Junho - 2020 - Edição 256

A Alma do Tempo

A Alma do Tempo: memórias (Ed. Topbooks, 2018) reúne os cinco livros de memórias de Afonso Arinos de Melo Franco: A Alma do Tempo – Formação e mocidade (1961), A Escalada (1965), Planalto (1968), Alto-mar Maralto (1976) e Diário de Bolso (1979). Com textos introdutórios de Afonso Arinos, filho; Alceu Amoroso Lima; Antônio Gontijo de Carvalho; Odylo Costa, filho; Francisco de Assis Barbosa; Péricles Madureira de Pinho; Pedro Nava e José Guilherme Merquior, esta edição, com 1779 páginas, apresenta, também, fotos do acervo pessoal. Ao descrever o amigo em seu texto, Odylo Costa Filho cita Manuel Bandeira: “Não é verdade – escreveu certa vez Manuel Bandeira – que Afonso tenha o rei na barriga. Pode ser que o jeito da barriga seja o de quem tem rei lá dentro, mas o que Afonso tem na barriga é um berço. No fundo Afonso é humilde e bom como o pão.” Entre as fotos de destaque, há registros do autor em família, no Senado Federal, chefiando a delegação brasileira na ONU, como ministro das Relações Exteriores, na cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras, além do registro de sua convivência com políticos de vulto – Getúlio Vargas, Santiago Dantas, Milton Campos, Carlos Lacerda, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, entre muitos outros. Há também fotos com amigos, como Prudente de Morais Neto, Pedro Nava, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade, Francisco de Assis Barbosa, José Lins do Rego, Sérgio Buarque de Holanda, o editor José Olympio e o pintor Cândido Portinari.

Hamlet

A sofisticada edição de Hamlet, em capa dura, traduzida por Geraldo Carneiro, merece atenção especial da coluna. Autor de outras traduções de Shakespeare, o acadêmico conjuga o rigor na reflexão sobre a linguagem, exigida pelo trabalho de tradutor, com o frescor e a fluidez do grande poeta que é. Com texto de Millôr Fernandes na contracapa (escrito originalmente em 2004 para o livro Apresentações, de Millôr), com quem dividiu a adaptação de A Megera Domada, em 1999, e a quem dedica essa edição, a tradução de Geraldo Carneiro para Hamlet foi uma encomenda do ator e diretor Bruce Gomlevsky, que pretende encená-la. Imortal da Academia Brasileira de Letras (sexto ocupante da Cadeira 24, eleito em 27 de outubro de 2016, na sucessão de Sábato Magaldi), Carneiro nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 11 de junho de 1952. Poeta, letrista e roteirista de televisão, teatro e cinema, começou a manifestar interesse pela arte ainda jovem, influenciado pelos muitos escritores e músicos que frequentavam a casa dos seus pais – entre eles, Paulo Mendes Campos, Jacob do Bandolim e Tom Jobim. Como poeta e letrista, é parceiro de Francis Hime, Egberto Gismonti, Astor Piazzolla, Tom Jobim e Wagner Tiso, entre outros. A primeira experiência de Geraldo com Shakespeare foi em 1982, quando traduziu A Tempestade. É autor de vários livros de poesia, tais como Em busca do Sete-Estrelo; Verão Vagabundo; Piquenique em Xanadu (prêmio Lei Sarney de melhor livro do ano); Pandemônio; Folias Metafísicas; Por Mares Nunca Dantes; Lira dos Cinquent’anos e Balada do Impostor, entre outros.

A solidão no Programa do Jô

Em A Solidão no Programa do Jô (Editora Tagore, 2019), Edmílson Caminha apresenta, em 248 páginas, uma coletânea de artigos e crônicas leves e prazerosas. Em narrativas muito bem conduzidas, traz impressões de livros, encontros com escritores, lembranças de viagens, declarações de amor à literatura, ao cinema, ao jazz, em páginas que dão voz às memórias de professor, jornalista e, sobretudo, de consistente e dedicado escritor. Percebe-se, ao longo dos textos, o gosto pela fantasia e a tendência para o lirismo. Como ao imaginar um célebre argentino disfarçado de ogro na comemoração italiana do halloween, ou revelar aos leitores, em tempos de fakenews, uma carta inédita com a assinatura de Machado de Assis. Professor de literatura brasileira e de língua portuguesa, Edmílson Caminha nasceu em Fortaleza, Ceará. Dirigiu, em Teresina, a Rádio Educativa e o Departamento de Jornalismo da TV Educativa do Estado do Piauí. É consultor legislativo (aposentado) da Câmara dos Deputados, em Brasília - DF, de cujo Conselho Editorial foi presidente. Membro da Academia Brasiliense de Letras e da Academia de Letras do Brasil, é sócio correspondente da Academia Cearense de Letras e da Academia Cearense da Língua Portuguesa, sócio da Associação Nacional de Escritores (ANE), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Associação dos Bibliófilos do Brasil e do Observatório da Língua Portuguesa, em Lisboa, Portugal.

Dona Felicidade

Dona Felicidade – sonetos poemas e letras (Editora Autografia, 2018) reúne poemas e letras de música do escritor, teatrólogo e jornalista Nestor Tamborindeguy Tangerini. No prefácio, o escritor Fábio Siqueira do Amaral, da Academia Literária Atibaiense, elogia o talento espirituoso do poeta, apesar dos dissabores que sofrera na década de 1940, ao ficar cego e ter o braço esquerdo arrancado num acidente: “Sem revolta, sem mágoas, sem o famoso estresse, tangendo o inigualável bom humor, essa coleção de sonetos de Dona Felicidade é um trabalho primoroso, onde cada texto é uma novidade com toque de gênio”. Tangerini, que pertencia ao clã dos Marzullo, era genro da atriz de rádio, cinema e teatro Antônia Marzullo, mãe da atriz Dinah Marzullo Tangerini (sua esposa), irmã da atriz Dinorah Pêra, mãe de Marília e Sandra Pêra. Nascido em Piracicaba, no dia 23 de julho de 1895, foi compositor, teatrólogo, poeta, caricaturista e professor de língua portuguesa. Teve seu primeiro trabalho publicado em 1922, o soneto Coisas do Rio, na revista A Maçã. Foi diretor artístico da companhia de revistas Jardel Jércolis. Autor da revista No Tabuleiro da Baiana, apresentada pela Grande Companhia de Burletas e Atrações, no Pavilhão Teatro Floriano. Foi autor, ainda, entre outras, das revistas Tudo pelo Brasil, com Luiz Leitão, Cadeia da Sorte; Na Boca da Hora e Lição Domésticas, estas últimas em parceria com Aldo Cabral. Fez, em 1937, com Benedito Lacerda, a valsa Dona Felicidade, gravada por Castro Barbosa pelo selo Victor. Morreu no Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1966.

Muitos outros

Em caprichada publicação da Edições de Janeiro (2020), o acadêmico Joaquim Falcão nos brinda com a obra Muitos Outros. Ao longo de 200 páginas, estão artigos pequenos e muito convenientes de leitura, escritos pelo professor titular de Direito Constitucional na Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (RJ), onde também foi fundador e diretor. Os textos falam sobre múltiplos líderes pernambucanos. A maioria deles de importância além de Pernambuco. São líderes nacionais, como Fernando Lyra, Marco Maciel, e também internacionais, como Gilberto Freyre, Paulo Freire, João Cabral de Melo Neto. Os artigos representam um momento do líder em que o autor amplia e sublinha sua importância, além da circunstância então vivida. Joaquim Falcão é Doutor em Educação pela University of Génève (1981), LLM pela Harvard Law School (1968), graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1966). Foi pesquisador visitante na Harvard Law School (1991). Membro da Academia Brasileira de Letras, do Instituto dos Advogados do Brasil e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, é vice-diretor do Itaú Cultural. Editor da revista de Direito Administrativo, é autor de vários livros, entre eles Raymundo Faoro – a República em transição; O Supremo; Mensalão – diário de um julgamento.

A Caçadora de Amor

A atriz Maria Zilda Bethlem lançou suas memórias, numa edição independente: A Caçadora de Amor. Sem linearidade, as 187 páginas da obra falam de várias passagens da vida da atriz, reunindo lembranças e impressões sobre o cotidiano, que vão desde a infância, adolescência, trabalho, histórias de amor, aventuras, viagens, alguns dissabores e muitas narrativas divertidas. O título A Caçadora de Amor vem do mapa astral de Maria Zilda. Libriana, ela relembra que tanto o signo quanto o ascendente, em Touro, são regidos por Vênus, a “deusa do amor”, sentimento que lhe dá sentido na vida. O ator Stepan Nercessian recomenda a leitura: “Comovente e profundo, este livro chega em um momento certo. Quando a maioria procura se esconder atrás de máscaras e comportamentos aceitáveis, Zilda se expõe, se desnuda. E isso com muita graça, humor e inteligência. Me deliciei com a vida dessa querida atriz. É literatura, mas poderia ser um monólogo ou um longa metragem. Ao falar de si mesma, Zilda fala de todos nós. Senhores passageiros, podem embarcar sem susto. A viagem é muito gratificante. Aproveitem essa rara ocasião em que o dia da caça é da caçadora ao mesmo tempo. E vivam.” Com 46 anos de carreira e mais de 40 atuações em novelas e séries, a atriz Maria Zilda Bethlem deu mais um passo artístico. Para comprar o livro físico, basta entrar no site da Amazon.com (que disponibiliza também a obra em e-book) ou enviar mensagem para zeelias65@gmail.com.