Tempo, tempo,tempo, tempo


Nossa primeira página no Jornal de Letras aconteceu em junho de 1999! Ainda sem a beleza do colorido das belas capas dos livros infantis e juvenis, aos poucos fomos mostrando a importância da literatura infantil e juvenil para crianças e jovens. Como sempre afirmou o saudoso e querido Bartolomeu Campos de Queirós, a literatura não é para ensinar nada... mas ela ensina tudo. Nesses 23 anos, muitas coisas aconteceram, novas histórias, novos autores, novos ilustradores, novas editoras e projetos de leitura. Ultimamente, assombrados por questões econômicas e a pandemia, vimos editoras e livrarias fecharem, o mercado editorial encolher e parece que agora, precocemente sem máscaras, mas vacinados, a alegria dos encontros, abraços e eventos nos comove. O otimismo, a esperança e a fé, sob diferentes roupagens e credos, nos levam adiante, nos empurram para o amanhã, carregados de esperança em pessoas melhores e mais sensíveis aos menos favorecidos. Agradeço ao meu professor e querido editor, Arnaldo Niskier, que me confiou a página com absoluta liberdade. E, assim, venho a cada mês encantada por acompanhar o desenvolvimento editorial em nosso país e a produção de livros com qualidade editorial reconhecida em todo o mundo. Afinal, as premiações internacionais demonstram esse valor, com os exemplos de Ligia Bojunga, Ana Maria Machado e Roger Mello. As feiras internacionais, especialmente a de Bolonha, na Itália, com obras infantis e juvenis de vários países, passaram a constar das agendas dos editores brasileiros, proporcionando novas visões estéticas e conceituais para a produção de livros. As obras selecionadas para a nossa página de junho refletem tudo o que alcançamos nesses anos, lado a lado com publicações estrangeiras. As nacionais atingiram alto padrão de qualidade. É nisso que acreditamos e muito mais ainda virá!

A Árvore em mim – Texto e ilustrações de Corinna Luyken, tradução de Alice Sant’Anna (Pequena Zahar) – A beleza das ilustrações emoldura um poema singelo que mostra o sabor, o perfume, as cores e a força dessa poderosa árvore que trazemos dentro de cada um de nós. Lindo!

A Carta de Moussa – Roser Rimbau escreveu e Rocio Araya ilustrou, tradução de Nina Rizzi (Brinque-Book) – Moussa quer escrever uma carta para o pai distante, mas está com muitas dúvidas e conclui que não pode colocar tudo o que vê e sente em uma única folha de papel. A menina Mariama encontra a solução. Fruto do trabalho para a integração das culturas catalã e senegalesa, realizado em Thille Boubacar, povoado ao norte do Senegal, próximo ao deserto de Saara, os desenhos das crianças foram inseridos no livro, dando mais realidade ao projeto. Ao final, a apresentação do trabalho e dos envolvidos nos cativa pela importância e pela mensagem.



O Reino dos Malhumorados – Rosana Rios escreveu e Catarina Bessell ilustrou (Gaivota) – Na metáfora da história de um reino onde só existem pessoas mal-humoradas, sombrias e adoentadas – começando pelo rei e a rainha –, sem qualquer espaço para o colorido das flores, a luz do sol ou belas melodias, Rosana destaca, na figura do menestrel que chega ao reino, a importância das Artes para o desenvolvimento psicológico e social, o retorno da alegria, da música, da dança e, claro, da felicidade! As ilustrações dão leveza e revelam situações divertidas da história com detalhes sutis dos “mal-humorados”, como o chapéu de cactos da rainha Carlota. Delícia!

O que é Preciso pra ser Rei? – Leo Cunha e Tino Freitas escreveram e Fê ilustrou (Pequena Zahar) – (E o meu nariz de farejar boas histórias logo coçou com a leitura desse texto.) Mais uma metáfora que apresenta de forma rimada e divertida como deve ser um bom governante. Sabedoria, empatia, compaixão devem ser qualidades de um rei? Saber partilhar, parar para ouvir, procurar compreender quem pensa diferente também são ações importantes? Tenho a certeza de que os leitores vão poder analisar rapidamente quais as qualidades necessárias para ser um bom rei e, vão poder concluir... quem não é!

Baltazar – Severino Rodrigues escreveu e Rubem Filho ilustrou (Cortez) – Andiara, a Di, conseguiu convencer os pais a ter um cachorro. A família vai ao canil municipal buscar um filhote para adoção. Mas são tantas as possibilidades! Tantos filhotinhos! Mas a menina percebe que os cães mais velhos, muitos que sofreram maus-tratos, não são escolhidos e acabam permanecendo no abrigo para sempre. E aí, o olhar da menina e de Baltazar se cruzam... e começa uma história de muito amor e dedicação, refletidos nas belas ilustrações de Rubem Filho.

A Grande Convenção dos Sapos – Texto de Leo Cunha e ilustrações de Ivan Zigg (Globinho) – (E o nariz coçou de novo e o querido Lucas de Sena editou a história.) Leo Cunha é imbatível! Seus textos criativos e bem-humorados conquistam os leitores de imediato. Tendo como base a diferente forma de grafia na onomatopeia do som de sapos em diferentes idiomas, Leo cria uma verdadeira Babel, onde ninguém se entende, na convenção que reúne sapos de vários lugares e espécies. Os sons se misturam: coach-coach, ribbit-ribbit, gheko-gheko, croac-croac. A solução do problema surge do outro lado do lago... onde está acontecendo uma convenção de cães! As ilustrações do Ivan Zigg trazem humor e enriquecem as situações!