Setembro, 2025 - Edição 308
Dia internacional da mulher negra, Terezas do Brasil

Celebramos, no último dia 25 de julho, o Dia da Mulher Negra
Latino-americana e Caribenha. A data foi pensada no ano de 1992 quando, em Santo Domingo, República Dominicana,
realizou-se o 1º encontro de Mulheres Negras
Latino-Americanas e Caribenhas. O encontro, à
época, visava denunciar o racismo e o machismo
enfrentados por mulheres negras, não só nas
Américas, mas também ao redor do mundo. No
Brasil, a partir de 2014, por meio da Lei 12. 987,
é estabelecido também no dia 25 de julho, o Dia
Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher
Negra, com o propósito de dar visibilidade para
o papel da mulher negra na história brasileira,
através da figura de Tereza de Benguela. Ao longo
da história de nosso país, as mulheres negras
estiveram à frente de várias lutas, sobretudo,
pelo direito de viver com dignidade. Contudo,
esse ainda é um objetivo não alcançado, pois
o direito à vida quando se refere às mulheres
negras é ameaçado constantemente.
Tereza de Benguela foi uma líder do Quilombo Quariterê, localizado no atual estado do Mato Grosso, por meio do
qual lutava contra o governo escravista e coordenava as atividades econômicas e políticas do Quilombo. Assim como outras heroínas negras, Tereza de
Benguela é um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional. Nos dias
atuais, é significativa a participação das mulheres quilombolas e das mulheres
de comunidades periféricas de tradicionais casas de matrizes africanas, na
proteção das tradições culturais do nosso provo preto, na defesa da titulação
das terras de suas comunidades, na busca pelo desenvolvimento e dos direitos
sociais fundamentais, como a educação formal e à saúde, dando visibilidade e
inspiração ao papel da mulher negra na história brasileira. O Julho das Pretas
é uma ação de incidência política e agenda conjunta e propositiva com organizações e movimento de mulheres negras do Brasil, voltada para o fortalecimento da ação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas diversas
esferas da sociedade.
Agora temos, enfim, a primeira mulher negra a integrar a Academia
Brasileira de Letras (ABL) a escritora Ana Maria Gonçalves. Ela foi eleita para
a cadeira 33, vaga com a morte de Evanildo Bechara, e se
tornou a mais jovem imortal da ABL. A escritora, conhecida
por obras como Um Defeito de Cor, que já vendeu 180 mil
exemplares, venceu o Prêmio Casa de las Américas (2007),
foi eleito o melhor romance brasileiro do século 21 e virou
enredo da Portela no carnaval de 2024. Recebeu 30 dos 31
votos possíveis na sua eleição na ABL. Ana Maria Gonçalves
também é reconhecida por debates sobre literatura e questões raciais, além de atuar como professora de escrita criativa e curadora de projetos culturais. Com a honraria, Ana se
torna a primeira imortal negra da história da instituição em
128 anos, e a 13ª mulher a ingressar na ABL.
Temos muitas “Terezas Poetas”, e que venham outras
mais, na luta contra o racismo, à intolerância e o machismo,
tendo identidade ímpar com a líder quilombola Rainha
Tereza de Benguela. Sagrada ancestralidade!