Comissão de frente!

Ainda embalados com o batuque do Carnaval fora de hora, aprendemos com as Escolas de Samba importantes lições. Lembretes para avivar a memória e aguçar os sentimentos tão combalidos com meias-verdades, mentiras e falsa moral.
Dizem que “a voz do povo é a voz de Deus” e o povo gritou, em altos brados, as raízes africanas, a negritude, a diversidade religiosa e de gênero, a beleza da nossa cultura miscigenada. E o povo clamou por justiça, igualdade, respeito e felicidade. Que o canto do samba invada os corações.
No desfile, vimos histórias, livros, criatividade. Ressalto, sem desmerecer de nenhum participante, duas forças da nossa cultura: Rosa Magalhães, várias vezes campeã, filha do acadêmico Raimundo Magalhães Júnior (convivi com ele na Manchete) e Helena Theodoro, professora, autora, pessoa querida e que admiro, que escreveu, há muitos anos, Benedito de Cachoeira e me encantou. A elas minha homenagem pela esperança que invadiu a Avenida!
No ritmo de todos os assombros, selecionamos obras incríveis que, por sua importância, precisam ser trabalhadas nas escolas, debatidas, ampliadas, como um reforço a uma sociedade mais justa e menos preconceituosa. Deixamos as conclusões a cada um, para que ampliem o olhar e a mente para as diferenças e diversidades que devem nos unir. É no encontro das diferenças e dificuldades que cresce uma sociedade mais justa.

A Melhor Mãe do Mundo – Nina Rizzi, ilustrações de Veridiana Scarpelli (Companhia das Letrinhas) – Um tema que poderia ser árduo, transformado numa deliciosa história de amor. A metáfora de ilustrar os personagens como pássaros é de uma oportunidade incrível. Com certeza, alguma criança sofre com situação semelhante à apresentada e, com delicadeza, a autora nos comove com a preparação para o dia da visita

Tia Vilma – Escrito por Bruno (Warley Matias de Souza) e ilustrado por Thais Beltrame (Abacatte) – A história de um menino pequenino, para ser debatida com gente grande. Sutil, delicado, envolvente, Bruno nos cativa contando a sua primeira experiência na escola, o encontro com as letras e a primeira professora. Fragmentos das conversas dos adultos vão nos indicando as batalhas que ainda precisam ser travadas em busca do respeito e da aceitação dos diferentes. Até quando o preconceito será maior do que o valor de uma pessoa e seus sentimentos? Na carta à professora Vilma, que a mãe escreve enquanto ele dita, Bruno nos comove e demonstra que preconceito, racismo, rejeição não fazem parte dos sentimentos infantis, os adultos é que violentam os sentimentos das crianças. Emocionante!



A Menina e o Camaleão – Leo Cunha, ilustrações de Rubem Filho (Abacatte) – Qual é a sua cor? pergunta o Camaleão à menina. Na conversa dos dois, surge a importância que a cor da pele tem para conhecer e valorizar a origem da nossa família. Não é preciso se camuflar, como o camaleão, mas expor, orgulhosamente, as nossas raízes. Leo Cunha é craque nas histórias e Rubem Filho nos impacta com a exuberância das ilustrações. “Um livro pra ler, reler, abraçar, tornar a ler e se encantar”, afirma Ieda de Oliveira.

Além do Desafio – Escrito por Severino Rodrigues e ilustrado por Daniel Almeida (Escarlate) – Atualmente somos surpreendidos com as notícias de acidentes com jovens e crianças expostos a desafios na internet. O autor escreve de forma que facilita a compreensão e aguça a curiosidade dos leitores para a descoberta de bandidos que usam a internet para cometer crimes. Mais atual, impossível! Você vai aceitar esse desafio?

Amigos da Floresta – Maurício de Sousa e Sérgio Olaya (Bertrand Brasil) levam a Turma da Mônica para o campo, na Vila Abobrinha, onde vive Chico Bento, para passar um dia divertido. O que elas não imaginavam é o quanto iam aprender nessa visita. O professor Tupã também foi convidado e conta para as crianças muitas novidades sobre o meio-ambiente e a Escola da Floresta. Ailton Krenak assina as orelhas.

Carta ao Demônio – O poeta gaúcho Ricardo Silvestrin (Libretos) lançou, na Livraria Argumento, no Leblon, Rio de Janeiro, seu novo livro de poesia. A capa, impactante, bem ao gosto dos jovens leitores, nos atiça à leitura de poemas atuais, críticos e contundentes. O lançamento contou com a participação dos poetas Antonio Cícero, Paulo Sabino e Luís Turiba.

PARA-CHOQUE
Envelhecer para se renovar.
Vai longe no tempo o último grito.
Hoje tinha uma festa de bem-te-vis pelo céu.
Imitei o canto com um assobio.
Não sei se me ouviram,
se responderam pra mim,
ou me ignoraram.
Eu dizia: envelhecer para se renovar.
Grafar este verso num para-choque de caminhão. (p.82)