Setembro - 2021 - Edição 271

Retorno

Após quinze anos sem escrever um romance, o imortal da Academia Brasileira de Letras Antônio Torres retorna ao gênero com Querida Cidade (Editora Record). Há escritores para quem o passado, o presente e o futuro não existem em separado, são uma coisa só. Essa fusão dos tempos faz com que seus personagens experimentem, simultaneamente, a vida que já viveram, responsável por eles serem como são, e a vida que ainda irão viver, pois a todo instante quem são hoje influencia, ou até determina, quem serão amanhã. Antônio Torres é um desses escritores. Querida Cidade acompanha a história de um protagonista que, assim como outros personagens do livro, deixou a pequena cidade onde nasceu – para tentar uma vida melhor, para estudar ou mesmo para fugir de algo. Ao conversar com a mãe sobre o pai, que sumiu sem deixar vestígios muitos anos antes, o filho rememora a sua própria trajetória de êxodo, independência, fracasso e eventual retorno às origens. Por meio de lembranças, projeções e referências culturais de um Brasil profundo, a narrativa costura o onírico e o cotidiano, amor e melancolia, desalento e aceitação. Triunfo de um grande autor em sua melhor forma. “Sua literatura tem uma força poética que trata o sórdido e o triste como partes de uma engrenagem criativa indisposta a falsificar a realidade ou a transgredir com os subterfúgios o que a história quer silenciar”, – Nélida Piñon.

Imaginário

Médico das roupas (Editora Bertrand Brasil), de Fabrício Carpinejar, conta a história de um menino solitário que descobre a sua vocação e passa a ser amado pela família e pelos amigos. Juliano não gosta de futebol, não gosta de redes sociais, não gosta de videogame, não gosta do que todo mundo de sua idade gosta. Mas ele se encantou com a arte da linha e costura. O que ele mais deseja na vida é fazer as suas próprias roupas e não depender mais dos pais para se vestir. Ele torna-se médico das roupas, salvando peças mortas e descartadas com o seu desenho e com a sua imaginação. Fabrício Carpinejar é poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, além de coordenador e professor do curso de Formação de Escritores e Agentes Literários da Unisinos. Filho do casal de poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, nasceu na cidade gaúcha de Caxias do Sul em 1972. Carpinejar foi traduzido ao alemão e assinou contratos na Itália e na França. Participou de antologias no México, Colômbia, Índia e Espanha, e vem sendo aclamado por escritores do porte de Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes, Ignácio de Loyola Brandão e Antonio Skármeta como um dos principais nomes da poesia brasileira contemporânea. Recebeu diversos prêmios, entre eles o Maestrale/San Marco (2001), Açorianos (2001 e 2002), Cecília Meireles (2002), Olavo Bilac (2003) e Prêmio Erico Verissimo (2006)

Sangue latino

Resultado de cinco anos de pesquisa e quase duzentas entrevistas, a história de uma das mais relevantes personalidades artísticas do Brasil de nosso tempo. Aliado apenas à própria intuição, Ney Matogrosso abriu um caminho único na música brasileira. Enfrentou as intransigências do pai militar e os dogmas da Igreja Católica, sobreviveu aos anos de chumbo e à sombra da aids, manteve-se firme diante das promessas de riqueza do showbiz, das críticas a seu “canto de mulher” e da vigilância das censuras. O jornalista e biógrafo Julio Maria passou cinco anos perseguindo a trilha de Ney para contar a história de um dos personagens mais transformadores da cultura do país. Visitou a casa em que ele nasceu em Bela Vista do Mato Grosso do Sul, a vila militar em que viveu a conturbada adolescência com o pai em Campo Grande e o quartel da Aeronáutica que o abrigou como soldado no Rio de Janeiro. Encontrou um irmão mais velho do qual a família não tinha notícias, levantou documentos de agentes que o observaram durante a ditadura e localizou fatos raros da fase Secos & Molhados. Ney Matogrosso – A biografia (Cia das Letras) vai às camadas mais profundas da história de Ney para entregar a vida de um artista que pagou caro por defender seu direito de ser livre. “Leitura emocionante, Julio Maria vai fundo no retrato do artista que marcou para sempre a vida brasileira. [...]”, – Caetano Veloso.

Racismo

Obra pungente, intensa e atual – porém por muito tempo esquecida –, Tornar-se Negro (Zahar Editora) virou um marco no Brasil ao discutir os efeitos psíquicos do racismo na identidade de pessoas negras. Com novo prefácio de Maria Lúcia da Silva, além do prefácio de Jurandir Freire Costa à edição original, este volume traz ainda textos inéditos de Neusa Santos Souza. Publicado originalmente em 1983, Tornar-se Negro foi pioneiro ao conectar a psicanálise com a questão racial. De forma inovadora e potente, a psiquiatra e psicanalista Neusa Santos Souza dedicou um estudo acadêmico à vida emocional de negros e negras, justificado pela absoluta ausência de um discurso nesse nível elaborado pelo negro acerca de si mesmo. Partindo da própria experiência de ser negra numa sociedade de hegemonia branca, Neusa analisa uma série de depoimentos dados a ela, assinalando neles as consequências brutais do racismo e da introjeção do padrão branco como o único caminho de mobilidade social para o negro. São histórias de vida de dez personagens que se autodefinem e falam das estratégias para a ascensão, cujo custo emocional é o da sujeição, negação e apagamento de suas identidades, sua cultura e seus corpos. Intelectual brilhante, Neusa Santos Souza deixou imensa contribuição para o movimento negro e a prática psicanalítica. Reeditar Tornar-se Negro é reacender o seu legado, manter viva a sua memória.

Memórias afetivas

Mestra na arte da narrativa curta, Ana Maria Machado nos mostra como as alegrias e dissabores do presente podem ser vestígios de tempos passados. São onze histórias que expressam uma visão íntima e profunda da existência, fazendo de Vestígios (Alfaguara) uma obra ímpar da literatura contemporânea. Algumas das onze histórias que compõem este livro começaram a ser elaboradas por Ana Maria Machado há muitos anos. Independentes entre si mas conectadas pelos fios das relações familiares, elas versam sobre as nossas escolhas e memórias afetivas e sobre a passagem do tempo. Os personagens são pessoas comuns em situações cotidianas – uma mãe que nunca conseguiu expressar o amor que nutre pelo filho; duas irmãs que disputam a atenção do pai; uma jovem recém-casada que vai morar num país estrangeiro; uma avó convivendo com seus netos; uma mulher de meia-idade diante de uma infidelidade; um jovem que não consegue confiar em ninguém. Com lirismo e profundidade, estas narrativas nos fazem confrontar naturalmente nossas próprias escolhas e suas consequências. Em resumo, Vestígios é um livro que atesta a incomparável capacidade de Ana Maria Machado em se comunicar com o leitor. “Para as crianças, Ana Maria destaca-se como criadora de um texto de rara musicalidade, além de um estilo leve e, ao mesmo tempo, denso [...]. Já sua literatura adulta é marcada por uma escrita apurada, desafiadora, denunciadora. Na verdade, tais frases poderiam ser invertidas, pois Ana Maria busca a cumplicidade do leitor, independente de sua idade”, – Agência Estado.

Inspiração

Vanessa e Thiago são dois jovens que ainda não abandonaram seus amigos imaginários. Depois de perderem o grupo de terapia que frequentam, eles decidem criar o clube dos amigos imaginários com Ricardo e Júlia, para continuar se reunindo e encontrar apoio para seus medos e traumas. Com muitos sonhos e amigos em comum, os quatro se jogam em uma série de aventuras que só o destino sabe onde vai dar. Narrando os encontros e desencontros desse grupo de amigos nada convencionais, O Clube dos Amigos Imaginários (Editora Verus) de Glau Kemp, nos insere em um universo repleto de sensibilidade, muitas vezes incompreendida, e acontecimentos capazes de transformar para sempre a vida de cada um de seus personagens. Em seu segundo livro, Glau Kemp nos leva a reflexões sobre os caminhos pelos quais a mente pode perambular para nos ajudar a crescer e confirma seu talento para a literatura juvenil. Original e irreverente, O Clube dos Amigos Imaginários é um livro que ninguém vai abandonar enquanto não chegar ao fim. Inspirador para adolescentes e uma recordação para os adultos que esqueceram que já foram jovens. A Voz – o amigo imaginário dele. E o Urso Bobo – o amigo imaginário dela. “Uma história inusitada sobre coisas sérias, contada pela voz de amigos imaginários. A leveza da narrativa de Glau Kemp é sedutora e te levará até as últimas páginas através de personagens que ficarão para sempre na sua memória”, – Juliana Daglio, autora de Lacrymosa