Dezembro - 2020 - Edição 262

Dicas do Rio de Janeiro

A antologia Dicas do Rio de Janeiro (Editora CRV, Curitiba 2020), organizada por Ana Cristina Rosado e Bayard Do Couto Boiteux, reúne 45 textos de membros da Associação dos Embaixadores do Turismo do Rio de Janeiro. Os relatos apontam não só para locais de visitação turística, como, principalmente, para experiências em torno da diversidade turística e cultural carioca, envolvendo os afetos, prazeres e admiração dos autores pelos caminhos de um Rio de encantamento, que não se descreve: se inscreve no imaginário de todos. Na introdução, o objetivo dos organizadores é apontado: “O estado do Rio de Janeiro é um conjunto de cidades maravilhosas, já dizia Elysio Pires quando foi Secretário de Estado de Turismo.
Ao compilar várias experiências e relatos num livro, procuramos apresentar ao leitor não só a oferta turística e cultural, mas alguns cases de sucesso que podem servir de benchmarking. Nesta obra, idealizada pela Associação dos Embaixadores do Rio, esperamos que você fique atraído por outras opções de comercialização do local e entenda a riqueza das convencionais. Desejamos, também, uma ótima viagem dentro do estado e que a alegria dos textos o contagie para descobrir novas vertentes de prazer e emoção.
” Os textos dos 45 autores, assim como os cantos e encantos do Rio, são bastante variados, passeando desde Bangu, Barra da Tijuca, Ilha da Gigoia, Penhasco Dois Irmãos, Pico da Tijuca, passando por Ipanema, Copacabana, Catete, Largo do Boticário, Corcovado, Cristo Redentor, Theatro Municipal, Região portuária, seguindo por Paraty, Niterói, Búzios, Campos, Vale do Café, Valença e tantas outras trilhas, preciosidades, cantos e encantos do Estado. Ana Cristina Rosado e Bayard do Couto Boiteux são professores universitários. Jornalista, Ana Cristina é assessora de imprensa da Auddas, da Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio e do Instituto Preservale. Além de escritor, com 37 livros publicados, Bayard Boiteux é voluntário do Instituto Preservale e vice-presidente executivo da Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio, entre outras ocupações.

Samuel Wainer – o homem que estava lá

Um dos mais influentes e poderosos personagens brasileiros do século XX é retratado na obra Samuel Wainer: o homem que estava lá (Companhia das Letras, 2020), de Karla Monteiro. Com amparo em dezenas de entrevistas e algumas fontes inéditas, a jornalista mineira equilibrou as ambivalências do seu biografado, num trabalho de fôlego que resultou numa engenhosa narrativa. Na consistente pesquisa, ao longo de 584 páginas, ilustradas com fotos históricas, é traçada, sem benevolência no relato, a trajetória de Samuel Wainer (1912-1980) e de sua conturbada carreira à frente do jornal Última Hora.
A obra descreve, com riqueza de detalhes, decisões impiedosas, ações interesseiras, frieza e vaidade. Defeitos que, tanto quanto as virtudes, dão consistência humana ao personagem. Wainer foi dos maiores nomes da imprensa brasileira de todos os tempos. Fundador da cadeia de jornais UH, transformou a indústria da notícia no país.
Professando a crença de que a imprensa deveria ter lado – no seu caso, o do trabalhismo –, enfrentou inimigos poderosos num contexto de extrema polarização ideológica, mas também foi amigo íntimo de presidentes, generais, ministros e empresários, relações das quais sempre tirou proveito. Karla Monteiro nasceu em Diamantina, Minas Gerais. Formou-se em jornalismo pela PUC-Minas, trabalhou nos jornais Estado de Minas, Folha de S. Paulo e O Globo e nas revistas Veja, TRIP/TPM, entre outras. É autora de Karmatopia: uma viagem à Índia e coautora de Sob Pressão: a rotina de guerra de um médico brasileiro. Samuel Wainer: o homem que estava lá é seu primeiro livro pela Companhia das Letras.

Assis

Assis: Cidade de Francisco e Clara, de Luiz Carlos Pugialli, editado pelo CINPer Brasil (Centro Internacional e Nacional de Peregrinações) vai além do objetivo de servir como um guia do peregrino na cidade de Assis, como antecipa o subtítulo. Ao longo de 50 páginas, o leitor se depara não só com dicas de viagem, locais para visitação, restaurantes e templos do grandioso patrimônio artístico e arqueológico, como também é levado a conhecer a história, as orações, os mitos e as lendas que envolvem uma das mais bonitas cidades da Umbria, na Itália. Conhecido, principalmente, por ser o lar que abrigou São Francisco (fundador da Ordem dos Franciscanos) e Santa Clara – santos reverenciados pelos católicos – o pequeno vilarejo atrai, por ano, milhares de fiéis e turistas de todas as religiões e partes de mundo.
O livro é dividido em 22 capítulos, ricamente ilustrados com fotos de Bruno Freitas, que vão desde a Estação de trem de Assis, passando pela Basílica de Santa Clara, caminho da casa dos pais de Francisco, Catedral de São Rufino, Templo de Minerva, Basílica de São Francisco até a Basílica de Santa Maria dos Anjos, o sétimo maior santuário da Igreja Católica, com 126 metros de comprimento e 65 de largura.
Assis: Cidade de Francisco e Clara é o quinto volume do Projeto Evangelizar, da Coleção CINper, que inclui O Fascínio do Homem de Branco – três papas, um santo, uma experiência de Fé; Terra Santa – eu vi, vivi e revi; Eis-me Aqui – guia do peregrino nos Santuários, Brasil de Muitos Santos; Roma dos Santos; Mártires e Cidades Italianas, todos assinados por Luiz Carlos Pugialli. Comendador da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, o autor é coordenador do CINper há 34 anos. Durante o Ano Jubilar de 2000, Pugialli trabalhou no Vaticano, coordenando os grupos de peregrinos de língua portuguesa.

Enlaces poéticos

A antologia Enlaces Poéticos (Editora Jordem, 2020) é uma homenagem às escritoras capixabas, em comemoração ao septuagésimo aniversário da Academia Feminina Espírito-santense de Letras. A obra conta com a colaboração de acadêmicas efetivas e correspondentes, reunindo textos expressivos sobre o legado das pioneiras, com uma retrospectiva das contribuições feitas pelas mulheres à cultura do estado, bem como uma visão panorâmica da presença da mulher na arte de escrever.
O tema dos escritos é bastante abrangente e significativo: “A condição da mulher na sociedade.” A apresentação dos trabalhos é feita em ordem alfabética e conta com a foto e minibiografia de cada autora. No fim, há a transcrição da ata da sessão preparatória da fundação da AFESL, em 1949. Além dos discursos de posse das novas acadêmicas correspondentes, Maria Inês de Moraes Marreco e Manoela Ferrari, empossadas no Dia Internacional da Mulher, em março de 2020. No prefácio, a escritora Maria do Carmo Schneider destaca a união das escritoras capixabas em torno de um mesmo ideal, não medindo esforços, através dos tempos, para que suas vozes sejam ouvidas: “Qualquer que seja o estilo, o tema, ou o texto produzido, é a alma e o coração que falam.
Cada uma coloca a sua cor, o seu tom, como se estivesse bordando a vida, pois a poesia é tudo o que há de íntimo em tudo. Enlaces Poéticos é o bordado que fazemos da vida, usando o sonho como fio condutor da nossa obra, pois, na tessitura da vida, o sonho é o fio, fio esse que alicerça e vem alimentando nossa AFESL há setenta anos.” No texto introdutório, a vice-presidente da AFESL, Ester Abreu Vieira de Oliveira, destaca “A presença da mulher na arte de escrever”: “As mulheres são sensíveis à harmonia das palavras, mas sua bravura a coloca em ação.”

O diabo foi meu padeiro

Em O Diabo foi meu Padeiro (Ed. D. Quixote, 2019), Mário Lúcio Sousa toma a voz de prisioneiros da Colônia Penal do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, para homenagear os que ali perderam a vida e os que sobreviveram aos horrores, 45 anos depois do encerramento da prisão. A colônia Penal do Tarrafal foi criada durante o Estado Novo, em 1936, com 150 prisioneiros políticos, que viviam em condições precárias. Sujeitos a tortura, quase sem água, privados de higiene e, muitas vezes, doentes.
Nas 326 páginas da obra, o autor não apenas busca uma estética forte, mas apresenta uma narrativa veemente, que os livros de história não mostram, desnudando a realidade tanto como prioridade quanto como necessidade. É uma experiência real, que contribui com ação e voz, resultando num grande romance da lusofonia. Mário Lúcio Sousa nasceu no Tarrafal, na ilha de Santiago, Cabo Verde, em 1964. Licenciado em Direito pela Universidade de Havana, foi deputado no Parlamento CaboVerdiano e Embaixador Cultural do seu país antes de se tornar, em 2011, ministro da Cultura de Cabo Verde.
Condecorado com a ordem do Vulcão, ao lado de Cesária Évora, foi o artista mais jovem a receber tal distinção do presidente da República. Compositor e multi-instrumentista, fundou e lidera o grupo musical Simentera. Com vários livros editados, entre eles, Biografia do Língua, Os 30 dias do Homem mais Pobre do Mundo e O Novíssimo Testamento, o ex-ministro já recebeu diversos prêmios literários, como o Prêmio do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa (em 2003), o Prêmio Literário Carlos de Oliveira (2015), o Prêmio Literário Miguel Torga e o Prêmio do PEN Clube para a Narrativa.

Identidades masculinas

A obra Identidades Masculinas em Coriolano e Antônio e Cleópatra de William Shakespeare (Ed. Amavisse, 2020) é uma versão revista e ampliada da pesquisa desenvolvida pelo autor em sua dissertação de mestrado no Programa Interdisciplinar de Linguística Aplicada do curso de Pós-graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. A tese, iniciada em de 1998 e defendida em abril de 2002, foi conduzida sob a orientação da professora Dra. Marlene Soares dos Santos, na época, Professora Titular de Língua Inglesa do Departamento de Letras Anglo-germânicas e, hoje, professora Emérita da UFRJ. O autor escolheu trabalhar com duas peças romanas de Shakespeare – Coriolano e Antônio e Cleópatra –, ilustrativas da centralidade do universo masculino na tradição do ocidente. Ambas focalizam o mundo romano, um dos pilares da cultura ocidental, tendo como base principal instituições políticas e militares comandadas e geridas por homens. Em torno da figura de Coriolano, é apresentado o tema da construção da identidade masculina.
A história desse personagem é bem representativa de como os homens são construídos, até os dias atuais, para se comportarem de um modo bem específico dentro da sociedade. A relação com a mãe é um dos pontos chaves de sua trajetória. Na ausência do marido, ela molda o filho através de uma concepção extremamente rígida do conceito romano de masculinidade. Quanto a Antônio, homem maduro e poderoso, um dos membros do triunvirato romano e um dos representantes máximos do patriarcado, no momento retratado pela peça de Shakespeare, tem a sua masculinidade reconstruída devido ao seu envolvimento com Cleópatra e à sua afinidade com o modo de vida egípcio.
William Soares dos Santos nasceu no Rio de Janeiro, em 1972. É graduado em Letras (português e italiano) e mestre em Linguística Aplicada, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e doutor em Estudos da Linguagem pela PUC-RJ. Publicou, entre outros, o livro de contos Um Amor (2016), além de Poemas da Meia Noite (e do meio dia) (2017), Raro (poemas de Eros) (2018), Três Sóis (2019) e Memórias de um Triste Futuro (2020). É membro titular do Pen Clube do Brasil.