Começar de novo, com mais trabalho!

O ano começa com um novo desafio! O resultado do descaso com a cultura e a educação estão refletidos na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que analisou os dados coletados a partir de 2019. O estudo destaca que, nos últimos quatro anos, houve a redução de 6, 7 milhões de leitores no país. Apenas entre a população de 11 a 13 anos (incluindo aí os livros didáticos) e a com mais de 70 anos, o percentual não diminuiu. Isto significa que precisamos implementar novas políticas para a ampliação da leitura, principalmente entre os mais jovens, com a aquisição e atualização de acervos para as bibliotecas públicas, escolares e comunitárias. Os programas governamentais para a aquisição de livros de literatura estão com grande atraso, e está claro que precisam ser realizados e ampliados. O momento é de arregaçar as mangas e empregar todo o esforço possível para proporcionar o acesso aos livros e desenvolver programas de leitura.

Um triste exemplo dessa realidade foi o fechamento repentino do Instituto de Leitura Quindim, de Caxias do Sul, presidido pelo querido Volnei Canonica. O despejo chocou a todos e agora é preciso conseguir uma sede definitiva para que o Quindim continue a realizar os seus cursos, com a rica biblioteca ativa e inúmeras atividades para crianças e educadores. Mãos à obra! Nossa seleção de início de ano apresenta autores que nos envolvem com suas histórias, sentimentos... e que, com sensibilidade e criatividade, nos emocionam e encantam. E a Academia Brasileira de Letras se faz presente na literatura infantil!

Bento, Vento, Tempo (Companhia das Letrinhas) – O tempo passou e levou com ele a energia, a força e a memória do Vô Cacá, mas Bento não se conforma com isso e quer dar ao avô uma nova motivação. Com poesia que lembra o cordel e atravessando lugares e temas do Nordeste, Nelson Cruz, ilustrador premiado pela Academia Brasileira de Letras, acompanha a narrativa de Stênio Gardel – realidade ou invenção –, que nos prende no fio da história.

Entre Cobras e Lagartos (Reco-Reco) – Guto Lins, com o apoio do Instituto Ziraldo, conseguiu realizar o sonho de escrever um livro com o mestre Zira. Assim nasceu Entre Cobras e Lagartos, que comprova a genialidade da dupla. Uma história divertida e que reuniu várias cobras e alguns lagartos desenhados por Ziraldo e, de quebra, a apresentação é do Roger Mello!



Só Sei que Nasci (Global) – A sensibilidade e emoção do avô, Ignácio de Loyola Brandão, imortal da Academia Brasileira de Letras, está presente em cada página desta obra delicada. O autor imagina Antonia descobrindo o mundo e tentando entender o que a cerca. As ilustrações de Isabela Santos enfeitam com suavidade essa celebração da vida

Kuján e os Meninos Sabidos (Companhia das Letrinhas) – Ailton Krenak é importante defensor dos direitos indígenas e do respeito à Terra. Vive em uma aldeia Krenak, em Minas Gerais, e também é membro da Academia Brasileira de Letras. O autor apresenta a lenda onde o criador do mundo resolve visitar as suas criações. Disfarçado como um tamanduá, é aprisionado para a festa da aldeia. Dois meninos espertos descobrem a sua verdadeira identidade e aproveitam para ouvir histórias e aprender várias coisas com o Avô. O projeto visual e as ilustrações de Rita Carelli enriquecem a edição.

Ponto de Vista (Global) – Histórias paralelas de dois meninos em pontos socialmente distantes da Cidade Maravilhosa. A paisagem os contempla em pontos tão divergentes. Personagens diversos, como o golfinho, símbolo da cidade, e a gaivota, sempre presente na orla, torcem para esse encontro. A leveza poética da também acadêmica Ana Maria Machado, da Academia Brasileira de Letras, nos faz ansiar por esse encontro. O jogo de cores e a luz de Luciano Tasso estimulam o nosso caminhar pela cidade partida. Será que eles vão se encontrar?

Chuva (Reco-Reco) – Dalton Trevisan foi um autor recluso, avesso a entrevistas e descrevia em seus contos os personagens curiosos da cidade de Curitiba, onde nasceu. Em seu novo selo – Reco-Reco –, o Grupo Record faz um recorte na obra do autor e edita um conto destinado ao público jovem, onde Guazzelli completa o texto com imagens do não dito, numa narrativa instigante durante um aguaceiro. Trevisan faleceu em dezembro de 2024, aos 99 anos.