Janeiro - 2022 - Edição 275

Sempre Clarice

À Procura da Própria Coisa: Uma biografia de Clarice Lispector (Editora Rocco) é fruto da edição revista e aumentada de Eu Sou uma Pergunta (Rocco, 1999) somada a três décadas de pesquisas da professora Teresa Montero. Entre o expressivo material inédito de natureza documental e iconográfica, cumpre destacar raridades: a única entrevista de Clarice Lispector em seu apartamento no Leme, filmada pela TVE e conduzida por Araken Távora para o programa Os Mágicos (em 1976); e as fichas de Clarice registradas pela Polícia Política entre 1950 e 1973, garimpadas no APERJ e no Arquivo Nacional. Estas revelam novos aspectos de sua participação nos movimentos contra a ditadura militar no Brasil. Por outro lado, a trajetória literária de Clarice Lispector ganha nova luz, em particular com o relato detalhado de sua última viagem ao Recife (também documentada em imagens inéditas), material que oferece reflexões sobre a composição de sua obra mais popular, A Hora da Estrela. Os bastidores da criação de A Paixão Segundo G.H. e Água Viva, somados à faceta da escritora como crítica literária na revista Senhor, são outras preciosidades reveladas neste volume. Livro que mostra a construção de uma biografia como resultado de um trabalho coletivo, Teresa Montero destaca a importância dos arquivos públicos e dos pesquisadores na preservação do patrimônio cultural e do legado clariceano. Ela apresenta Clarice como uma mulher cuja obra serve de base para se poder mais profundamente sentir e pensar. Teresa Montero é, sem dúvida alguma, uma das maiores especialistas na vida (e também na obra) de Clarice Lispector

Origem do futebol

Mario Prata comemora sessenta anos de carreira em um divertido romance sobre o mito de origem do esporte mais amado do Brasil. O Drible da Vaca (Editora Record) combina imaginação livre e pesquisa profunda, inspiração e transpiração. O resultado é um gol de placa, que diverte e surpreende a todos. O que você sabe sobre a origem do futebol? Inventado pelos ingleses, o que o liga a chineses e florentinos? Como se calcula o tamanho do gol, quem teve a brilhante ideia de usar a bola, como foram criadas as regras fundamentais do esporte mais popular do mundo? E afinal, o que a sala de maconha – que existe mesmo no Palácio de Buckingham! – tem a ver com essa história? Para contá-la, trocando passes entre o real e o imaginário, mesclando personagens históricos e fictícios em improváveis tabelinhas, Mario Prata nos transporta para a Universidade de Cambridge, na Inglaterra de 1859, usando como narrador um tal John H. Watson – ainda apenas um professor de Educação Física, mas que anos depois ficaria mundialmente conhecido como o futuro parceiro de Sherlock Holmes. Revelando detalhes sobre os primórdios do futebol que nem os britânicos conhecem, e turbinando-os com privilegiado senso de humor, “O livro é genial. Só tem um defeito: não fui eu que escrevi!” – Jô Soares; “Um barato o livro, uma delícia! Tem apelo em vários sentidos. Sarah, a protagonista feminina, rouba a cena, e não é a bola.” – Pedro Bial; “Espetacular! Incrível o trabalho de pesquisa! E a parte em que o autor viaja na ficção é maravilhosa.” – Reginaldo Leme; “Impossível sair indiferente, se não estupefato, da leitura deste livro: uma goleada literária como faz tempo não se via pelos gramados do mundo.” – Juca Kfouri.

Perspectiva original

Os Bridgertons – Um amor de família (Editora Arqueiro) é uma exuberante coletânea – com introdução de Julia Quinn e projeto gráfico especial – reúne citações de lady Whistledown e as passagens mais inesquecíveis do universo dos Bridgertons, a família que deu origem à aclamada série da Netflix. Lady Whistledown acompanhará você pelos episódios mais dramáticos, românticos e divertidos vividos pelos integrantes do mundo criado por Julia Quinn. É um presente perfeito para os fãs tanto dos livros quanto da série adaptada pela Shondaland. Cada capítulo tem um protagonista diferente e inclui uma apresentação inédita de lady Whistledown, assim como citações do próprio personagem e comentários que outros personagens fizeram sobre ele ao longo de todos os romances da coleção, oferecendo uma visão completa dos membros mais queridos desse elenco formidável. De Daphne a Simon, passando por Anthony, Penelope, Colin, Eloise e a adorada matriarca Violet, este livro mostra os Bridgertons de uma perspectiva original e intimista. Você terá a oportunidade de reviver as histórias e seguir (ou não) os conselhos dos seus personagens preferidos sobre relacionamento, família, etiqueta e moda. Julia Quinn começou a trabalhar em seu primeiro romance um mês depois de terminar a faculdade e nunca mais parou de escrever. Seus livros já passaram da marca de 15 milhões de exemplares vendidos, sendo mais de 2 milhões no Brasil. Seus romances já foram traduzidos para 37 idiomas.

Inspiracão

Em Will, (Editora Best Sellers) uma das maiores personalidades do entretenimento se abre em uma biografia corajosa e inspiradora sobre sucesso, felicidade e conexão humana. Ao longo da narrativa, Will Smith descreve em detalhes uma das jornadas mais incríveis já vividas no mundo da música e do cinema. O processo de transformação de Will Smith de um jovem do oeste da Filadélfia a um dos maiores astros do rap de sua geração e, posteriormente, um dos nomes mais conhecidos de Hollywood é uma narrativa épica – mas é apenas parte da história. Will pensava, com razão, que tinha vencido na loteria a vida: ele alcançara o estrelato e toda a sua família fazia parte do mais alto escalão do mundo do entretenimento. Mas não era bem assim que eles percebiam as coisas. A esposa e os filhos se sentiam atrações no espetáculo de Will, um trabalho em tempo integral para o qual não tinham se candidatado. A verdade era que a jornada de aprendizado de Will Smith ainda não havia chegado ao fim. Escrito em colaboração com Mark Manson, autor do best-seller mundial A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, Will conta a história de alguém que conseguiu tomar as rédeas das próprias emoções de uma forma que pode inspirar todos a fazerem o mesmo. Poucas pessoas terão a experiência de se apresentar nos maiores palcos do mundo, mas todas são capazes de entender que o combustível que guia experiências como essa pode ser diferente daquele que nos move no caminho para casa. Com dois encartes de 16 páginas de fotos inéditas do arquivo pessoal do autor.

Quatro fases

A Dama e o Monstro (Editora Gutemberg), de Sarah Maclean, é uma narrativa descontraída com personagens irreverentes, onde a autora propõe importantes reflexões acerca do papel da mulher na sociedade. Prestes a completar 29 anos, Lady Henrietta Sedley, a Hattie, é considerada uma solteirona para sua época. Longe de se incomodar com esse rótulo, ela está determinada a fazer deste “o ano de Hattie”. Seu plano tem quatro fases e o casamento não é uma delas. O que deseja é ser bem-sucedida nos negócios, ter uma casa, construir fortuna e um futuro tranquilo. O primeiro passo para atingir seus objetivos será perder a virgindade, garantindo assim a impossibilidade de se casar. Para isso, ela e sua melhor amiga, Nora, decidem ir para um bordel de luxo que atende mulheres. Tudo muito prático, não fosse o detalhe de encontrar um homem absolutamente lindo, inconsciente e amarrado dentro de sua carruagem. Assim começa a história de Hattie e Whit, mais conhecido como “Beast”, o Monstro, por sua fama de galã. Prontas para uma verdadeira batalha de inteligência e sedução? Sarah vive em Nova York com o marido, a filha, o cachorro e uma coleção gigantesca de romances. A autora é colunista no jornal americano The Washington Post, e suas colunas têm aparecido no The New York Times, Book Reviews e Parents Magazine. Ela também é defensora das questões relativas à educação e à alfabetização. Quando não está escrevendo, Sarah viaja pelo país para discutir sua posição nos estudos culturais e do gênero.

Universo feminino

“A vida é um colar. Eu dou o fio, as mulheres dão as missangas. São sempre tantas as missangas.” É assim que o donjuanesco personagem do conto O Fio e as Missangas define a sua existência. Fazendo jus a essa delicada metáfora, cada uma das 29 histórias aqui agrupadas alia sua carga poética singular à forma abrangente do livro como um todo – vale dizer, ao colar em questão. Com um texto de intensidade ficcional e condensação formal raras na literatura contemporânea, Mia Couto demora-se em lirismos que a sua maestria de ourives da língua consegue extrair de uma escrita simples, calcada em grande parte na fala do homem da sua terra, Moçambique, um pouco à maneira de Guimarães Rosa, ídolo confesso do autor. A brevidade das pequenas tramas e sua aparente desimportância épica estão focadas na contemplação de situações, de personagens, ou simples estados de espírito plenos de significados implícitos, procedimento típico da poesia. Os neologismos do autor, a que os leitores já se habituaram, para além de mera experimentação formalista revelam-se chaves fundamentais de interpretação da leitura. Não por acaso, a maioria dos contos de O Fio das Missangas adentram com fina sensibilidade o universo feminino, dando voz e tessitura a almas condenadas à não-existência, ao esquecimento. Como objetos descartados, uma vez esgotado seu valor de uso, as mulheres são aqui equiparadas ora a uma saia velha, ora a um cesto de comida, ora, justamente, a um fio de missangas. Fio das Missangas, de Mia Couto, sai sob a égide da Companhia das Letras.