Jeneiro, 2022 - Edição 275

Os novos imortais da casa de Machado de Assis

Neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho é eleito imortal da ABL

Agente atuante da ciência e da cultura, o médico e escritor Paulo Niemeyer Filho é o novo ocupante da Cadeira 12 da Academia Brasileira de Letras, que ficou vaga com a morte do acadêmico e professor Alfredo Bosi, ocorrido no dia 7 de abril de 2021.

Aos 69 anos, o neurocirurgião é autor de livros de sucesso, como O que é Ser Médico e No Labirinto do Cérebro. Concorrendo com o escritor Joaquim Branco e o indígena Daniel Munduruku (que seria o primeiro indígena a entrar para o grupo), em sessão híbrida no Petit Trianon, o diretor médico do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e membro do Conselho da Fundação do Câncer foi eleito com 25 votos. “Em sintonia com o humanismo e a modernidade, sua presença reafirma o compromisso desta casa com o conhecimento integral, de que ele, Paulo, é mestre consumado”, declarou o presidente da ABL, o acadêmico Marco Lucchesi.

Participaram da eleição 34 acadêmicos de forma presencial ou virtual. Os ocupantes anteriores da Cadeira 12 foram: Urbano Duarte (fundador) – que escolheu como patrono França Júnior –, Augusto de Lima, Vítor Viana, José Carlos de Macedo Soares, Abgar Renault e Dom Lucas Moreira Neves.

O novo imortal passará a participar das sessões na ABL, com direito à fala e voto, depois da cerimônia de posse, que será individual, devendo ser realizada no primeiro semestre de 2022.


Biografia

Paulo Niemeyer Filho nasceu no dia 9 de abril de 1952, no Rio de Janeiro. Filho de Paulo Niemeyer Soares e Maria Pia Rafaela Guilhermina Alice Torres Guimarães, graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1975.

Em 1977, foi nomeado Chefe do Serviço de Neuro-Tomografia Computadorizada da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi contratado como médico Neurocirurgião do Hospital Municipal Souza Aguiar.

Em 1979, introduziu, no Brasil, nova técnica microcirúrgica para tratamento de nevralgia do trigêmio. Ao final de 1979, foi nomeado diretor do Instituto de Neurocirurgia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

Em 1980, após exame de seleção, obteve o título de Especialista em Neurocirurgia, outorgado pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Em 1982, foi aprovado em exame de seleção, como membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

Professor adjunto e coordenador do curso de Pós-Graduação em Neurocirurgia da Fundação Carlos Chagas, em 1983, neste mesmo ano, foi nomeado chefe do serviço de Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina, aprovado pela banca examinadora.

Em 1984, como membro fundador, foi eleito presidente da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro e membro do Conselho Superior da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Eleito Irmão da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro em 1985, um ano depois passou em primeiro lugar no concurso para professor titular de Neurocirurgia da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio. Em 1987, foi aprovado como membro internacional da Sociedade NorteAmericana Congress of Neurological Surgeon. Em 1989, foi eleito membro do Neurotraumatology Committee do Word Federation of Neurological Societies. É vice-diretor da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, nos biênios 1992-1994 e 1994- 1996 e diretor da Escola Médica de Pós-Graduação da mesma instituição, nos biênios 1996-1998 e 1998-2000.

Atualmente, é diretor médico do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e membro do Conselho da Fundação do Câncer.

Na ocasião de sua candidatura como membro titular da Academia Nacional de Medicina, apresentou memória intitulada “Experiência com a Cirurgia dos Aneurismas Intracranianos da Fossa Posterior”.


O jurista José Paulo Cavalcanti entra para a ABL com o Passaporte da Literatura

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O quarto de cinco novos imortais escolhidos pela Academia Brasileira de Letras na retomada aos trabalhos, após paralisação devido à pandemia da Covid-19, o jurista e romancista José Paulo Cavalcanti vai ocupar a cadeira 39 da Casa de Machado, a partir deste ano.

Com 21 votos, o novo imortal pernambucano, autor de 18 livros, foi eleito em sessão híbrida, no Petit Trianon, no lugar do acadêmico e vice-presidente Marco Maciel, que morreu no dia 12 de junho deste ano. Após a votação, o presidente da ABL, Marco Lucchesi, procedeu à tradicional queima dos votos e declarou, em comunicado oficial: “José Paulo Cavalcanti é um renomado estudioso de Fernando Pessoa, tão íntimo e intenso, como se fosse parente espiritual do poeta. Ensaísta e pesquisador refinado, a biografia que ele redigiu sobre Pessoa circula nos quatro cantos da Terra. José Paulo entra para a ABL com o passaporte da literatura. Ou talvez com mais de um documento, se considerarmos os heterônimos de Pessoa, que assombram e iluminam o novo acadêmico eleito.

Participaram da eleição 34 Acadêmicos de forma presencial ou virtual (um não votou por motivo de saúde). Os ocupantes anteriores da cadeira 39 foram: Oliveira Lima (fundador) – que escolheu como patrono Francisco Adolfo de Varnhagen –, Alberto de Faria, Rocha Pombo, Rodolfo Garcia, Elmano Cardim, Otto Lara Resende e Roberto Marinho.

O acadêmico eleito



José Paulo Cavalcanti Filho nasceu no Recife, no dia 21 de maio de 1948. Com trânsito no meio político e jurídico, é advogado formado pela Faculdade de Direito do Recife (1971). Foi secretário-geral do Ministério da Justiça e ministro (interino) da justiça no governo do ex-presidente José Sarney e presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), da EBN (depois Empresa Brasil de Comunicação – EBC), e do Conselho de Comunicação Social (órgão do Congresso Nacional).

Consultor da Unesco e do Banco Mundial, ocupa, atualmente, a cadeira 27 da Academia Pernambucana de Letras. Membro da Ordem dos Advogados do Brasil, diretor do escritório de Advocacia José Paulo Cavalcanti, do Instituto dos Advogados de Pernambuco, e do Instituto dos Advogados Brasileiros, é também membro do Instituto de Direito Comparado Luso Brasileiro, advogado do Instituto Brasileiro de Estudos do Direito, Ministério da Justiça e do Conselho Pernambuco Pacto 21. É consultor da Secretaria da Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, da Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco e do Congresso Nacional.

Romancista com mais de 18 títulos escritos, alguns já publicados no exterior, o novo acadêmico é uma das maiores autoridades brasileiras na obra do português Fernando Pessoa, sendo também o maior colecionador de objetos pessoais do poeta. Em 2012, conquistou o prêmio José Ermírio de Moraes, pelo livro Fernando Pessoa – Uma quase autobiografia, além do primeiro lugar na Bienal do Livro e no Prêmio Jabuti. É vencedor do Prêmio II Molinello, na Itália. Recebeu, ainda, premiações na Romênia, Israel, Espanha, França, Holanda, Alemanha, Rússia, Inglaterra e Estados Unidos.

Em entrevista, ao saber de sua eleição para a Casa de Machado, declarou: “Espero contribuir para os dois objetivos mais amplos da ABL, que estão nos estatutos redigidos por Machado de Assis. Primeiro, que é defesa da língua nacional e da cultura. É também a ideia de que você tem a diversidade, você tem que respeitar a diversidade”, disse o escritor, completando: “E no fim de tudo é compreender a grande tarefa da Academia que é educação popular. Não tem nada mais moderno, transformador e revolucionário no Brasil do que educação popular, e eu vou fazer o que tiver ao meu alcance para isso.”


O economista Eduardo Giannetti vai ocupar a Cadeira 2 da ABL



Depois das eleições da atriz Fernanda Montenegro, do cantor Gilberto Gil, do neurocirurgião Paulo Niemeyer e do jurista José Paulo Cavalcanti, também entrou para a Academia Brasileira de Letras o economista mineiro Eduardo Giannetti. Sob a nova presidência do acadêmico Merval Pereira, também eleito há pouco tempo para o cargo administrativo, em uma das eleições mais acirradas da ABL, o Giannetti foi eleito imortal com 18 votos, para ocupar a cadeira 2, que pertencia ao filósofo Tarcísio Padilha. Antes de Tarcício Padilha, ocuparam a cadeira 2: Coelho Neto (fundador), João Neves da Fontoura, João Guimarães Rosa e Mário Palmério.

Em sessão híbrida no Petit Trianon, no Rio de Janeiro, dez concorrentes disputaram a última vaga da ABL, além de Gianetti: Sergio Bermudes, Gabriel Chalita, Samia Macedo, Antônio Hélio da Silva, José Humberto da Silva Henriques, Eloi Angelos Guio D’Aracosia, Jeff Thomas, José William Vavruk, Joana Rodrigues e Alexandre Figueiredo estavam no páreo. Dos 35 acadêmicos aptos a votar, apenas um deles não votou por motivos de saúde.

A eleição foi decidida em dois turnos. No primeiro, Giannetti teve 15 votos, Sergio Bermudes, 11 votos, e Chalita teve oito. No segundo turno, o novo imortal ficou com a vaga após ter sido escolhido por 18 acadêmicos. Nas outras quatro eleições deste ano, todos os eleitos foram escolhidos no primeiro turno.

O eleito



Eduardo Giannetti nasceu em Belo Horizonte, no dia 23 de fevereiro de 1957. É economista, professor, autor e palestrante formado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), ambas da Universidade de São Paulo. Possui doutorado em Economia pela Universidade de Cambridge (1987). Atualmente é professor da Ibmec Educacional. Foi também professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), da FEA-USP (1988-1999) e da Universidade de Cambridge (1984-1987).

Autor de diversos livros e artigos, sendo alguns deles traduzidos para diversos idiomas, foi vencedor por duas vezes do Prêmio Jabuti: o primeiro, em 1994, por Vícios Privados, Benefícios Públicos? e o segundo, em 1995, pelo livro As Partes & O Todo.

Entre seus outros trabalhos estão os livros Autoengano (1997), O Valor do Amanhã (2005), Trópicos Utópicos (2016) e O Elogio do ViraLata e Outros Ensaios (2018). Foi vencedor do prêmio Economista do Ano, pela Ordem dos Economistas de São Paulo, em 2004. Giannetti também atua como assessor do partido político Rede Sustentabilidade e foi o responsável por elaborar os planos econômicos de Marina Silva, durante as campanhas presidenciais de 2020, 2014 e 2018.

Por Manoela Ferrari