Junho, 2023 - Edição 292

Carta a um jovem poeta

Prezado poeta, Recebi mais uma de suas cartas com o coração em festa e a respondo com a mesma alegria de sempre. No entanto, não posso lhe dar o que você me pede. Não sou um sábio para aconselhá-lo, nem um santo para lhe servir de exemplo. Definitivamente não posso fazer o que você insistentemente me pediu, porque nem sempre eu mesmo tenho a coragem necessária para trilhar o caminho entre a mão e o coração.

A Poesia não é um fantoche que se entrega facilmente à manipulação das nossas vontades e desejos, nem bate à porta quando a chamamos a qualquer hora do dia ou da noite. Requer muito mais do que só inspiração. Ela nos beija, nos abraça e por vezes nos aperta contra seu peito como uma noiva linda e apaixonada em plena lua de mel. Mas depois, exige renúncias, fidelidade, comprometimento com o que é justo, verdadeiro, digno de ser impresso, lido, assimilado, saboreado, declamado, cantado... Aquilo que vale a pena ser guardado na mente e no coração.

Por isso, meu querido jovem poeta, a resposta para essa sua angústia existencial em saber se deve ou não continuar trilhando o árduo caminho dos versos, não estão nas palavras de um simples aprendiz de poeta como eu, mas dentro de você mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; mergulhe em seu interior, escave e examine se as suas raízes se estendem pelos cantos mais profundos de sua alma. Pergunte a si mesmo: morreria se me fosse impedido escrever? Sinto-me forçado a fazê-lo? Ou abraço esse fardo suavemente, acolho esse dom e a ele me ponho a serviço como um humilde operário da palavra? Repito: não posso aconselhá-lo. Não sou um mestre, um expert em Poesia. Apenas sirvo à mesma com dedicação, amor e alegria! A única coisa que eu posso fazer por você é deixar registrado nessa missiva algumas dicas que eu mesmo sigo, de como se portar diante dessa iluminada musa e o que fazer para não a macular, dialogando com ela, aceitando seus caprichos... Enfim, sendo um instrumento em suas mãos. Quando expor ao mundo seus poemas, não espere retorno. Já é uma grande bênção ser um semeador de boas palavras. E nunca esqueça que há diferentes tipos de solos onde as sementes dos nossos versos podem cair: férteis, pedregosos ou cheios de espinhos. Poemas são lindos presentes. Por isso, os embrulhe sempre com a verdade do seu coração e tenha consciência de que nem todos vão compreender a mensagem contida neles. Aprenda a ter paciência, cada um está em seu grau de evolução.

Em sua jornada, assuma o compromisso de transformar poemas em pontes e não em muros. Acredito que a tarefa mais linda de um homem, sendo ele poeta ou não, seja a de unir os homens. Escute a verdade do seu coração, escreva sempre com responsabilidade e não seja leviano em suas palavras. Em algum lugar do universo seremos cobrados por elas ou pelo silêncio delas.

Quando seguimos o caminho da Poesia, não devemos cultivar mágoas. Aprendi que coração leve e mente desperta sempre fazem um bom poeta. Sendo assim, faça o possível para perdoar aqueles que não são receptivos aos seus versos. Estão no direito deles. Palavras, sejam elas em verso ou prosa, também são alimentos e no mundo há muita gente com fome de carinho e de afeto. Por isso, por mais cafona que pareça, não tenha vergonha de versejar sobre o Amor.

Aceite as críticas, mas não seja paralisado por elas. Foque em ser honesto em sua poesia. No final, será entre você e o Poeta Maior. Ciente de que encontrará em seu íntimo as respostas necessárias às suas perguntas, despeço-me com o carinho e a gratidão de sempre, reafirmando o quanto é especial fazer parte dessa jornada literária e espiritual com você! Saudações literárias e um fraternal abraço do seu poetamigo.

Por Peilton Sena é membro da Academia Santista de Letras.