Tecnologia como mediadora de leitura

Convidada pelo presidente do Instituto Quindim, Volnei Canonica, para aula virtual para professores das Salas de Leitura de Caxias do Sul, o tema me motivou e trouxe boas lembranças e experiências. Tecnologia como moderadora de leitura – como aproximar crianças e jovens da leitura, com a interferência da tecnologia? Como os alunos das escolas públicas estão convivendo com as aulas virtuais em época de isolamento? Sabemos que esse acesso não é democrático e as limitações econômicas dificultam e limitam o acesso a computadores, tablets e celulares.

Partimos, então, da ideia da proposição de atividades pelos professores, selecionando e planejando encontros em que as TICs – Tecnologias de Informação e Comunicação, sejam incluídas. Inicialmente, enfatizamos que as tecnologias aplicadas à educação não têm compromisso com modismos ou novidades, deverão ser utilizadas como motivadoras, busca de caminhos alternativos à leitura. A BNCC – Base Nacional Comum Curricular, prevê e estimula a utilização das tecnologias nas escolas, mas cada instituição deve identificar possibilidades e dificuldades dessa aplicação. Pesquisa realizada pela Fundação Roberto Marinho e Plano CDR, em março deste ano, antes da pandemia do Covid-19, demonstrou que 85% dos jovens acessam a internet pelo celular; 43% entre os das classes D e E relataram ter alguma dificuldade de usar a internet e 80% não se sentem preparados para usar a internet na sala de aula.

Já imaginaram as dificuldades de uma família com um celular para organizar aulas virtuais para os filhos em idade escolar? Em alguns pontos do Brasil, as Secretarias de Educação usaram alternativas para atingir aos alunos, como as TVs das Assembleias Legislativas e aulas pelo rádio, com o auxílio de emissoras locais. Somos um país de realidades diversas, mas temos possibilidades de, com criatividade, proporcionar atividades prazerosas e acessíveis aos alunos. Atualmente, as editoras fornecem pela internet vasto material para os professores, com sugestões de atividades, contação de histórias e interatividade. Vários autores mantêm, em páginas virtuais, e-books e narração de histórias liberados para uso. Atividades nos celulares proporcionam pesquisas, grupos de estudos, desafios, acesso a imagens, músicas e filmes.

Aproveitar a tecnologia em nossas atividades escolares será uma forma de criar novas áreas de interesse, despertar a curiosidade e a participação dos alunos. O isolamento social reforçou o uso da tecnologia como suporte educacional, mas é o livro o companheiro importante. O livro é a primeira tecnologia que nos transporta a espaços mágicos, com personagens e viagens especiais. Se tecnologia é apoio, a literatura é que nos leva mais adiante.

Apresentamos quatro livros que tratam de temas importantes e que precisam ser trabalhados e discutidos com os pequenos e jovens leitores: a manipulação de jovens que seguem um líder carismático sem análise; a aceitação de refugiados que buscam acolhida em nosso país (lembram do caso da menina agredida verbalmente por estudantes de um colégio de elite no Rio de Janeiro?); a questão de gênero com premissas pré-concebidas que rotulam a mulher como “recatada e do lar” e uma viagem à Amazônia que permite trazer para perto dos jovens os problemas da região e dos indígenas que ali habitam.

A Onda – o experimento que foi longe demais – Escrito por Todd Strasser e traduzido por Paula Di Carvalho (Galera Record) – Questionado por seus jovens alunos pela adoção do nazismo sem reação ou crítica pela juventude alemã, o professor de história Bem Ross recria o movimento em sala de aula e surge o grupo A Onda. As mudanças comportamentais da turma e as consequências do experimento abalam a todos. Um questionamento bem atual sobre o fascismo e a intolerância.

Poderia – Joana Raspall, ilustrações de Ignasi Blanch e tradução de Alexandre Boide (Brinque-Book) – Se você tivesse nascido em outro lugar, como poderia ser? A importância de manter os braços abertos e acolher aqueles que fogem das guerras para escapar do sofrimento e da pobreza e que buscam encontrar uma vida melhor e alegria em outros lugares. As balsas precárias que atravessam o Mediterrâneo em busca de acolhimento na Europa sempre nos comovem, mas esquecemos que muitos refugiados também chegam ao Brasil e nem sempre encontram por aqui a bondade do abraço fraterno. Importante tema tratado de forma acessível às crianças.

Eu Sou uma Menina! – Yasmeen Ismail, tradução de Gilda de Aquino (Brinque-Book) – Determinada, esperta, cheia de atitude e energia, assim é a menina dessa história. E não é que muita gente a confunde com um menino?! Lembram daquela velha história que meninos jogam bola e meninas brincam de boneca? Ou que meninos vestem azul e meninas vestem rosa? Bem, a nossa menina mostra que não é bem assim!

Perdido na Amazônia 1 – Toni Brandão, ilustrações de Luciano Tasso (Global) – Perdido na Amazônia, Dan vai descobrir planos perigosos, encontrar-se com indígenas e se deparar com uma cultura muito diferente da sua. E com um final surpreendente, Dan vai conhecer muito além da floresta e seus mistérios! A leitura vai motivar para a análise dos problemas pelos quais passa a região e seus habitantes: queimadas, grileiros, garimpeiros que aumentam o desmatamento de um dos mais importantes ecossistemas do mundo.