Julho - 2023 - Edição 293
Helio Bueno
Conheci o cartunista Helio em meados
dos anos 1980, quando, por coincidência, ele
frequentava a casa dos meus tios paternos. O
artista namorava a Marise Maio, que era filha
do casal José e Gilda, amigos de longa data dos
meus tios, Dr. Atel Mattos e Norma. Eu ainda
sonhava (e continuo sonhando) em me tornar
desenhista, especialmente caricaturista,
e quando Helio soube disso, me deu
de presente uma assinatura anual do
semanário O Pasquim. Num tempo
em que a imprensa alternativa cumpria um importante papel no jornalismo nacional, receber em casa a edição do famoso jornal do “Rato
que Ruge”, era uma alegria imensa.
Eu acompanhava as charges, cartuns e caricaturas dos maiores artistas do gênero como Ziraldo, Jaguar,
Henfil, Nani, Guidacci e do próprio Helio. Na época, a Ditadura Militar
começava a perder força, e os exilados políticos retornavam ao Brasil.
Leonel Brizola era um deles, e ensaiava sua vitoriosa campanha ao
governo do Rio de Janeiro, e eu consegui dois trabalhos impressos do
Helio sobre o tema: um folheto e uma camisa que faziam campanha a
favor do candidato do recém-criado PDT. O folheto exibia Brizola surfando, cercado de outros surfistas, com o slogan “Está todo mundo na
onda do Brizola”. Já a camisa, mostrava uma charge com traço vazado
em branco num fundo vermelho e, literalmente, chamava de burros
quem não votasse no engenheiro gaúcho. Usei muito essa camisa,
inclusive quando fui votar, e a charge estampada fez muito sucesso na
fila que antecedia a urna. Possuo essas duas preciosidades na minha
coleção até hoje.
Tempos depois, fui estudar a arte do desenho num dos cursos
do Senac, e tive a alegria e honra de ser aluno do Guidacci, quando
soube que o professor era amigo do Helio. Além de atuar como orientador de artes, Guidacci era funcionário do Jornal do Commercio, no
qual atuava como chargista e, quando ele curtia suas merecidas férias,
convidava o Helio para substituí-lo no jornal dos Diários Associados
para fazer as charges diárias. Em janeiro de 1988, quando chegou mais
uma temporada de férias do Guidacci, o Helinho (como os amigos costumam chamá-lo) não pôde cumprir o período e eu, surpreendentemente, fui convidado para suprir a ausência do Mestre. Quer dizer, na
minha simples trajetória, a dupla de artistas faz parte da minha formação, eles foram os dois primeiros cartunistas que conheci pessoalmente. Anos depois, mais precisamente em 1994, comecei a atuar também
em eventos culturais,
quando tive a oportunidade de organizar
a exposição “Imenso
Cordão”, que comemorou os 50 anos de
Chico Buarque de
Hollanda, no Museu
Nacional de Belas
Artes. Tratava-se de
uma exposição coletiva e que contou
com participações
de artistas novatos
e alguns veteranos
dos mais consagrados do gênero, como
Nássara, Mendez,
Aylton Thomaz,Claudius e o próprio Helio. Para
este evento, Helinho
criou uma das mais
belas caricaturas da
mostra, quando retratou
o Chico acompanhado de
seu violão cercado de
diversos passarinhos, numa
alusão à música
“Passaredo”, um
primor que exaltou a bela obra que
o homenageado
criou em parceria
com Francis Hime.
Carioca nascido no dia 6 de setembro de 1954, Helio Bueno é
formado em Comunicação Visual pela UFRJ – Universidade Federal do
Rio de Janeiro e, logo no final dos anos 1970, foi trabalhar na TV Globo,
quando atuou como ilustrador no Departamento de Arte da Central
Globo de Jornalismo e Esporte. Na famosa emissora de TV, Helio tornou-se chefe do setor, permanecendo na empresa por marcantes 38
anos. Além da TV Globo e do jornal O Pasquim, Helio publicou seus
desenhos no Jornal de Ipanema, Monitor Mercantil, Última Hora, O
Globo e Jornal do Brasil. Hélio também ilustrou dois interessantes livros
infanto juvenis,
Desextinção, lançado pela Thex
Editora, em 1997,
escrito pelo também cartunista
Nani, e que foi
prefaciado pelo
genial Tom Jobim;
e o lúdico O Gato
Azul, pela mesma
editora, de autoria
da saudosa Marise
Maio, lançado em
maio de 2000, obra
que Arnaldo Jabor
considerou como
“lindo, porque
mostra que a educação infantil não
se dá pela culpa,
mas pelo alívio de
entender que errar
é humano!”.
Atualmente, Helio Bueno está aposentado, mas continua desenhando regularmente como colaborador dos canais digitais do chef e chocolatier suíço Carlo Möckli (carlomockli.com/) e, desde 2021, publica semanalmente suas charges no site de notícias A Seguir: Niterói (aseguirniteroi. com.br/). Helio também pode ser visitado no seu próprio site, no endereço heliobueno.com/, ou no Instagram, no perfil @heliobueno_arte.
Saúde e Arte