A literatura renova o pensamento e move o mundo
Nilma Lacerda coordenou um grupo de autores e educadores,
entre os quais me incluo, com a audaciosa proposta de discorrermos
sobre temas polêmicos que devem ser abordados na sala de aula.
Preconceitos, mitos, morte, abusos, abandono, sexualidade, violência,
assuntos presentes no dia a dia das notícias e quase sempre silenciados
pelas vítimas. Assim surgiu a obra Temas Polêmicos na Literatura – A
necessária presença na escola (Olho de vidro).
Apesar de ainda não editada, a obra foi apresentada em Campinas,
São Paulo, no Congresso de leitura – COLE (Nilma Lacerda, Fabíola Farias
e Anna Rennhack) e no Salão do Livro da FNLIJ, no Rio de Janeiro (Nilma
Lacerda, Ricardo Benevides, Luiz Antonio Aguiar e Anna Rennhack). Os
professores presentes aos eventos demonstraram grande interesse pelos
temas, já que encontram muitas dificuldades para lidar com os mesmos
e oferecer a seus alunos a oportunidade de se expressarem.
Nilma sempre me pareceu falar de forma terna, suave, característica da
confiança nos conteúdos que desenvolveu em sua trajetória de
estudos e pesquisas. Porém, seus textos gritam! Clamam por justiça e é
na força das histórias que seus personagens ganham vida e nós os reconhecemos.
Os temas polêmicos estão presentes em todas as suas obras.
Em Estrela de Rabo e Mais Histórias (Nova Fronteira, ilustrações de Eloar Guazzelli), a autora reúne contos que passam por lembranças dos clássicos da literatura e inspiram histórias diversas: a fuga de um pai manipulador; a favela com violência e misticismo; a crueldade da escravidão no garimpo; até chegar ao olhar que busca o céu, em um lixão. Temas fortes, reais e que vão estimular alunos e professores a um debate sobre a realidade.
Recebi do José Arrabal, autor de vários livros sobre mitos e lendas de origens diversas, O Livro das Origens (Paulinas, ilustrações de Andréa Vilela). Apesar de não ser edição recente, vale a pena conhecer as sete histórias adaptadas pelo autor, que nos transportam para a origem do mundo em lendas de povos originários da África (África do Sul, Uganda e Togo), do Brasil (Amazonas e Pará) e do México e que contam como começou: a chuva; o fogo; o homem; a noite; o sol; a lua e a morte. Destaque para as ilustrações de Andréa Vilela.
Uma Aventura do Velho Baobá, de Inaldete Pinheiro de Andrade (Pequena Zahar, ilustrações de Ianah Maia), traz a força da ancestralidade africana no encontro com novas terras, novas tentativas de viver. Ele vem da África, atravessa o oceano em busca de seus irmãos. Se lá é considerado e respeitado, por aqui não é o que acontece e ele vê que não há respeito, só lixo, correntes e muros que cercam e cerceiam o desenvolvimento dessas árvores-deuses. Mas seu retorno à África é de esperança. Há sementes, flores e novos baobás certamente nascerão e eles serão testemunhas do que o homem fará com o seu próprio destino.
Tayó – em quadrinhos – de Ms. Kiusam (Kiusam de Oliveira, Companhia das Letrinhas, ilustrações de Amora Moreira) – Tayó (“da alegria”, em iorubá) e seu amigo Kaiodê (“caçador de alegria”, em iorubá) apresentam, de forma leve, objetiva e simples, reflexões sobre conceitos como racismo, machismo, ancestralidade. Cada página é um convite a um novo posicionamento de valor e de conhecimento sobre si próprio e sobre a importância da cultura afro-brasileira.
Se (Semente – ilustrações de Biry Sarkis) – Ah, se eu pudesse mudar as coisas através de um dom especial, sempre de forma divertida, transformar a maldade, a chatice, o frio e o calor, mudar o mundo. Assim pensou Alessandra Pontes Roscoe e uma doce poesia vai propondo as trocas: Se... eu fosse inventor / Ah, quanta coisa eu inventaria. / A imaginação me levaria, sem eira nem beira, / para ser feliz de toda maneira. / Vamos brincar de inventar para toda tristeza uma alegria? Delícia de livro!
Rã e Sapo são Amigos – Texto e ilustrações de Arnold Lobel (Companhia das Letrinhas – tradução de Guilherme Semionato) – O título reflete todas as histórias do livro. São amigos e pronto! Gostam de estar juntos, ajudam um ao outro, são companheiros. A vida cotidiana de Rã e Sapo acontece de forma agradável, com passeios e diversão e com situações divertidas que refletem o carinho que sentem. Livro em capa dura, em edição cuidadosa, com uma parte ao final que narra toda a trajetória da criação dos personagens, quando foi originalmente lançado em 1970.