Setembro, 2025 - Edição 308

A eleição do escritor Milton Hatoum para a ABL

Com 33 dos 34 votos, o premiado escritor Milton Hatoum foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras. O manauara ocupará a Cadeira nº 6 do Quadro dos Membros Efetivos, vaga que ficou aberta com a morte do saudoso jornalista Cícero Sandroni (1935-2025) em junho deste ano.

Concorreram com Hatoum os escritores Angelos D’Arachosia, Antônio Campos, Cezar Augusto da Silva, Eduardo Baccarin-Costa e Paulo Renato Ceratti. Apenas Antônio Campos recebeu um voto. Além de romancista, Hatoum é contista, ensaísta, tradutor e professor universitário. Em 1989, seu primeiro romance, Relato de um Certo Oriente, publicado pela Companhia das Letras, ganhou o Prêmio Jabuti de Melhor Romance e foi adaptado para o cinema com o mesmo nome

O presidente da ABL, Merval Pereira, afirmou que Hatoum é o maior escritor brasileiro vivo e um romancista de primeira ordem: “Vai ser muito útil para a Academia. Hatoum já colaborava muito com a Revista Brasileira, agora vai ter a oportunidade de colaborar mais ainda.”

O acadêmico Ruy Castro comemorou a eleição do novo imortal: “Grande romancista. Representante de uma geração de ficcionistas. A academia sempre teve gente de diversas origens, de todos os lugares, como João do Rio, Pedro Lessa. É uma geração mais jovem que está chegando e tem uma grande contribuição a dar.” A acadêmica Lilia Schwarcz destacou que o escritor tem uma “voz cidadã, uma voz ética”: “Ele é literatura, faz literatura, vai às escolas falar de literatura. Teve uma votação muito representativa.”

Biografia



Nascido em Manaus, em 1952, Hatoum mudou-se para Brasília em 1968, onde estudou no Ciem (Colégio de Aplicação da Universidade de Brasília). Morou toda a década de 1970 em São Paulo. Diplomou-se em Arquitetura na Universidade de São Paulo (USP), onde desenvolveu uma pesquisa sob a orientação do geógrafo Milton Santos. Na década de 1970, também foi professor de História da Arquitetura na Universidade de Taubaté. Em 1980, morou em Madri, como bolsista do Instituto Ibero Americano de Cooperación. Entre 1981 e 1983, morou em Paris, onde cursou mestrado em literatura latino-americana. De 1984 a 1998, foi professor de língua e literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas.

Em 1999, mudou-se para São Paulo, onde foi colunista do Caderno 2 (O Estado de S. Paulo), entre 2008 e 2016. Foi também colunista do jornal O Globo, do site Terra Magazine e da revista Entre livros. O novo acadêmico foi também professor visitante da Universidade da California (Berkeley) e da Sorbonne, bolsista da Fundação Vitae(1988), da Maison des Écrivains Étrangers (Saint-Nazaire/França) e escritor residente das Universidades Yale e Standford e do International Writing Program (Iowa/EUA). Participou de seminários e fez conferências em várias instituições e universidades europeias (Sorbonne, Rennes, Poitiers), norte-americanas (Biblioteca do Congresso, Berkeley, Princeton, Yale) e libanesas (Saint-Joseph, American University).

No ano 2000, publicou o romance Dois Irmãos (indicado para o Impac-Dublin Literary Award, 2004), eleito o melhor romance brasileiro no período 1990-2005 em pesquisa feita pelos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. O título foi publicado na Argentina, Alemanha, China, Espanha, Estados Unidos, Itália, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Líbano, Portugal, República Tcheca e Sérvia. Dois Irmãos foi adaptado para o audiovisual (minissérie da TV Globo, direção de Luiz Fernando Carvalho, roteiro de Maria Camargo). Em 2005, o romance Cinzas do Norte obteve o Prêmio Portugal Telecom, Grande Prêmio da Crítica/ Apca-2005, Prêmio Jabuti/2006 de Melhor Romance, Prêmio Livro do Ano da CBL e Prêmio Bravo! de Literatura. Em 2008, recebeu do Ministério da Cultura do Brasil a medalha da Ordem do Mérito Cultural. Em 2010, a tradução inglesa de Cinzas do Norte (Ashes of the Amazon, Bloomsbury, 2008) foi indicada para o Prêmio ImpacDublin. Em 2008, publicou seu quarto romance, Órfãos do Eldorado (Prêmio Jabuti – 2º lugar na categoria Romance). Foi adaptado para o cinema (direção e roteiro de Guilherme Coelho). Em 2009, lançou o livro de contos A Cidade Ilhada, que inspirou o filme “O rio do desejo”, dirigido por Sergio Machado. Em 2013, publicou Um Solitário à Espreita, uma seleção de crônicas publicadas em jornais e revistas. Em 2017, Hatoum foi nomeado Officier de l’Ordredes Arts et des Lettres pelo Ministério da Cultura e da Comunicação da República Francesa.

Recebeu o Prêmio Juca Pato/Intelectual do ano (União Brasileira dos Escritores/UBE/2018) pelo romance A Noite da Espera – primeiro volume da trilogia O Lugar Mais Sombrio. Ainda em 2018, recebeu, em Paris, o Prix Roger Caillois 2018 pour la Littérature Latino-Américaine (Maison de l’Amérique Latine/PenClub France).

Em 2019, lançou Pontos de Fuga, segundo volume da trilogia O Lugar Mais Sombrio. Em parceria com o filósofo e crítico literário Benedito Nunes, publicou Crônica de Duas Cidades: Belém e Manaus (2006/Secult-PA), a ser relançado pela Companhia das Letras, editora das obras do autor.

Seus livros já ultrapassam 500 mil exemplares vendidos. Foram publicados em 17 países. O escritor traduziu para o português A Cruzada das Crianças (Marcel Schwob), Representações do Intelectual (Edward Said) e, em parceria com Samuel Titan, Três Contos (Gustave Flaubert).

Em outubro, a Companhia das Letras publicará Dança de Enganos. O livro é o último da trilogia O Lugar Mais Sombrio, inspirado na época da ditadura militar no Brasil. E segue, também, sua atividade de escritor convidado para ministrar cursos e conferências em universidades e institutos do Brasil e do exterior.