Fevereiro - 2021 - Edição 264

Relações Tardias

Em Relações Tardias (Ed. Batel, 2020), Yvonne Bezerra de Mello relata, em seu oitavo livro, não apenas as experiências de sua viuvez, após 30 anos de um casamento feliz com o empresário Álvaro Bezerra de Mello. A autora entrevistou 100 mulheres acima dos 60 anos, de diferentes classes sociais. O resultado é uma narrativa tocante, capaz de cativar qualquer tipo de leitor. Ao longo de 176 páginas, Yvonne revisita e expõe, sem poupar a si própria, feridas hoje cicatrizadas. O tom da obra é o de uma conversa franca. Prefaciado pela jornalista e escritora Ana Arruda Callado, o livro tem a orelha assinada pela jornalista Anna Ramalho, que recomenda a leitura: “Yvonne é danada: tão boa para contar uma história que estou quase me animando a entrar numa relação tardia. O livro é cheio de lições e boas reflexões. E é multiuso: não importa se solteira, casada, divorciada ou viúva, vale muito a leitura.” Estruturado em dez capítulos, cada um deles tem um tema a ser explorado. Os relatos pessoais encontram eco nos dados obtidos nas entrevistas e são fundamentados por palavras de autores universais, muitos deles poetas, como Fernando Pessoa ou Pablo Neruda. Um dos últimos autores evocados é Carlos Drummond de Andrade: “Amor é privilégio de maduros.” Yvonne Bezerra de Mello é formada em Filosofia e Linguística pela Universidade Sorbonne de Paris, especialista em Políticas Públicas pela UFRJ e mestre em Administração pelo Isla, em Lisboa. É também doutora Honoris Causa pela Universidade de Chicago. Ganhou inúmeros prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Nacional de Direitos Humanos no Brasil. Membro do Pen Club do Brasil, é autora de vários livros técnicos de educação, infantis, romance e crônicas. Entre eles, o ganhador do Prêmio Jabuti, de 1994, As Ovelhas Desgarradas e Seus Algozes.

Memórias de Filhos de Exilados Políticos

O livro Memórias de Filhos de Exilados Políticos (Ed. Mourthé, 2020), como revela o próprio título, reúne relatos de brasileiros que passaram pela singular experiência de serem filhos de exilados políticos, revelando memórias afetivas de quem nasceu e/ou cresceu em terra estrangeira, em condições atípicas. Ora poético, ora jornalístico, os relatos de adultos que tiveram a convivência e o aprendizado vindo de pais que dedicaram a vida na luta por um ideal são diversificados. No prefácio, os organizadores da obra, Bayard Do Coutto Boiteux e Vanuza Campos Postigo (também autores), explicam os pontos que unificam a coletânea: “Como um mosaico, um vitral, uma bela colagem, juntamos esses pedacinhos de histórias que tecem uma bela trama, uma bela imagem. Com precisão de detalhes ou intensidade de afeto, cada relato tem o jeito e o ponto de vista de cada sujeito, enriquecendo e diversificando a composição do texto. O que todos temos em comum é sermos filhos de pessoas preocupadas com a democracia, a ética, a justiça, o coletivo.” Bayard Do Coutto Boiteux é filho do professor Bayard Demaria Boiteux [presidente da seção carioca do Partido Socialista Brasileiro (PSB) quando eclodiu o movimento político-militar de março de 1964]. Autor de vários livros, é professor universitário, escritor, pesquisador e funcionário público, além de voluntário do Instituto Preservale e da Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ. Vanuza Monteiro Campos Postigo é psicóloga clínica (PUC-Rio), mestre em Psicologia pela UFRJ, doutora em Teoria Psicanalítica (UFRJ), fundadora e coordenadora do Instituto de Capacitação e Aperfeiçoamento Profissional e coordenadora da consultoria Família no Mundo Digital. Filha de Altair Lucchesi Campos, capitão do Exército, exilado em 1970, na Argélia, na África.

A Gramática no Brasil

Através dos estudos publicados na obra A Gramática no Brasil: ideias, percursos e parâmetros (Ed. Lexikon, 2014), Ricardo Cavaliere visa a contribuir com os esforços que se implementam para o desenvolvimento dos estudos linguístico-historiográficos, tornando a Historiografia da Linguística uma disciplina mais presente na formação dos linguistas brasileiros. Trata-se de uma obra que interessa a todos que se dedicam ao estudo linguístico e desejam ter uma visão panorâmica das fases em que se desenvolveu e estabeleceu o pensamento gramatical ao longo dos séculos XIX e XX no Brasil. Em suas 176 páginas, encontram-se, também, estudos específicos sobre a influência doutrinária estrangeira na Linguística brasileira, bem como os principais autores e obras que atuam decisivamente na construção de seu ideário. Na orelha, o acadêmico Evanildo Bechara, apontado como o maior especialista em Língua Portuguesa do país, afirma: “Os estudos aqui reunidos trazem muita luz para melhor compreensão dos cânones mais afastados de nós, a iluminar melhor os modelos e os procedimentos adotados.” Ricardo Cavaliere é professor associado da Universidade Federal Fluminense, atuando nos cursos de graduação e pós-graduação em Letras. Doutor em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), é membro da Academia Brasileira de Filologia, conselheiro do Real Gabinete Português de Leitura e Grande Benemérito e Conselheiro do Liceu Literário Português. Atualmente, é editor da revista Confluência, coordenador do GT de Historiografia da Linguística Brasileira da Anpoll e membro de várias associações científicas vinculadas aos estudos linguísticos.

Cidade Cerzida

Em Cidade Cerzida – a costura da cidadania do Morro Santa Marta (Ed. PUC-Rio: Pallas, 2012), Adair Rocha fala sobre a relação entre asfalto e favela sob a ótica dessa comunidade, ajudando a desmistificar o estereótipo de lugar de violência, criminalidade e tráfico de drogas. Por meio de entrevistas, pesquisas e amparado por uma convivência de mais de 15 anos com moradores do local, o autor mostra como a comunidade vê e intervém na realidade, o papel fundamental desempenhado pelos ativistas na promoção da cidadania no morro e o impacto da implantação da Primeira Unidade de Polícia Pacificadora da cidade. A primeira comunidade pacificada na cidade, hoje conta com um grande fluxo de turistas e com a presença de várias instâncias do poder público, ausentes de lá há décadas. Em sua terceira edição, revista e ampliada, a obra tem prólogo de Itamar Silva, que afirma: “É preciso se restabelecer os conceitos e avançar na afirmação de que não se cresce com a negação do outro, que a cidade é o espaço privilegiado do encontro, e que a cidadania se constrói no respeito às diferenças, na busca de superação das desigualdades e na incorporação do outro como possibilidade de convivência.” O prefácio, assinado por J. Sérgio Leite Lopes, ressalta a importância da reflexão trazida pela obra, no momento em que é sentido como “fundamental para o desenvolvimento democrático da cidade o encaminhamento de soluções para a melhoria das condições de vida materiais simbólicas e de acesso à educação das populações residentes nas favelas.” Adair Rocha, nascido em Pouso Alegre, em 1950, é pós-doutor em Comunicação pela UFRJ. Professor adjunto na PUC-Rio e na UERJ, ambas no Departamento de Comunicação Social, é fundador do Núcleo de Comunicação Comunitária da PUC-Rio. Autor de vários artigos publicados em revistas e jornais, além de capítulos de livros nas áreas de comunicação, cultura e movimentos sociais.

Leque Aberto

Na coletânea Leque Aberto (Editora Penalux, 2020), Raquel Naveira reúne 39 crônicas intimistas, divididas em seis capítulos somados ao epílogo. Envoltas em brisa poética, reminiscências, lembranças e imagens vão sendo “espalhados pelo leque aberto” pela autora, formando um inventário simbólico através da intercessão de fatos reais com a imaginação literária de Raquel Naveira. No prefácio, a Semioticista e crítica de arte Rita de Cássia Limberti afirma: “Olhando para sua própria imagem, que o traiçoeiro reflexo apresenta menor e invertida, a personagem assume a poetisa, a escritora, a intelectual atenta e antenada ao seu tempo, a despeito da necessidade do amparo indispensável e impreciso das digressões e da herança ancestral.” Raquel Naveira nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no dia 23 de setembro de 1957. Formou-se em Direito e em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB/MS), onde exerceu o magistério superior, de 1987 a 2006. Doutora em Língua e Literatura Francesas pela Universidade de Nancy, França. Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP, é diretora da União Brasileira de Escritores/Seção SP; pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, à Academia Cristã de Letras de São Paulo e ao Pen Clube do Brasil. É autora de vários livros publicados, entre eles Abadia (Imago, 1996) e Casa de Tecla (Escrituras, 1999), finalistas do Prêmio Jabuti de Poesia, da CBL.

Sobre Ela

Com um olhar multidisciplinar sobre o tema, a obra Sobre Ela: uma história de violência (Ed. Gryphus, 2020), de Wagner Cinelli de Paula Freitas, trata da violência doméstica contra a mulher. Com especial atenção à cultura, a narrativa expõe, ao longo de 158 páginas, a desigualdade de gênero que marca as sociedades, abordando a evolução legislativa, incluindo programas e políticas públicas desenvolvidas no país. A abordagem interdisciplinar, com domínio e equilíbrio da linguagem, sem focar apenas no contexto jurídico, proporciona, através da clareza na escrita, uma leitura agradável e interessante, com firmeza e sensibilidade na mesma medida. O prefácio, assinado pela juíza e escritora Andréa Pachá, realça a inquietação genuína e o olhar íntegro do autor, que se alia a todas as mulheres na repulsa à violência irracional e ao machismo, lembrando a todos que não se pode naturalizar a violência contra a mulher a pretexto de compreendê-la como estrutural: “É preciso entender a violência. Transformá-la em texto. Transformá-la em música e clipe musical. Transformá-la em memória e em história. Para que não seja repetida e perpetuada.” A inspiração para o livro do desembargador Wagner Cinelli, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, foi o roteiro do curta-metragem de animação “About Her (Sobre Ela)”, que ele escreveu e dirigiu. Membro do Fórum Permanente de Antropologia e Sociologia Jurídica da EMERJ, mestre em “Criminal Justice Policy” pela LSE (Reino Unido), graduado em Direito pela UFRJ e em Ciências Sociais pela UERJ, Cinelli é autor da obra Espaço Urbano e Criminalidade: lições da Escola de Chicago, vencedora do VI Concurso de Monografias Jurídicas. Além da bem-sucedida carreira na magistratura, é também compositor e instrumentista. Estudou piano e violão, produziu o vinil do grupo “Hein?” (1984), lançou o CD autoral Wagner Cinelli Instrumental (2004), o DVD Caminhos (2011) e o CD livro Shalom Salam (2012).