Setembro, 2021 - Edição 295

126 Anos da Academia Brasileira de Letras

Há 126 anos protagonizando ações de relevância cultural que a inscrevem no epicentro da nação, a Academia Brasileira de Letras (ABL) celebrou mais um aniversário, com uma noite marcada pela alegria e emoção. A concorrida solenidade, no Petit Trianon, somou-se à entrega dos prêmios Machado de Assis, da medalha Machado de Assis, do prêmio Francisco Alves e da medalha João Ribeiro aos funcionários da ABL.

Mais importante prêmio literário da ABL – e o mais antigo do país – o Machado de Assis é conferido a nomes que se destacam pelo conjunto de sua obra. Em junho, a escritora Marina Colasanti foi anunciada como a vencedora deste ano. Ela recebeu R$ 100 mil pelo prêmio.

Uma das autoras mais premiadas do país, Colasanti já venceu sete vezes o Jabuti em diversas categorias, incluindo conto (Eu Não Sei se Devia, 1997), poesia (Passageira em Trânsito, 2010) e infantil (Breve História de um Pequeno Amor, 2014). Nascida numa família de artistas, neta de um professor de uma escola de artes, crítico de arte e escritor, filha de Manfredo Colasanti e irmã de Arduino Colasanti, ambos atores, e sobrinha- -neta de Gabriella Besanzoni, cantora lírica, Marina esteve sempre cercada por arte. Sua formação também como artista plástica possibilitou que ela mesma pudesse, mais tarde, ilustrar suas obras. A vasta produção literária de Marina Colasanti abrange mais de cinquenta títulos de poesia, contos e crônicas, publicados no Brasil e traduzidos em diversas outras línguas. Suas obras são bastante variadas e atraem leitores de diversas faixas etárias. Em seu discurso de agradecimento, Marina Colasanti falou sobre o carinho do público: “Entro em supermercado e me abordam dizendo que me reconheceram porque leram meus livros na escola. Eles continuam valendo.”

Já a medalha Machado de Assis foi entregue ao publicitário Nizan Guanaes em reconhecimento a serviços relevantes prestados à Academia. Em 2022, o publicitário e consultor baiano criou uma campanha para as comemorações dos 125 anos da ABL. Um dos destaques foi o vídeo “Sou o Brasil; todos os Brasis”, com personagens da literatura que se tornaram populares tanto em filmes quanto na teledramaturgia. A peça ressaltou a simbiose da literatura com a música e a dramaturgia, relembrando o sucesso das novelas da Globo criadas a partir de livros escritos por imortais da ABL. Honrado com a premiação, Guanaes fez um discurso emocionado: “Estou muito feliz, e ainda descobri que a medalha foi criada no dia 8 de maio de 1958. E eu nasci no dia 9 de maio. Quem faz pela Academia não dá, devolve. Eu, tal e qual vocês, tiro meu sustento da língua portuguesa. Só que vocês fazem do simples o profundo”, afirmou.

A trajetória de Guanaes é pontuada de sucessos. Entre eles, em 2010, foi eleito um dos cinco brasileiros mais influentes do mundo pelo Financial Times. No ano seguinte (2011), foi nomeado um dos 21 profissionais mais influentes na área de mídia e marketing pela Advertising Age, revista americana considerada uma das mais respeitadas do mercado publicitário. No mesmo ano, foi eleito uma das 100 pessoas mais criativas do mundo pela Fast Company, revista estadunidense de negócios e tecnologia. Nizan Guanaes é, também, embaixador da Boa Vontade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em reconhecimento por seu apoio às ações da organização nas áreas de educação, inclusão social e formação para os grupos vulneráveis.


Outros prêmios>

Depois de alguns anos passados em branco, a ABL voltou a conceder o prêmio Francisco Alves, destinado a especialistas em monografias de ensino elementar. A previsão do patrono era de que a concessão fosse de cinco em cinco anos, mas, por motivos diversos, inclusive a pandemia, isso não aconteceu nos últimos anos.

Por sugestão do acadêmico Arnaldo Niskier, aprovada por unanimidade no plenário da ABL, o prêmio de 2023 foi atribuído à educadora Roberta Barreto, hoje secretária de Estado de Educação e que foi também secretária Municipal de Educação do município de Duque de Caxias.





Graduada em História, Roberta Barreto tem mais de 30 anos de carreira. Foi diretora de escola e coordenadora regional da União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME-Rio). Membro fundadora do Fórum de Combate à Violência contra a Mulher de Duque de Caxias, por duas vezes foi subsecretária de Estado de Governo. Formou-se na rede estadual pelo Instituto de Educação Roberto Silveira.

Os funcionários da ABL receberam a medalha João Ribeiro, pelos serviços prestados à cultura. Foram representados pela funcionária mais antiga da Casa, Carmen Oliveira. A medalha João Ribeiro foi criada em 1962 para homenagear pessoas ou instituições nacionais que se destacavam no âmbito editorial e cultural. Além das premiações, a acadêmica Lygia Fagundes Telles, falecida em 2022, foi homenageada pelos Correios com um selo comemorativo, lançado durante a cerimônia.

Quando foi inaugurada, em 1867, a ABL deu início a uma fascinante jornada do espírito brasileiro, refinando a nossa cultura em compasso com o humanismo. Conjugando saberes diversos do cenário cultural, político e social, parte essencial do imaginário nacional se reforça através dos acadêmicos que, desde então, ajudaram a pavimentar o papel da instituição como guardiã e promotora do pensamento humanista. A Casa de Machado, como ficou conhecida, equilibrada entre tradição e modernidade, foi mantendo os valores de sua fundação, com devoção ao empenho memorialístico. Para o presidente da ABL, Merval Pereira, a Academia mostra que a cultura tem participação no cotidiano do país e está presente nas decisões da sociedade: “Fazer 126 anos num país como o Brasil, que esquece o passado muito rapidamente, é importante, é sinal de que a instituição está firmemente fincada na história brasileira e na história da cultura brasileira”, afirmou.



Antonio Carlos Secchin, secretário-geral da Academia, lembrou o papel da ABL para a cultura e a literatura brasileira. “Em 126 anos, a Academia Brasileira de Letras nunca foi vinculada a ideologias políticas. É um espaço aberto, simultaneamente, à preservação e à mudança”, enfatizou Secchin. Nascida à margem de rupturas, a ABL carrega, em seu gene embrionário, a capacidade de regeneração e superação, com o respaldo de uma histórica pujança intelectual. As vozes, que nos chegam, hoje, do passado, solidificam a certeza da permanência da arte e do livre curso do pensamento criativo.

Por Manoela Ferrari