Maio - 2025 - Edição 306

Quinhão de talento

Em 2004, quando compareci ao 15º Salão Carioca de Humor, na Casa de Cultura Laura Alvim, me chamou a atenção uma caricatura que retratava, com muito talento e bom humor, a figura da cantora Elza Soares. A estupenda arte foi, com justiça, laureada com o 1º lugar na categoria Caricatura, obra que trazia a assinatura de um artista que, confesso, não conhecia: Quinho.

Atualmente, Marcos Souza seu nome de batismo – é um dos mais talentosos caricaturistas do humor gráfico brasileiro. Nascido na cidade mineira de Manhaçu, em 1970, é umartista autodidata que desenvolveu sua arte por curiosidade e observação. Quando jovem, frequentou bibliotecas de sua cidade e, inicialmente, encantou-se por livros de artes e pintura, especialmente pela obra do alemão Peter Paul Rubens, a quem considera o maior artista do gênero que já existiu. Com o tempo, Quinho passou a observar também as manifestações do humor gráfico, quando teve acesso a publicações importantes como O Pasquim, Chiclete com Banana e a revista Animal. Sobre o início nas artes, Quinho narra que o primeiro incentivo para desenhar surgiu na escola, quando uma professora, Dona Cristina, orientou que cada aluno fizesse um desenho. “Eu fiz um cartum na primeira folha do caderno, tosquinho, mudo, mas com narrativa e tudo: era um macaco montado em um cavalo, prestes a atropelar um pato, enquanto um saci fazia sinal de ‘Pare’. Juntou a sala toda pra ver e ela chamou até a diretora da escola. Ao contrário do saci no cartum, ela disse para eu não parar. Daí, percebi que o desenho era algo especial e decidi que seria um caminho para a vida toda. O legal é que tenho essa folha do caderno até hoje e está na parede do meu estúdio, numa moldura!”, diz o artista. Seu irmão também costumava desenhar, mas com o tempo abandonou esta prática deixando Quinho como o desenhista da família, porém, uma de suas irmãs enveredou para as artes, especificamente para a música, tornando-se pianista e professora.

Sua grande estreia aconteceu em 1994, quando da realização do Salão Nacional de Humor Henfil, que aconteceu em Belo Horizonte. Na época, Quinho ainda não tinha acesso a materiais de artes apropriados, mas resolveu enviar uma charge finalizada com lápis de cor preto sobre papel cartão. Quinho recorda que desenhou o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, com um quadro apresentando as notas e moedas do Plano Real e, entre as moedas, uma balinha Ice Kiss, que era muito usada como complemento de troco na época. Surpreso por ter se classificado no salão, o jovem artista compareceu à abertura da exposição e ouviu do Ziraldo, que ciceroneava o evento, o anúncio que seu desenho havia sido agraciado como vencedor na categoria Charge. “Quase tive um treco”, lembra Quinho, que ainda teve a satisfação de ser considerado pelo “Mestre Zira” como a revelação daquele certame, sendo ainda convidado para participar, naquele mesmo ano, da exposição Minas Além das Gerais, que reuniu diversos outros cartunistas mineiros, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.

Por conta de sua participação na importante exposição, Quinho conheceu, além dos outros veteranos, o genial ilustrador João Batista Melado, que, na época, atuava no Diário da Tarde, dos Diários Associados, de Belo Horizonte. Ao saber que havia uma vaga para ilustrador e chargista no jornal, deixou a timidez de lado, aproveitou a oportunidade e se ofereceu para um teste e acabou sendo admitido, em 1995.

A partir daí, sua carreira alcançou abrangência e seus desenhos circularam em outras publicações, especialmente as revistas Palavra, Bundas e o jornal Pasquim 21, estes três, graças aos convites do Ziraldo. Além de seu primeiro prêmio, em 1994, Quinho venceu outros salões de humor tradicionais, alguns mais de uma vez, como o Salão Internacional de Piracicaba (1997, 1998 e 2023), Salão Carioca de Humor (1997, 1998, 2001 e 2004), Salão Internacional de Caratinga, Prêmio “Quem te viu, quem te vê” (2019), troféu Líbero Badaró (2013), Prêmio Vladmir Herzog (2020) e o prêmio internacional Society For News Design (USA) and The European Newspaper Award (Vienna, Áustria). Quinho afirma, com bom humor, que, apesar das muitas premiações recebidas, se sente acanhado com algumas homenagens concedidas em sua cidade de origem. “Por conta da minha síndrome do impostor, que acomete 11 entre cada 10 cartunistas caipiras, se acontecer um dia, num âmbito maior, acho que vou acabar me trancando no banheiro do evento!”, afirma modestamente.

Algumas artes do cartunista mineiro também fizeram parte de alguns livros comemorativos, como É mentira, Chico?, obra que reuniu 45 caricaturistas em exaltação ao Chico Anysio; Ao mestre com carinho, que homenageou os 85 anos do Ziraldo; e 85 vezes Sílvio Santos que comemorou o aniversário do animador e dono do SBT, em 2016. Quinho lançou também dois livros autorais: Inominável (coletânea que exibe as charges dos 4 anos de governo do golpista inelegível, aliás muito bem retratado numa caricatura que exibimos nesta página) e Rascunharia, ambos disponíveis no site Amazon.

Em 2023, Quinho representou a caricatura brasileira ao participar de uma exposição no Museu de Arte Moderna de Teerã, no Irã, quando foi carinhosamente acolhido pelos iranianos. Mais recentemente, em 2024, foi escolhido como o melhor caricaturista do Brasil, no principal prêmio das artes gráficas do país, o HQ Mix. Atualmente, Quinho publica regularmente suas charges no jornal Estado de Minas, que podem ser conferidas no site: em. com. br/ charge. Os desenhos do cartunista também podem ser apreciados nas redes sociais, nos perfis @quinho_cartum, no Instagram, e Quinho Cartum, no X (antigo Twitter).

Saúde e Arte!