Novembro, 2025 - Edição 309
A sexualidade de Fernando Pessoa revelada (além das cartas a Ophélia Queiroz)?
Hoje acordei com um dos poemas mais misteriosos e pouco conhecidos de Fernando Pessoa (como se eu conhecesse todos).
Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já.
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada; sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
No Brasil esse poema é conhecido por causa da música dos Secos e
Molhados cantada docemente por Ney Matogrosso.
O verso: “O que és não vem à flor das frases e dos dias” é um primor
poético de síntese existencial. Afinal, uma pessoa é sempre mais do que ela
diz e do que ela faz a cada dia. Um Pessoa também.
Até acho que, de modo bem discreto, Pessoa revelou alguma preferência sexual por rapazes ao dizer “ouvi-lo” e não “ouvi-la”. Além disso, o
verso “Graça do corpo nu que invisível se vê” parece sugerir uma atração
platônica por algum corpo que seria inatingível para Pessoa na Lisboa
conservadora da década de 1930.
Não que isso seja o aspecto mais importante de sua obra, apesar de
revelar parte de suas frustrações e inspirações.
Mistérios da vida e da poesia...