Setembro - 2020 - Edição 259

Ouvindo o silêncio

Ouvindo o Silêncio (Editora Kelps, 2020) percorre os 25 anos do percurso poético de Sonia Sales, revelando a trajetória de lirismo e o amadurecimento de um talento que aquece a alma do leitor desde A Chama Breve. O título do primeiro livro, lançado em 1996, abre o capítulo inicial, onde já podemos conferir o recorte claro dos versos e a emoção genuína da autora em preciosidades literárias, tais como Fracionado Coração, O que importa é o sonho ou Poeira de Estrelas, para citar apenas alguns. Em seguida, vem Da Essência ao Divino, Ouvindo o Silêncio, Girassóis Maduros, Os Dedos da Morte, Sol Desativado e A montanha e o vento – 100 Haikais. Para finalizar, antes do caderno de imagens e do currículo, somos brindados com poemas orientais, de uma linha cada, em tradução bilíngue para o chinês pelo professor Alexander Chung Yuan Yang, que deles diz: “Fiquei muito admirado com os poemas de Sonia Sales. Ao traduzi-los, não pude deixar de notar a extrema beleza e semelhança de vocabulário utilizado nos da Dinastia Tang (618 a 906 d. C.).” São poemas de grande delicadeza e suavidade, como nos exemplos: O silêncio é o sonho da solidão, Atenta estou ouvindo o som da folha caindo, Sinto a aragem do infinito. Sonia da Conceição Sales é carioca, mas também paulistana, pois mora em São Paulo desde 1981. Estudou Psicologia e Arte e fez diversos cursos de extensão em países da Europa. Membro da Academia Carioca de Letras, entre outras instituições, tem 24 livros publicados.

O Jardim de Rui Barbosa

O Jardim de Rui Barbosa: preservação de um jardim histórico é uma publicação caprichada da Fundação Casa de Rui Barbosa, do Ministério da Cultura, em parceria com a Fundação Darcy Ribeiro, Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDES e a Fundação Roberto Marinho. O livro retrata, ao longo de 168 páginas, as etapas de trabalho realizadas durante o Projeto de Revitalização e Restauração do Jardim Histórico da Casa de Rui Barbosa, realizadas entre os anos de 2015 e 2016. Com coordenação gráfica de Carlos Barbosa, da Editora Batel, a obra conta com fotografias belíssimas de Ivo Gonzales e Leo Aversa, relatos da equipe profissional envolvida e a história deste raro exemplar de jardim doméstico do século XIX no Rio de Janeiro, localizado no bairro de Botafogo, e o que ele representa na vida familiar de Rui Barbosa. A relevância deste local para o patrimônio nacional fundamentada nas cartas de Florença e de Juiz de Fora é complementada por um inventário dos acervos artístico, botânico e florístico que o caracterizam, além de um roteiro botânico para usuários e visitantes. Na introdução do livro, Marta de Senna, ex-presidente da Fundação casa de Rui Barbosa, cita Voltaire: “O filósofo-escritor Voltaire declarava, no fim de ‘Cândido ou o otimismo’, que é preciso cultivar o nosso jardim. No contexto do livro, a frase tem o sentido de voltarmos as costas para o mundo que nos cerca e que é tão cheio de aflições, concentrando-nos no que é estritamente nosso, isoladamente nosso. Quero dar a essa frase outra interpretação.”

Itinerário

A caprichada edição de capa dura da obra Itinerário – quarenta e cinco anos de poesia (Fortaleza Gráfica e Editora, 2015) reúne a robusta produção do premiado poeta cearense Linhares Filho, de 1968 a 2013. O deslocamento da publicação para 2015 justificou-se para comemorar, entre outras homenagens, os 120 anos de fundação da Academia Cearense de Letras e as Bodas de Ouro com a esposa, Mariazinha. “Notícias de bordo da viagem existencial são os registros que realizo nestas páginas, de modo que o meu pensar e o meu sentir aparecem numa oscilação natural, como acontece no desenvolvimento da própria vida”, afirma o professor Emérito da Universidade Federal do Ceará, escolhido “Príncipe dos Poetas Cearenses pela ACL, em 2016. Mestre no segredo da arte da feitura de versos, sua poesia intimista se revela cheia de confidências, ao longo de 840 páginas, carregando valores permanentes que minimizam o circunstancial e o efêmero. Todas as dimensões (ética, social, filosófica, estética e religiosa) estão harmoniosamente articuladas na engenhosa trama dos poemas, revelando absoluto domínio de sua consciência literária. Entre as opiniões sobre o autor, publicadas no final da obra, destaca-se o elogio e a gratidão de Carlos Drummond de Andrade: “Percebe-se que o seu ‘pacífico guerreiro’ tem o vigor e o talento necessário para dar ao verso toda a melodia e todo o encanto verbal. Sou-lhe grato pela inclusão, entre os seus primorosos sonetos, daqueles dois que tanto honraram a passagem dos meus oitenta anos.” Nascido em Lavras da Mangabeira (CE), em 1939, José Linhares Filho é membro efetivo da Academia Cearense de Letras desde 1980, e da Academia de Letras e Artes do Nordeste. Sócio da Associação Brasileira de Literatura Comparada e da Associação Brasileira de Bibliófilos, é autor da letra do hino de sua cidade natal e da letra do hino da Academia Lavrense de Letras, onde é presidente de honra

Pontes de Miranda

Na obra Pontes de Miranda – o gênio da ciência jurídica (Editora Q-Gráfica, 2020), Ivan Barros expõe, com precisão jornalística e sensibilidade literária, os dados biográficos do saudoso imortal da Academia Brasileira de Letras, Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (1892-1979). A trajetória do jurista, filósofo, matemático, advogado, sociólogo, magistrado e diplomata brasileiro mostra, ao longo de 200 páginas, que incluem fotos do acervo da família, um “cientista de cultura poliédrica, versado em quase todos os ramos da ciência, expoente máximo da cultura jurídica mundial”, como afirma Sílvio de Macedo, na introdução da obra. Membro mais antigo da Academia Alagoana de Letras, o advogado, jornalista, promotor de justiça aposentado do Ministério Público, fundador do Espaço Memória e do Jornal semanário Tribuna do Sertão, Ivan Bezerra de Barros é presidente de honra da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes. Foi repórter da revista Manchete, colaborador da revista Fatos e Fotos e editor do jornal Luta Democrática. Destaca-se também como sócio da Academia Brasileira de Imprensa e da Academia Alagoana de Imprensa. Tem mais de 35 livros publicados, entre eles, Graciliano era Assim (2ª edição, Ed. Bagaço, 2014), Assassinato de JK (Ed. Bagaço, 2014) e Divaldo Suruagy: vida e obra de um estadista (Ed. Senado Federal, 2015).

Corinthians do Ary Vidal

No livro Corinthians do Ary Vidal – a saga do único time gaúcho campeão brasileiro de basquete (Editora Gazeta, 2019), Guilherme Mazui Roesler conta a história da epopeia que fez o time tricolor do Rio Grande do Sul figurar entre os melhores do Brasil durante quase toda a década de 1990. A obra, dividida em três partes, reúne fotos, reportagens e memórias do período mágico do basquetebol profissional do mais querido de Santa Cruz. Um título nacional e dois vices (1996 e 1997) foram conquistados na era Ary Vidal, além da hegemonia estadual, façanhas que ainda não se repetiram no basquete gaúcho. Durante 10 anos, entre idas e vindas, o autor fez dezenas de entrevistas com jogadores, dirigentes, técnicos, jornalistas e torcedores. No prefácio, João Batista dos Santos Guia (capitão da equipe campeã brasileira de 1994) relembra a soma de esforços que colocou o time na história do basquete brasileiro: “Não perdemos nenhum jogo no Poli. Tomamos conta de meus companheiros. Minha então namorada previu que venceríamos todos os rivais em casa. As previsões dela e do professor Ary estavam se concretizando. Batíamos um por um dos adversários. E Santa Cruz se tornou a terra do basquete.” O resultado das façanhas do incrível exército de Brancaleone, como Ary Vidal se referia ao time, pode ser conferido ao longo das 383 páginas desta caprichada publicação. Guilherme Mazui Roesler nasceu em Santa Maria (RS), em 3 de novembro de 1987. Jornalista formado pela Universidade de Santa Cruz do sul (UNISC), trabalhou como repórter nos jornais Gazeta do Sul, em Santa Cruz, e Zero Hora, em Rio Grande, Porto Alegre e Brasília. Vive desde 2012 na capital federal. Atualmente, faz a cobertura diária de notícias sobre política nacional para o G1, o portal de notícias da Globo.

Epifanias

Epifanias – como se fossem crônicas (Ed. Formar, 2020) é a mais recente obra de Ester Abreu Vieira de Oliveira, presidente da Academia Espírito-santense de Letras. Como o próprio título adianta, a obra reúne ensaios, crônicas, poesias e textos de memórias da infância e da juventude da autora. Em 207 páginas, está dividida em três partes: O Poder da Palavra, Entre os Livros e a Vida e Telúricas Recordações. Exemplo de dedicação aos livros e ao magistério, com mais de 50 publicações e uma infinidade de textos acadêmicos, aos 87 anos, a professora Emérita da UFES tem atuação ímpar no universo cultural capixaba, onde é membro de todas as instituições culturais. Com mestrado em Língua Portuguesa na PUC-SP, doutorado em Letras Neolatinas (UFRJ) e pós-doutorado em Filologia Espanhola (UNEDMadri), a escritora ainda ministra aulas para os cursos de Mestrado e Doutorado da Universidade capixaba. O Eclesiastes nos ensina que há tempo para todo o propósito: tempo de plantar e de colher. Cronista que foge do silêncio, contemplando a palavra, para a escritora Ester Abreu Vieira de Oliveira não basta o diálogo: a professora quer o entendimento que busca o leitor. A variedade dos textos que encontramos nesse livro atestam que estão intocadas as permanentes vocacionais da autora. A obra autentica o amplo conhecimento que se exige de um cronista, ao mesmo tempo que consagra o seu reconhecido lirismo literário. Suas crônicas fazem do transitório o permanente, soando como espasmos de libertação em busca da plenitude da palavra.