Março - 2021 - Edição 256

Uma Família Feliz

Uma Famíia Feliz (Editora Formar, 2019) é mais uma produção literária voltada para o público infantil da atual presidente da Academia Espírito-santense de Letras, Ester Abreu Vieira de Oliveira.
Em tradução bilíngue para o Pomerano pela Equipe do Programa de Educação Escolar Pomerana (Proepo), com caprichada direção de arte de Douglas Ramalho, a história da amizade dos franguinhos se passa num sítio de uma vovó, que acompanha o crescimento e as peripécias dos animaizinhos. Com um texto amoroso, entre mensagens de cuidados, inclusão e aceitação das diferenças, nascem oito novos pintinhos, no meio de uma família feliz, formada por um galo preto e uma galinha amarela. Tudo sob o olhar carinhoso de uma vovó risonha. Nota-se que os personagens principais não têm nome: representam arquétipos presentes universalmente, personificando, através de animais, sentimentos mais do que humanos. Observados em todos os grupamentos familiares.
As ilustrações de Jota R. (Wellington J. C. Torres Jr.) alcançam o tom exato da narrativa, acompanhando o ritmo, a leveza e o colorido do texto, valorizando cada passagem da história. Ester Abreu Vieira de Oliveira percorreu todas as escalas do magistério. Foi professora primária, secundária e de cursos superiores. Professora Emérita da UFES, é doutora em Letras Neolatinas (UFRJ), pós-doutora em Filologia Espanhola (UNED-Madri), mestre em Letras-Português (PUC-Paraná).
Com mais de 50 livros publicados, recebeu diversos prêmios acadêmicos. Além de ser a atual presidente da Academia Espírito-santense de Letras, é membro, entre outras instituições, da Academia Feminina Espírito-santense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.

Canção da vida

Na apresentação do livro Canção da Vida (Leya, 2020), Gabriel Chalita antecipa o que o leitor vai encontrar nas 144 páginas que se seguem: “Aqui estão alguns poemas criados em momentos diferentes da minha vida. E frases anotadas nos rascunhos dos meus sentimentos.” Com a liberdade da prosa, tecendo com delicadeza seus versos, dominando a concisão dos aforismos, nada escapa à completude de um poeta maduro e sensível, que nos brinda com sua escuta generosa da vida.
Na orelha da obra, a afirmação consistente de que “Chalita nos ensina que as palavras de um único homem podem encontrar maneiras pungentes de dizer, a muitas pessoas, o que realmente importa”. Com capa, projeto gráfico e diagramação de Kelson Spalato, a publicação exibe encanto, em todos os cantos, como afirma o quinto poema Em cada canto: “Essa é a minha história./Uma história de um amor feito canto, em todos os cantos.” Da Canção honesta (a primeira), o autor avança pelas Palavras, com Fartura, Um olhar, Paixão, Cansaço, Para os que virão, passando pela Triste herança, O espelho, Mãe, Esperança, Timidez, Olhares chegando à Pausa, entre tantos outros escritos que carregam, em comum, a extrema sensibilidade.
Além de apresentar um ritmo fácil, os textos, líricos por excelência, acompanham o tempo, ligando, com o fio mágico de sua poesia, o passado, o presente e o futuro. Gabriel Chalita é membro da Academia Brasileira de Educação e da Academia Paulista de Letras. Publicou mais de 90 livros, entre eles, A Ética do Rei Menino, O Pequeno Filósofo, Pedagogia do Amor e Os Dez Mandamentos da Ética. Professor, fez dois doutorados – em Comunicação e Semiótica e em Direito – e dois mestrados – em Sociologia Política e em Filosofia do Direito.

Sinapses Afetivas

Ao longo da vida, o renomado neurologista Sergio Novis observou o mundo ao redor, registrando suas impressões e sentimentos.
O resultado das recordações coletadas desde a infância, no então bucólico bairro do Cosme Velho, onde nasceu, até o ano da pandemia que assolou o planeta, está na obra Sinapses Afetivas (2020).
Com um texto fluido e pleno domínio da linguagem, a narrativa é dividida em 16 partes, fragmentadas em 73 capítulos. Ao longo de 280 páginas, a obra oferece imagens de arquivo pessoal, ilustrando crônicas sobre diversas fases, apresentando um panorama não sobre doenças, tratamentos ou terapias, mas, principalmente, sobre emoções que acompanharam a trajetória do autor “dos oito aos oitenta”.
No prefácio, seu confrade na Academia Nacional de Medicina, JJ Camargo, recomenda, fortemente, a leitura, destacando a sabedoria do mestre, definindo-o como uma marca, uma grife de luxo: “Os que se acercam se dão conta de que tudo nele impressiona pela naturalidade da grandeza.” Membro de uma família que há seis gerações dedica-se à medicina, Sergio Augusto Pereira Novis nasceu no Rio de Janeiro, em 16 de maio de 1940. Graduou-se em 1963, pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (atual UNIRIO). Entre outros títulos, é Professor Emérito da UFRJ, Membro Fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina – Capítulo do RJ, Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia, da Academia Nacional de Medicina, da American Academy of Neurology e da Societé Française de Neurologie.

O boi zebu e as formigas

O Boi Zebu e as Formigas (Belo Horizonte, 2020) é a edição comemorativa dos 18 anos do evento Livro de Graça na Praça.
A coletânea reúne 18 contos e sete poesias, totalizando obras de 25 autores. Entre as poesias, a do cearense Patativa do Assaré (1909-2002) dá nome ao título, narrando a história de um boi que foi dormir à sombra de um “juazêro”. O ruminante “firmou as quatro pata em riba de um formiguêro”. Unidas, as formigas saem em defesa de seu território, numa prova incontestável de que a união faz a força.
O projeto Concurso Nacional de Contos Livro de Graça na Praça conta com a participação de vários autores estreantes, além de acadêmicos e escritores consagrados, como Affonso Romano de Sant’Anna, Frei Betto, Thiago de Mello, Márcio de Souza, Olavo Romano, Ronaldo Simões e Fábio Lucas, entre outros. Este ano, Alvarenga Peixoto, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Gonçalves Dias, Gregório de Matos, Lamartine Babo, Luciano Carneiro e o presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Farias Tavares, estão entre os autores.
No prefácio, Arthur Vianna destaca o compromisso do projeto: “Para todos nós, o único compromisso do Livro de Graça na Praça é com o desenvolvimento da Educação por intermédio da escrita e da leitura.” De acordo com as recomendações de distanciamento social impostas pela crise do Covid-19, e até que se torne possível reunir novamente na praça, o Livro de Graça na Praça criou uma praça virtual para que o livro seja distribuído, gratuitamente, em PDF, no blog do evento (livrodegracanapraca.blogspot.com).

A finitude é uma incógnita

Este é o primeiro livro da carioca Rose Pinheiro. A Finitude é uma Incógnita (Ed. Autografia, 2020) foi escrito em tom de desabafo, depois de um período crítico de sua história. A autora enfrentou turbulências no casamento que a fez refletir sobre sua própria condição humana.
Apesar de a temática ser a separação conjugal e as crises dela decorrentes, passando por caminhos tortuosos e tempos sombrios, a narrativa delicada expõe sentimentos universais, resultando numa obra firme, em que as palavras surgem como potência para demonstrar a incrível força de superação dos obstáculos que vão surgindo.
Dividido em 14 capítulos, o livro surpreende pela prosa ao mesmo tempo humana e lírica, que nos toca com a intimidade própria dos poetas. A voz que nos fala vem de dentro de cada palavra selecionada, sem máscaras, sem temor. Sua independência se faz mais forte pela escolha do tema.
Corajosa, porém, sem o ranço do rancor. Os assuntos narrados são desencadeados de forma harmônica, dando ao leitor a compreensão do que há de evocativo nas lembranças. No final desse passeio interior, a autora nos leva a refletir sobre as escolhas e a capacidade humana de superação, ligando, com a firmeza delicada de sua narrativa, o passado ao futuro.
A professora, pedagoga e pianista Rose Pinheiro carrega um nome floral. Sugestivamente, trata as palavras como um jardineiro cuida de flores. Desde 2019, participa de um projeto social para levar a música às sociedades carentes e participa de uma banda pop como tecladista. Trabalhou em escolas como regente de corais e, atualmente, dedica-se à sua nova descoberta como escritora.

Contos e Descontos

Contos e Descontos (Editora Loope, 2020), de Antenor Barros Leal, recebeu do autor uma definição inédita: “Esse é um livro de permissão criativa.” A coletânea reúne 84 textos, distribuídos ao longo de 192 páginas. Não se trata de uma obra autobiográfica, com fotos de parentes ou das inúmeras medalhas, títulos e condecorações que colecionou ao longo do tempo. A exceção foi feita, somente, para falar dos pais, D. Amélia e Seu Antenor, com o artigo “Dos meus pais”, ilustrado com fotos, ocupando as orelhas.
Os artigos que chamou de “Contos” não têm datas e tratam de viagens imaginárias – dele e de outros. Já os “Descontos” traduzem ideias e pensamentos sobre o cotidiano. Com o domínio de uma escrita clara, sensível e densa, na mesma medida, os textos denotam uma vivência repleta de erudição e encantamento com o mundo.
Antenor Barros Leal é formado em Direito, mas sempre atuou na atividade industrial. Foi presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), presidente do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE/RIO), vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), presidente do Sindicato dos Moinhos de Trigo dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás e membro do Conselho de Curadores da Fundação do Câncer.
Condecorado com a Medalha de Honra das Três Forças, já realizou inúmeras palestras no Brasil, Canadá, Estados Unidos, Argentina, Inglaterra, Peru, Chile e Alemanha. É autor de inúmeros artigos, publicados nos principais jornais do país.