Meu amigo Daniel Azulay virou estrelinha, virou não, sempre foi. Estar ao seu lado nos enchia de alegria com as boas histórias, o jeito de menino, a paixão pelas crianças e o trabalho artístico totalmente a elas dedicado. Foi na Manchete onde nos conhecemos. Bloch Editores começava o Departamento de Histórias em Quadrinhos e Daniel trouxe com ele toda a Turma do Lambe-Lambe. Um dia, me apresentou um livrinho esquisito, comprido, onde os textos ficavam meio exprimidos. Conversamos, dei sugestões, ele atendeu às orientações e nasceu Bufunfa no Mundo das Cores (1975), seu primeiro livro e minha primeira edição de literatura infantil (naquela época, trabalhava com livros didáticos). Bufunfa era um simpático elefantinho que coloria o mundo com lápis mágicos. Anos depois, em breve reencontro na Editora Record, contou dos novos projetos, com belos livros bilíngues (inglês/português).
A psicanalista Sandra Niskier Flanzer, em apresentação para a Casa do Saber sobre o Luto, citou Freud e nos mostrou que a pandemia nos retirou os rituais de despedida. Apesar de convivermos diariamente com a presença da morte – o que conscientiza a nossa finitude – essa proximidade reforça a vida. É importante viver os rituais de luto de novas maneiras, cada um do seu modo. Assim, homenageio o querido Daniel Azulay com a sua imagem sempre colorida e cheia de vida e o “nosso” Bufunfa! “Algodão doce para você, Daniel!”
O isolamento nos proporcionou diferentes oportunidades de congraçamento e trocas. Com o estímulo da escritora Rosana Rios, escrevi o conto Acorda, Alice!, que integra a coletânea de contos Depois da quarentena (livro virtual Amazon).
Com o querido Tino Freitas (autor de Leila, Abacatte) participei de momentos deliciosos no curso A história dos contos de fadas. Durante três dias, em encontros de cerca de duas horas cada (sempre ficávamos um pouco mais), descobri que as histórias de Chapeuzinho Vermelho e de Os Três Porquinhos nunca mais serão as mesmas. Passamos por Perrault, os irmãos Grimm, Andersen e muitos outros até então desconhecidos. Com a ambientação da época e a busca das origens dos contos, Tino nos conduziu a caminhos mágicos. Um encontro delicioso que uniu cultura, prazer e afeto! Citada por Tino como exemplo de ilustração dos clássicos, a obra Chapeuzinho Vermelho, de Rui de Oliveira (texto de Luciana Sandroni, Companhia das Letrinhas) é o destaque. Aproveitamos para incluir duas adaptações divertidas da Brinque-Book: A Verdadeira História de Chapeuzinho Vermelho (Agnese Baruzzi e Sandro Natalini, tradução de Índigo) e Chapeuzinho e o Leão Faminto (Alex T. Smith, tradução de Gilda de Aquino)
Ao abrir Se Eu Fosse um Grande Gigante (Guridi, tradução de Márcia Leite, Pulo do Gato), logo me lembrei de Manoel de Barros, que amava os pequenos seres da natureza e não cansava de observá-los e transformá-los em poesia. Vejam como o texto de Guridi nos remete à poesia de Manoel:
Hoje eu dei de cara com uma trilha de formigas.
Então pensei:
Para elas eu sou enorme.
Não, mais que enorme,
sou um grande gigante.
E assim segue a história, com o pequeno menino imaginando como seria a vida de
“grande gigante”: mexeria nas nuvens, abraçaria as montanhas, mas... e depois?
Meus amigos mais chegados sabem
que Bartolomeu Campos de Queirós escreveu
esse livro para mim! O Fio da Palavra foi um
dos últimos textos que escreveu! Sensível e
delicadamente ilustrado pelo querido Salmo
Dansa.
Agora ele revive, vigoroso, na Global!
Será tratado como merece, por quem sabe,
com amor e sensibilidade! Obrigada, Luiz
Alves! Viva o Bartô!
A vida é um fio,
a memória é seu novelo.
Enrolo – no novelo da memória –
o vivido e o sonhado.
Se desenrolo o novelo da memória,
não sei se tudo foi real
ou não passou de fantasia.