscila entre o perfil jornalístico e a peça de ficção. O mais ousado exemplo é o de Blanka,
não por acaso o conto mais extenso da coletânea, onde Picchi
mescla narrativas fragmentadas que abarcam desde dicas de
modelos de carros SUV, passando por manchetes do noticiário a comentários postados por internautas numa rede social.
Thiago Picchi estreou na literatura com O Papagaio e Outras Músicas (7
Letras, 2005). A ele seguiram-se o romance Os Rumores Imprecisos das Conversas
Alheias (2006), A Arte de Salvar um Casamento (2013) e Neste Livro Cabe uma Baleia
(2015). Textos de O Papagaio e Outras Músicas inspiraram monólogo homônimo,
estrelado por Marcelo Picchi, em 2018. Atualmente, o autor concilia a escrita literária
com a preparação de elenco para séries como Eu, a Vó e a Boi (2019), As filhas de Eva
(2021) e, mais recentemente, à novela Quanto mais vida, melhor!
Um Tempo para Não Esquecer
A pneumologista e pesquisadora da Escola Nacional de
Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Margareth Dalcolmo, referência nacional e internacional no campo da medicina e
uma das principais vozes da ciência no enfrentamento à
Covid-19, lançou Um Tempo para Não Esquecer (2021).
Publicado pela Editora Bazar do Tempo, a obra trata
da visão da ciência no enfrentamento da pandemia do
coronavírus e o futuro da saúde.
Desde o início das contaminações pelo novo coronavírus, a autora acompanhou de perto, como médica e
pesquisadora especializada, as repercussões clínicas, os
efeitos sociais e os esforços da comunidade científica
para encontrar vacinas capazes de conter a vertiginosa
propagação da Covid-19. Tornou-se referência nacional
ao comentar, na grande imprensa, com segurança, lucidez e empatia, os desafios e desdobramentos da pandemia que mudou o curso do
planeta.
Os 81 artigos reunidos na coletânea foram escritos semanalmente para o jornal O
Globo, constituindo uma espécie de diário que documenta a visão da ciência em sua
essencial missão humanista, marcando a história “de um tempo para não esquecer”.
O livro tem prefácio de Domício Proença Filho (ABL), posfácio de J.J. Camargo (ANM)
e textos adicionais de Nísia Trindade Lima (Fiocruz) e da acadêmica Nélida Piñon
(ABL), que agradece a generosidade e o talento da grande cientista, que “traz-nos de
volta os rastros dos saberes acumulados neste livro”.
Caso Henry – Morte anunciada
O livro Caso Henry – Morte anunciada (Editora Máquina
de Livros, 2021) apresenta, com riqueza de detalhes,
os bastidores de um crime que chocou o país no ano
passado. A trama relata o caso do menino Henry Borel,
que chegou à emergência de um hospital do Rio de
Janeiro, sem respirar e com o corpo gelado, levado pela
mãe Monique Medeiros e pelo padrasto, o vereador
Jairinho. A jornalista Paolla Serra jogou luz na história,
com máxima atenção aos detalhes e aos relatos que
colheu durante a cobertura do caso, sempre checando e
rechecando as informações. Sem pré-julgamentos, nem
ter uma visão parcial, como reza a cartilha do jornalismo
investigativo, o resultado é uma narrativa muito bem
alinhavada, com competência e determinação, misturando romances, vaidade, conflitos, dinheiro, poder e,
infelizmente, violência.
Foi da autora Paolla Serra a primeira reportagem na imprensa sobre o caso. A jornalista, que também é advogada, acompanhou cada passo da investigação, fez mais de
200 reportagens nos jornais O Globo e Extra. Para escrever a história, mergulhou em
centenas de documentos, vasculhou redes sociais e teve acesso aos mais de 20 mil
arquivos de texto, áudio e vídeo recuperados nos celulares de Jairinho e Monique.
O Médico que Virou Monstro
O Médico que Virou Monstro
(Máquina de Livros, 2021), de
Patricia Hargreaves, conta a história
de um crime que teve uma enorme repercussão no início
dos anos 2000. O caso do cirurgião Farah Jorge Farah é digno
de Nelson Rodrigues. Foi o primeiro crime no Brasil desvendado graças ao Luminol. O médico teve como pacientes algumas pessoas ilustres, como Dona Marisa Letícia,
mulher do Lula.
Para relembrar o crime: Farah Jorge Farah matou e esquartejou a ex-amante, Maria do Carmo Alves, foi defendido por
Roberto Podval e Antonio Claudio Mariz, dois dos maiores
criminalistas do país, que conseguiram um habeas corpus
assinado por Gilmar Mendes. Catorze anos depois, no dia
em que seria preso, Farah se matou ao som de música clássica, com roupas femininas
e silicone implantado no peito e nos quadris. Ele havia se transformando em mulher.
Num trabalho minucioso, para escrever a obra, a jornalista Patricia Hargreaves se
debruçou sobre as 10.958 páginas do processo, vasculhou documentos e, principalmente, entrevistou parentes, delegados, advogados, legistas e psiquiatras que trabalharam no caso. O resultado é um thriller eletrizante, real, que leva o leitor à cena
do crime, penetra na mente do médico e descreve sua transformação de cirurgião
respeitado em assassino.
Reminiscências
A escolha do título Reminiscências (Ed. Formar, 2021)
não poderia ser mais adequado para apresentar os registros da trajetória de vida da educadora Maria da Penha
Abreu Oliveira. Organizada pela filha Ester Abreu Vieira de
Oliveira, a coletânea reúne 30 textos, incluindo imagens do
arquivo pessoal da família.
Ao passear pelos escritos, alinhavados com prosa lírica e
sensível, obtêm-se o legado precioso de resgate da história
da família Vieira Machado, de grande valor para todos os
muquienses saberem um pouco mais das origens dos primeiros moradores da então São João de Muqui.
No prefácio, Clóvis Abreu Vieira destaca o olhar atento do
mundo que a mãe sempre exerceu: “Nestas reminiscências, ela ressalta as diversas
passagens de sua caminhada pela vida, detalhando o seu cotidiano, tudo como uma
singela lembrança para tocar o coração das pessoas com as quais repartiu a sua convivência.”
A professora e escritora Maria da Penha Abreu Vieira nasceu em Quilombo, distrito
de Alto Carangola (Minas Gerais), no dia 09 de setembro de 1909. Organizadora da
Cruzadinha de São Tarsísio, em Muqui, onde viveu a maior parte da vida, responsabilizou-se pela alfabetização de inúmeras crianças. Autora do livro Retalhos de uma
Vida, colaborou com textos para os jornais A Tribuna e O Jornal de Muqui. Morreu em
Vitória, aos 91 anos
Lembranças de um Tempo que Parou
Na coletânea Lembranças de um Tempo que Parou (Almub,
2021), as organizadoras Meireluce Fernandes da Silva e
Margarida Drumond de Assis reuniram textos produzidos
durante o período de distanciamento social, que obrigou
a humanidade ao isolamento das atividades, no auge da
pandemia de Covid-19.
Os relatos incluem trabalhos acadêmicos e a produção de
amigos convidados, em edição comemorativa ao 45º aniversário da Academia de Letras e Música do Brasil.
Na apresentação, a presidente da Almub, Meireluce
Fernandes, ressalta que o “conhecimento de cada povo, em
todas as esferas, é a chave da paz e do amor, citando os ensinamentos do grande poeta
Fernando Pessoa – “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”: “É com esta fórmula
mágica que nós, poetas, nos reunimos nessa coletânea para compartilhar com os
nossos leitores os lampejos provenientes das nossas almas.”
No prefácio, a diretora de Letras da Almub recomenda a leitura: “Os leitores encontrarão entretenimento, considerando-se a arte e a beleza dos textos, e verão, também, o
retrato de um mundo em situações inusitadas sendo vividas, subitamente.”
Meireluce é paraense, professora, escritora, graduada em Letras, mestre em Ciência
da Informação pela UnB, Doutora “Honoris Causa” pela mesma universidade. A
mineira Margarida Drumond de Assis é escritora, jornalista e professora aposentada,
presidente da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, entre outras instituições.