E as crianças?
A página já estava rascunhada, as capas selecionadas, os resumos prontos... mas tudo mudou.
Páginas de um livro infantil voaram para a minha varanda. Cores vibrantes, figuras alegres, idioma desconhecido e por isso, difícil. Logo imaginei que
seria uma travessura dos meus barulhentos vizinhos que pensamos que sejam
russos.
Ao pesquisar o pouco escrito em letras ocidentais, descobri tratar-se de
uma editora ucraniana! Isso mesmo, fragmentos de um livro infantil ucraniano
invadiram o meu espaço, a minha mente e o meu coração! (www.ranok.com.ua)
Meu primeiro pensamento foi para Jella Lepman (1891-
1970), jornalista alemã que fugiu
do nazismo e, no pós-guerra,
retornou à Alemanha arrasada
e dedicou-se às crianças órfãs.
Jella acreditava que a leitura e
a literatura poderiam ajudar a
reconstruir o mundo, acalentar o coração daquelas crianças
que tudo perderam. Assim nasceu a Biblioteca Internacional
de Munique (1949). Também foi ideia de Jella a criação do IBBY
– International Board on Books for Young People (Conselho
Internacional de Livros para
Jovens), organização internacional sem fins lucrativos, responsável pelo prêmio que já contemplou os brasileiros Ligia Bojunga,
Ana Maria Machado e Roger
Mello. No Brasil, o IBBY é representado pela Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.
O IBBY repete a ação de Jella Lepman de 1946 e une-se a editores e distribuidores poloneses no esforço de levar livros infantis às milhares de crianças
refugiadas. A exposição Olá, caro inimigo – livros ilustrados para a paz e a humanidade apresenta livros infantis de vários países que permitam reflexões e discussões
sobre o tema. Uma coleção de cartazes também está disponibilizada para angariar
recursos. (www.ibby.org)
Em 2014, após ilustrar o
poema A cruzada das crianças,
de Bertold Brecht (editado no
Brasil pela Pulo do Gato, com
tradução de Tercio Redondo),
a querida Carme Solé Vendrell
assumiu o compromisso, através de sua arte, de reclamar os
direitos das crianças.
A comovente caminhada de crianças em uma terra destruída pelaguerra, sem abrigo, sem agasalhos e com fome é comovente. As imagens
WHY? (Por quê?) podem ser vistas em exposições, prédios e sacadas de
Barcelona e de outras cidades espanholas. A campanha da artista ganha nova
força, servindo para retratar, mais uma vez, a imbecilidade da guerra e o grande sofrimento de famílias e, principalmente, crianças ucranianas. Ilustradora
dos livros juvenis de Gabriel García Márquez, dentre outros autores, Carme
também é autora de livros infantis. Os pequenos personagens do poema de
Brecht agora também são representados em lindas esculturas de bronze, criadas pela artista. (www.carmesolevendrell.com)
Um livro que explica às crianças como nascem as guerras. Seis Homens (Record), de David Mckee e traduzido por Leo Cunha. O autor esteve no Brasil junto com Carme Solé Vendrell e outros artistas, em 1996, trazidos pela FNLIJ. Mckee faleceu recentemente, em abril de 2022.
E para encerrar com esperança, Fronteiras, do Lellis, editado com delicadeza pela Lourdinha Mendes, da Abacatte. Que a guerra seja transformada em uma invasão e um transbordamento de amor.