Setembro - 2025 - Edição 308

Carmen, a desenhista da família Teffé Conheci as filhas de Nair de Teffé graças a uma das bisnetas da artista. Em meados de 2011, quando o Orkut era a única rede social realmente forte, eu criei por lá um grupo para homenagear Nair de Teffé, nossa primeira caricaturista, conhecida pela chancela de Rian (Nair ao contrário). Por meses, nada de surpreendente surgiu, afinal, aquele grupo era frequentado, na maioria quase absoluta, por cartunistas jovens que pouco sabiam sobre ela. Até que um dia, recebi uma mensagem de uma menina bem bonitinha que se apresentou sem rodeios: “Olá, meu nome é Karine. Sou bisneta de Nair de Teffé, que legal que vocês criaram essa página!” A menina completou sua mensagem informando ser neta de Carmen de Teffé, e sobrinha-neta de Tânia e Paulo, os 3 filhos da nossa caricaturista pioneira. Com tantas informações interessantes e certeiras, passamos a trocar mensagens e informações sobre Nair de Teffé e a família.

Dias depois, Karine me passou os telefones de sua família, passei a manter contato com Carmen e Tânia, conversamos e trocamos algumas informações bastante interessantes que geraram alguns encontros presenciais. O primeiro deles aconteceu nas proximidades da Praça XV e, mais adiante, em março de 2013, no Sesc de Ramos, quando fui convidado para organizar uma exposição na galeria local para homenagear as artistas femininas por conta do Dia Internacional da Mulher. Naquela ocasião, aproveitei que eu havia digitalizado uma série de imagens sobre Nair de Teffé, e sugeri ao Sesc uma exposição que resumisse com textos e imagens a história marcante da artista. O evento possibilitou estreitamento mais efetivo com as filhas da famosa caricaturista, quando elas prestigiaram a exposição e compareceram à galeria do Sesc. No mesmo dia, agendei a presença da desenhista Déborah Trindade, que é habilidosa na prática de desenhar caricaturas ao vivo, pararetratar com muito humor as duas irmãs e presenteá-las com a arte que fez a fama de Nair de Teffé. Seis anos depois, a mesma exposição foi revisada, ampliada e novamente montada, desta vez na Sala de Cultura Leila Diniz, em Niterói. Mais uma vez, Carmen e Tânia marcaram presença e prestigiaram a mostra.

Durante os contatos com as filhas de Nair de Teffé, soube que Carmen é ótima desenhista e que participa regularmente de eventos e feiras de artesanato, quando exibe tecidos pintados à mão e desenhos e pinturas em peças de cerâmica. Numa das muitas conversas que mantive com Carmen, via WhatsApp, ela me contou que, quando era criança, foi flagrada por Nair de Teffé enquanto desenhava. Rian se surpreendeu com a qualidade da arte que a jovem Carmen colocava no papel e comentou: “Meu Deus, eu tenho uma artista dentro de casa!

Eu sou caricaturista, mas tem algumas coisas que eu não sei desenhar!” A partir desse dia, Nair de Teffé passou a incentivar Carmen a criar suas artes, comprou alguns materiais de desenho e pintura, entre os quais uma caixa de bastões pastel. Conforme Carmen evoluiu, Rian comentou sobre o talento da filha com o desenhista e pintor Adolpho Carvalho, que sugeriu levar a menina à TV Rio para desenhar ao vivo. Na época, Adolpho frequentava a emissora carioca e participava do programa Coisas da Praia Grande, de Carlos Couto, quando o artista desenhava caricaturas dos convidados durante a atração. Para incentivar Carmen, Rian resolveu aceitar a sugestão de Adolpho e levar a filha para participar de uma gincana na TV Rio.

Anteriormente, por dias seguidos, Carmen passou a visitar um cavalo que costumava pastar nas redondezas (na época, elas moravam em Pendotiba, numa área rural) e fez diversos esboços da cabeça do equino. “Eu desenhei e treinei tanto que, até hoje, consigo desenhar de memória a cabeça de um cavalo sem qualquer dificuldade!”, nos disse Carmen.

No dia do programa, a jovem desenhista subiu ao palco com outras crianças para desenhar e concorrer a um prêmio. Enquanto as outras crianças fizeram desenhos mais infantis e compatíveis com suas idades, Carmen surpreendeu com um desenho daquele cavalo que por dias ela observou. Não deu outra, seu cavalo foi escolhido como o melhor desenho e a menina saiu vencedora da gincana. Mas, aí, veio a decepção, esperando que fosse ganhar um prêmio valioso por sua arte, o programa a laureou com uma caixa de biscoitos, patrocinador da atração. “Era até uma caixa bonita, daquelas de lata, mas, na minha cabeça de criança, foi uma decepção!”, diz sem perder o bom humor. Hoje, Carmen de Teffé continua pintando e desenhando e, sempre que pode, participa de feiras de artesanato na cidade onde reside atualmente, em Saquarema, onde vende suas artes. De certa maneira, a filha de Rian manteve a tradição e as artes bem próximas da família Teffé. Importante ressaltar que, atualmente, Karine de Teffé está se preparando para organizar, recuperar e manter as memórias de Rian e da família Teffé. Já deixo registrado aqui a felicidade em saber dessa iniciativa da jovem que, com certeza, resultará em ótimos projetos em exaltação aos Teffé, uma das mais tradicionais famílias da História do Brasil.

Saúde e Arte!