Sinto saudades...

Há alguns anos atrás, o professor Arnaldo Niskier escreveu um pequeno livro com o título Sinto Saudades, ilustrado por Joselito. Na singela obra, ele relata as faltas que seu coração sente de amigos da infância, dos domingos na pracinha. Bola de gude, chapinhas, figurinhas... As brincadeiras infantis são relembradas com carinho. Na última página, a lembrança mais forte: “Como sinto a falta que mamãe me faz.”

Peguei emprestadas todas essas lembranças para homenagear aqueles que sempre me comoveram e de quem sinto muitas saudades. Não vou relembrar todos, mas alguns que tiveram uma participação especial e significativa na minha vida e me tornaram uma pessoa melhor. Aqui estamos, juntos em todas as fotos, cúmplices no afeto! Elias José, com quem compartilhei o frio da noite de Passo Fundo, fugindo de um roqueiro barulhento. Com a ajuda da sua amada Silvinha, conseguimos editar O Fabricante de Ilusões, inscrito pela Civilização Brasileira no PNLD de 2011.

Bartolomeu Campos de Queirós, amigo querido, sempre com alguma conversa afetuosa para demonstrar o seu carinho. Ganhei de presente do Bartô o texto de O Fio da Palavra, ilustrado pelo Salmo Dansa, atualmente editado pela Global, uma de suas últimas obras. A saudade é imensa.

Cada encontro com Nélida Piñon era uma alegria. Sempre me descobria ao fundo de algum auditório enlevada com suas palavras. Trouxemos para a Galera – Record, o livro A Roda do Vento, com ilustrações de Maurício Veneza, aprovado no PNLD de 2012.



Celso Sisto me entregou um texto, que conseguimos transformar em uma obra de grande sucesso, adquirido em programas de governo. Kalinda, a Princesa que Perdeu os Cabelos e Outras Histórias Africanas, com ilustrações do próprio autor e editado pela Escarlate (Cia das Letras). Sua alegria era contagiante!

A relação com alguns autores se transformou de profissional em amizade e era sempre muito bom encontrá-los, compartilhar ideias, curtir notícias e novidades. Muitas dedicatórias e testemunhos demonstram essa cumplicidade amorosa. Alcione Araújo escreveu: Anna, a Amiga dos Autores. Este título tem um valor inestimável.

Uso toda a saudade aqui revelada para justificar uma recente, que está ardendo em meu peito: Marina Colasanti! Penso que ela foi preparar o caminho para esperar Affonso, enfermo há tanto tempo, e se encontrar com a filha Fabiana. A tristeza com a doença do amor de sempre deve ter minado as suas forças. Muito já foi dito sobre ela, sua biografia foi contada em vários momentos, mas a palavra mais próxima de Marina, para mim, é suavidade! A vida doméstica revestia- -se de coisas simples que ela conseguia sempre transformar em algo especial. As roupas que costurava com prazer, as comidas deliciosas, as plantinhas que cuidava, os pássaros que chegavam à sua varanda, as histórias do sítio. Essa era a Marina dos amigos, dos afetos. Marina também me entregou um texto, que ela chamava de “nosso livro”: Tudo Tem Princípio e Fim, ilustrado por ela e editado pela Escarlate (Cia das Letras).



Que a força de suas histórias, a trajetória incrível de sua vida nos acompanhe, em nossa caminhada, repleta de saudades, mas a memória também repleta de afetos e de amor. Nosso último encontro aconteceu quando foi premiada pela Academia Brasileira de Letras e atravessou o salão para me dar um abraço