Agosto, 2021 - Edição 270

Hulk, de porta em porta

Trazer a esperança de volta e resgatar a autoestima das pessoas. Não são pequenas as ambições do multitalentoso Luciano Huck. Prestes a assumir o maior desafio de sua carreira, o apresentador aposta na função social da televisão para muito além do puro entretenimento. Pronto para marcar mudanças de rumo no dia mais nobre da programação vespertina da TV aberta, Huck vai ocupar o espaço do apresentador Faustão, que foi a atração mais concorrida das tardes de domingo, na TV Globo, desde 1989. Depois de 32 anos, Fausto Silva se despediu da emissora e voltará à Band.

Segundo a jornalista Patrícia Kogut, a saída de Fausto Silva da Globo é mencionada como “o fim de uma era”. Mas Luciano Huck tem tudo para ampliar o alcance do seu antecessor. Atento às novas mídias sociais, sempre se renovando na linguagem e no formato, desde que lançou o “Caldeirão”, em 1999, o apresentador dá as cartas na programação vespertina aos sábados. Carismático, firme e seguro, capaz de dominar a plateia, acumulou uma série de experiências e foi desenhando sua marca pessoal em torno de uma programação focada na conexão com as pessoas. Desembocou em quadros de enorme sucesso, tais como o “Lar doce Lar” e “Lata velha”. Sempre em busca de inovação, adicionou um capital educativo louvável ao programa, através do “Soletrando”.

Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, o apresentador do “Caldeirão” revelou sentir que foi muito mais ajudado do que ajudou pessoas, ao longo de sua carreira: “A minha relação é com as pessoas. Eu gosto de ouvir, conversar, mergulhar na história. Realmente me envolvo, de verdade. Pode parecer, nos meus programas, que eu estava impactando a vida das pessoas, mas eu posso garantir que o rio corre na direção oposta. O impactado fui eu, eu me transformei”, declarou.

Luciano Grostein Huck nasceu em São Paulo, no dia 3 de setembro de 1971. É filho do jurista Hermes Marcelo Huck e da urbanista Marta Dora Grostein, e irmão do diretor de cinema Fernando Andrade. Huck estudou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), porém não chegou a se graduar. Ainda adolescente, começou a trabalhar como assistente do fotógrafo J. R. Duran.

De acordo com a página do apresentador, no portal da TV Globo, desde cedo Huck despertou para a comunicação. Aos 20 anos, fez um estágio na agência W/Brasil, do publicitário Washington Olivetto. Estagiou também nas agências de publicidade DM9 e Talent, além de trabalhar na 89 FM (“Rádio Rock”) e na revista Playboy, na seção “20 perguntas”.

Aos 22 anos, habilidoso e inventivo, passou a assinar a coluna “Circulando”, no caderno de variedades do Jornal da Tarde. Na época, aventurou-se pela vida noturna paulistana: foi sócio do bar Cabral, badalado ponto da cidade. Também comandou o programa “Mingau”, que recebeu o nome de “Torpedo”, na rádio Jovem Pan FM, transmitido nas noites de domingo.


Não demorou muito tempo para receber um convite de Otávio Mesquita, apresentador do “Perfil”, na TV Bandeirantes, para assumir o “Paparazzo Eletrônico”, quadro sobre badalação noturna. Meses depois, já tinha seu próprio programa na CNT Gazeta, batizado de “Circulando”, uma revista eletrônica que ia ao ar de segunda a sábado. Na mesma ocasião, inaugurou o bar Sirena, em Maresia, litoral norte paulista.

Daí em diante, o sucesso foi meteórico. Meses depois, Luciano Huck levou o “Circulando” para a Bandeirantes, onde foi exibido por dois anos até dar lugar ao programa que projetou de vez seu nome: “H.” Voltada para o público jovem, a atração diária estreou em 1997. O programa era feito ao vivo, no mesmo horário do Jornal Nacional. Durante os três anos em que permaneceu no ar, a audiência só cresceu – o que chamou a atenção da Rede Globo.

Aos 27 anos, Luciano Huck deu a primeira virada em sua vida. A mudança para a Globo representou novo emprego, nova cidade e novos amigos. Determinado, incansável e muito inteligente, dedicou-se à formatação do “Caldeirão do Huck”, que foi ao ar, pela primeira vez, em 2000.

Os primeiros anos não foram fáceis. Exigiram ajustes e foco. Huck decidiu vender todos os negócios (restaurantes, bares, rádios – tudo o que não se relacionava à televisão) para vencer os desafios com dedicação exclusiva à carreira. Deu certo. Huck conseguiu transformar o “Caldeirão” em líder absoluto de audiência. Investindo num formato dos brasileiros. Exibido aos sábados, às 16h, para todo território brasileiro (além de veiculado para 115 países, pela Globo Internacional, o programa consolidou a audiência no horário que, no passado, foi ocupado pelo fenomenal Chacrinha.

Desde 2004, é casado com a também apresentadora Angélica, com quem tem 3 filhos: Joaquim, Benício e Eva. Huck recebeu o “Prêmio Extra de Televisão” de melhor apresentador de TV por seis anos consecutivos (2011, 2010, 2009, 2008, 2007 e 2006). Organizado pelo jornal Extra, a premiação é similar ao “The People’s Choice Awards”. O “Caldeirão do Huck” recebeu o mesmo prêmio, como melhor show de variedades, por nove anos (2011, 2010, 2009, 2008, 2007, 2006, 2005, 2004 e 2003), incluindo um prêmio pelo quadro “Soletrando”, em 2007.

Em 2017, após fazer matéria especial sobre a atuação do Exército Brasileiro na Missão das Nações Unidas para a estabilização, no Haiti, foi agraciado com a Ordem do Mérito Militar, a mais elevada distinção honorífica militar brasileira, sob o grau de oficial.

Outras atividades

O premiado apresentador é diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, ONG idealizada por ele que tem como missão promover o desenvolvimento profissional, social e pessoal de jovens por meio do audiovisual. Desde sua fundação, em 2004, 1.150 jovens foram atendidos no programa educacional. Graças ao Instituto Criar, Luciano foi um dos indicados para o prêmio “Empreendedor Social”, em 2007. A premiação de empreendedorismo social é dada pelo jornal Folha de São Paulo e pela fundação Schwab, cujo propósito é identificar líderes de cooperativas, empresas sociais (do setor privado que distribuem lucros para ajudar a sociedade), ONGs e indivíduos que desenvolvem ideias inovadoras e sustentáveis para benefício coletivo. Além de todas as atividades citadas, Huck é produtor de filmes nacionais, como Casa de Areia (2005), de Andrucha Waddington, e Era uma Vez (2008), de Breno Silveira. Em 2011, dublou Flynn Rider no filme “Enrolados”, da Disney.

Além do cinema, Huck mantém investimento em setores como o alimentício, turismo, vestuário e em hospitais veterinários. Atualmente, mais de onze milhões de pessoas seguem seus tweets (@LucianoHuck) e mais de quinze milhões curtem sua página no Facebook e seu perfil no Instagram.

De porta em porta

A multiplicidade do talento de Huck parece não ter fim. Em 2007, fez sua primeira incursão na literatura, lançando Na Terra, no Céu, no Mar, pela Editora Globo. O livro narra a rotina do apresentador em suas viagens de trabalho. As grandes reportagens têm início com a curiosidade jornalística de chegar a lugares surpreendentes, levando ao público experiências novas.

A edição é amplamente ilustrada com fotos tiradas pelo próprio autor durante gravações para o programa “Caldeirão do Huck”. São belas imagens que contribuem para transmitir o clima das viagens. O leitor tem a oportunidade de acompanhar as matérias do ponto de vista do apresentador e de sua equipe.

No texto, o olhar atento de Huck revela o perfil das pessoas que encontra durante as aventuras. O formato impresso permite a riqueza dos detalhes que fazem de cada viagem um evento único: como driblar as restrições e a falta de estrutura na África para chegar ao lugar onde vivem os animais; quais os preparativos para mergulhos em mares onde só se arriscam os mais experientes profissionais; quais as reações do apresentador e da equipe durante exaustivas caminhadas.

Na Terra, no Céu, no Mar – Viagens de aventura do Caldeirão do Huck foi escrito em conjunto com o amigo e parceiro de aventuras Rodrigo Cebrian, diretor-geral do programa. O prefácio, assinado pelo jornalista Paulo Lima, diz: “Luciano Huck viaja!” Sim, viaja por todos os cantos do mundo, viaja ao bolar novas aventuras e viaja numa prosa envolvente – daquelas de tirar o fôlego: um comunicador em todas as dimensões.

Ouvir e contar histórias: essa é uma das maiores paixões – e talvez seja a maior vocação de Luciano Huck. Em mais de vinte anos como apresentador, são incontáveis as experiências compartilhadas com pessoas, mundo afora.



Em 2020, isolado em casa e preocupado com os impactos da pandemia do novo coronavírus, Huck deu início a uma nova série de conversas. Desta vez, procurou também estudiosos de renome internacional, buscando trazer luz para o debate público. Como resultado, acaba de ser lançada, pela Editora Objetiva, sua segunda obra. De Porta em Porta reúne contribuições de figuras como Yuval Harari, Esther Duflo, Michael Sandel e Anne Applebaum, além de memórias pessoais e relatos de encontros com brasileiros anônimos, mas cheios de histórias para contar. A paixão por descobrir o que pessoas diferentes têm a contribuir pelo bem comum faz do autor um protagonista na arte do diálogo. A publicação promete replicar o sucesso.

Desde 2014, Huck tem se posicionado também em relação à vida política do País, chegando a cogitar, inclusive, uma candidatura à Presidência da República, o que não se concretizou. Apesar de o apresentador não ser candidato nas eleições presidenciais, em 2022, seu foco continua único: contribuir para a geração de um país melhor, potencializando a conexão entre as pessoas.

Por Manoela Ferrari