Julho, 2025 - Edição 307
Entrevista com Gabriel Chalita - Educação e semiótica
Entrevista transmitida em nível nacional, no Programa Identidade Brasil, apresentado por Arnaldo Niskier no canal Futura

Arnaldo Niskier: Hoje, com alegria enorme, anunciamos a presença, no nosso programa, do professor e escritor Gabriel Chalita.
Ele é um nome consagrado hoje na educação
brasileira e vai nos contar um pouco da sua
experiência. Você é especialista em educação e
em semiótica. O que é semiótica?
Gabriel Chalita: Boa pergunta. Primeiro, é
um prazer estar aqui. Professor Niskier, o senhor
sabe do meu respeito, do meu carinho, da admiração pelo senhor, pela sua história, por tudo o
que fez e faz pela educação no Brasil. E semiótica
é uma ciência que estuda os signos, os processos
de comunicação. Na verdade, os seres humanos
se comunicam de muitas maneiras e, dentro
desse processo, algumas pessoas dizem algumas
coisas, outras interpretam outras coisas. A mensagem, às vezes, vai truncada e a semiótica analisa essas questões. O que é o ethos? Aquele que
diz alguma coisa. O que é o pathos? A fragilidade
ou a força de quem recebe aquela mensagem. E
ela trabalha em várias áreas. Então, por exemplo,
hoje a gente tem uma semiótica ligada às redes
sociais. O que significam hoje para uma criança
e um adolescente as redes sociais? Isso é uma
preocupação que nós, educadores, temos que
ter. Quando um pai dá um celular para o seu
filho, com quatro, cinco, seis anos, talvez cedo
demais...
Arnaldo Niskier: Isso me faz lembrar de
uma grande figura que foi nossa amiga comum,
Lygia Fagundes Telles. Ela amava você intensamente. Eu me lembro bem disso. Que lembrança você tem da Lygia Fagundes Telles?
Gabriel Chalita: A primeira lembrança
que eu tenho dela... Eu tinha lido a obra dela e era
um jovem estudante de filosofia e autor de alguns
livros. E escrevi um livro chamado Mulheres que
Mudaram o Mundo. Eu tinha 19 para 20 anos
e era meio encantado assim com a Lygia. E um
amigo falou assim: “Liga para Lygia e convida a
Lygia para o lançamento do seu livro.” E eu falei
assim: “Como é que eu falo com a Lygia Fagundes
Telles?”. Aí eu, jovenzinho, em Cachoeira Paulista,
liguei. Só tinha telefone fixo na época. Ela atendeu. Falei: “Olha, me chamo Gabriel Chalita, sou
um escritor do interior de São Paulo, Cachoeira
Paulista. A senhora é minha ídola na literatura”.
“E o que você já leu meu?” Aí comecei a falar
dos romances, dos contos. Quando foi para os
contos, ela falou assim: “Mas você leu tudo isso
de conto?” Eu falei: “Se quiser eu conto a história
de cada um dos contos.” E aí eu falava: “Queria
muito que a senhora fosse ao lançamento do
meu livro, que é dedicado a senhora.” Ela falou
assim: “Eu não prometo, mas eu vou anotar o
endereço. Aguarde um pouco.” Aí chamou uma
pessoa. Era um bar que chamava Bar Lanterna,
na Vila Madalena. Quando cheguei, ela estava
na porta e fiquei numa emoção, porque ela não
me conhecia, mas ela viu que era um escritor...
Estava me esperando. A partir dali, a gente teve
uma amizade até a morte dela. Depois ela queme levou para Academia Paulista. Todas as vezes
que fui secretário, ela foi em todas as posses. A
gente saía toda semana praticamente para almoçar, para jantar.
Arnaldo Niskier: Quando você entrou
para a Academia Paulista de Letras, foi pelas
mãos dela?
Gabriel Chalita: Foi pelas mãos da Lygia.
A Esther de Figueiredo Ferraz era membro da
academia também, o Miguel Reale, e todos eles
foram lá, o Antônio Ermírio de Moraes, Nalini,
Paulo Bonfim, mas a ideia foi da Lygia. Então
tinha uma coisa muito profunda, muito bonita.
Dediquei aquele e mais uns dez livros para ela.
Depois, peças de teatro. A gente desenvolveu
uma relação muito bonita e ela era muito generosa. Também fui muito amigo da Nélida. A Nélida
eu também conheci muito jovem. Ela também
tinha esse interesse (como você tem) pela vida
do outro. Eu acho que o escritor se alimenta, no
melhor dos sentidos, das vidas das outras pessoas, das histórias das outras pessoas. Ninguém
consegue ser um bom escritor se ele não for um
espectador atento da vida do outro, se ele não
prestar atenção no outro.
Arnaldo Niskier: Com a inteligência artificial, ficamos assustados. Como especialista
em semiótica, como vê a inteligência artificial
no processo cultural brasileiro?
Gabriel Chalita: Não tem volta. Não dá
para criticar, dizendo que era melhor sem. A
tecnologia não tem volta. Acho que a tecnologia
melhorou muitas coisas. Então, a inteligência
artificial pode ajudar a melhorar muitas coisas.
A gente tem uma saúde hoje muito melhor por
causa da tecnologia e da inteligência artificial. A
gente tem as operações por robótica, mecatrônica. Você tem uma segurança de aviação, de voo
de trem, de navio... Muito mais seguros com as
questões tecnológicas. Então, acho que ela veio
para ficar. A grande questão é: “Onde é que entra
o ser humano nisso?” Nós não somos máquinas.
Máquinas não educam seres humanos. Seres
humanos educam seres humanos. Então, temos
que olhar a tecnologia e a inteligência artificial
como um assistente do ser humano, não como
um substituto do ser humano. Aí é um grande
equívoco quando você acha que só com robôs
vai conseguir desenvolver uma educação de qualidade e isso não existe.
Arnaldo Niskier: E como é que você vê,
como especialista, a decisão da Rede Globo de
adotar a inteligência artificial para valer, não é
brincadeira. Está adotando como fundamento
da sua ação cultural pedagógica. Como é que
você vê isso?
Gabriel Chalita: Eu acho ótimo. Eu acho
correto, acho transparente. Não é uma substituição para seres humanos. A gente sempre precisará de seres humanos. E isso é um pouco parecido, quando os maestros começaram a utilizar a
tecnologia. Não existia isso nas composições de
Bach, de Beethoven. De repente vem toda a tecnologia e pensam: “Então não vai precisar mais
de maestro. Isso aí, inclusive, afina os desafinados.” Tudo isso é utilizado e você continua com
maestros, continua com músicos. Continuo precisando. A inteligência artificial vai tirar alguns
empregos de atividades que são repetitivas. As
atividades criativas, isso é do ser humano. Cada
vez mais você pega núcleos em que há uma
necessidade imensa de mão de obra qualificada
de pessoas na criatividade. A indústria e a agricultura são duas áreas muito tecnológicas, com
menos necessidade de mão de obra.
Arnaldo Niskier: E você falou em agricultura, é uma revolução extraordinária. Gostaria
que contasse um pouco sobre a sua experiência
teatral. Ela é muito rica e acho que os nossos
telespectadores gostariam de saber um pouco
mais sobre o Chalita teatrólogo.
Gabriel Chalita: Sou apaixonado por
teatro. Quando fiz peça como ator, há muito
tempo, fui dirigido pelo Walmor Chagas e eu, na
época, me apaixonei. Fiz “Ópera do malandro”.
Walmor Chagas, o grande Walmor Chagas no
Teatro Ziembinski, na Tijuca, no Rio de Janeiro.
E eu tinha 18, 19 anos. Depois fui fazer outras
coisas na vida. Fui me dedicar mais à academia, como professor, e hoje tenho várias peças
escritas, algumas que fizeram bastante sucesso.
Por exemplo, eu fiz uma peça sobre o Nelson
Gonçalves, que ficou quatro anos em cartaz e
era o centenário do Nelson Gonçalves, que chamava “O Amor e o tempo”, que é o lado feminino
e o masculino do Nelson Gonçalves, contando
toda a sua história. Dois cantores incríveis, o
Guilherme Logulo, que fazia o homem Nelson
Gonçalves, o lado masculino, e a Julie, que é
uma cantora incrível também, que fazia o lado
feminino. Na verdade, era uma briga da razão e
emoção do Nelson Gonçalves. Foi muito bonito
assim, porque o Nelson Gonçalves tem uma
família grande e consegui levar todos os filhos
de lugares diferentes e amaram a peça. No Rio
e em São Paulo. Inclusive, tive a honra de ter o
professor Arnaldo Niskier na estreia aqui, no Rio
de Janeiro, dessa peça. Tenho uma peça que está
em cartaz em São Paulo, esteve no Rio, agora está
em São Paulo, que chama “Entre Franciscos, o
Santo e o Papa”. É uma peça que está com Paulo
Gorgulho e com o César Mello. É uma peça que
se passa na lavanderia do Vaticano. O Papa criou
uma lavanderia para a população em situação
de rua. Papa Francisco está cansado dos barulhos do mundo, dos feminicídios, das guerras,
das mortes, dos refugiados. Sobre tudo isso. Ele
entra e vai falando sobre esses barulhos todos e
que ele prefere ouvir o barulho da máquina de
lavar roupa. E ele vê um homem esperando a sua
roupa ficar limpa, é São Francisco e ele não sabe
que é. Acha que é um morador que está nas ruas
e aí começa o diálogo. É um texto muito tocante
e o meu amigo Fernando Haddad, quando saiu o
livro também, quando ele foi a Roma, entregou
para o Papa Francisco e a reação do Papa foi
linda. “Quem sou eu para estar numa peça ao
lado de São Francisco.” Esse Papa é um Papa do
diálogo. É uma peça que está em cartaz. Tive uma
peça feita pela Bibi Ferreira. Isso é uma honra
da minha vida, dirigida pelo Jorge Tacla, uma
peça que chamava “De tudo que mora em mim”
e a Bibi fez no Renascença, em São Paulo, uma
leitura dramática. O Tacla é um craque também
é um grande diretor. Tive uma peça também
chamada “Sorriso de Mãe”, a história de um filho
que a mãe está morrendo e ele começa a contar
histórias para ter pelo menos um último sorriso
da sua mãe.
Arnaldo Niskier: Tem alguma que você
considere a maior de todas?
Gabriel Chalita: Eu não posso falar isso que eu deixo os artistas magoados, os que
fizeram... A da Bibi é sempre um marco. A que
fez mais sucesso, mais tempo em cartaz foi a
do Nelson Gonçalves. Lotava os teatros porque as músicas são lindas. A Bibi lotou, mas
ela tinha um tempo curto para fazer porque
estava fazendo Piaf na época, tinha que voltar
com Piaf. Essa do Papa está lotada também e é
muito bonita. Eu acho que para nós, que somos
escritores, quando você vê o seu texto no palco,
é uma outra dinâmica. Tenho uma peça que
chamava “Hortense, a Velha”, que era a história de uma mulher (uma comédia essa peça)
fechando um cabaré e ela resolve contar fofocas
de quem passou pelo cabaré. Então ela fala de
Michelangelo, de Maquiavel, de Sócrates, e vai
contando. Os mitos da cultura. E ela conversa
com uma gambá grávida, que ela cisma que
tem um barulho, com uma irmã morta e com
uma goteira. E a goteira, para mim, é o ponto
da solidão. E quem fez essa peça ela chama
Greice Gianluca, é uma grande atriz, está fazendo Dercy Gonçalves agora. Vi ela dando uma
entrevista (comigo na entrevista) e perguntaram
assim: “Greice, mas Hortense teve um cabaré?”
“Claro que teve um cabaré.” Fiquei olhando
para ela. “Não teve Chalita?” Falei assim: “Não.
A Hortense era uma mulher que lia muito, que
gostaria de ter tido tudo isso e nunca teve nada.
E ela vive dos livros, então ela inventa.” “Mas
para mim, quando eu li o seu texto, eu achei
que ela tivesse tido um cabaré, mas que ela se
confunde.” E eu falo assim: “Mas se você acha
que teve, teve, essa é a riqueza da obra de arte.”
A discussão da Capitu, do Machado de Assis,
traiu ou não traiu? Talvez nem ele soubesse, não
é? A riqueza de você fazer uma obra... E a Lygia,
quando falava do Machado, dizia assim: “Ele
é melhor do que Flaubert, Flaubert não deixa
dúvidas. Você lê Madame Bovary, você sabe
tudo. Machado você lê, tem dúvidas. É a riqueza
do escritor de respeitar, inclusive, a inteligência
daquele leitor. É lindo isso. Dom Casmurro. Os
contos são impressionantes. A compaixão que
tem naqueles contos, naquelas narrativas, é
genial, é incrível. Claro que Machado é um autor
também muito celebrado no Brasil, mas às vezes
alguns autores brasileiros são aplaudidos lá fora
antes até do que aqui, como artistas. Agora, na
comemoração do teatro de revista português,
o único artista não português homenageado
é Bibi Ferreira, que é uma brasileira. E a gente
fala pouco dela aqui, porque às vezes as pessoas
morrem e você esquece e não é para esquecer.
Arnaldo Niskier: É uma pena. A Bibi era
filha do Procópio Ferreira, que também foi um
grande ator. É uma coisa de família, é uma coisa
impressionante.
Gabriel Chalita: E é bonito. A Bibi, com
90 anos, foi fazer Frank Sinatra, nos Estados
Unidos, e foi aplaudida de pé. Aos 90 anos e ela
não parava de ter projeto. Acho que é isso que dá
essa longevidade. Ela estava fazendo uma peça
chamada “Às favas com os escrúpulos”. Isso com
87, 88, com dois projetos.
Arnaldo Niskier: A educação brasileira
vive um período que poderia ser melhor. A
sua opinião como educador é fundamental.
Gostaria de ouvir sua opinião sobre o atual estágio da educação brasileira. Você é um especialista muito respeitado. Foi secretário de Estado
de Educação de São Paulo, também secretário
municipal de Educação, uma larga experiência
na área. O que lhe parece?
Gabriel Chalita: Queria celebrar porque
somos otimistas, somos apaixonados pela vida,
mas a educação não está num bom momento.
Acho que até para melhorarmos, temos que
saber que não está num bom momento. O Brasil
teve muitas rupturas de processos educacionais. É quase que uma imaturidade política a
falta de continuidade de políticas públicas. Você
troca prefeitos ou troca secretários municipais
de educação ou troca governadores e aí quem
vem para com o que o outro estava fazendo,
não dá continuidade. Algumas questões básicas
precisam ser respeitadas. E se a gente olhar os
países que estão indo bem na educação, olhar
o Pisa, os países mais bem avaliados em termos
de educação, o que eles têm? Ponto um: ampliação do currículo. A gente precisa de escolas em
tempo integral. Aqui começa uma grande injustiça. A pessoa que tem dinheiro fica uma parte
na escola ou ela está numa escola de tempo
integral. Quando ela não está, a outra parte,
vai para a academia, vai fazer inglês, mandarim, espanhol, vai praticar atividade. A pessoa
que é pobre tem o que você oferece para ela.
Ela não tem condições de pagar alguma outra
coisa. Então, os países bem avaliados têm uma
ampliação de currículo. O Brasil patina nisso.
Em 1940, o Anísio Teixeira, construiu a primeira
escola de tempo integral no Brasil, que ficava
na Bahia, Escola Parque de Salvador. Então, a
gente tem o histórico de saber como faz isso,
mas cada governo vai numa linha e a gente não
avança. Exatamente. Ele fez o primeiro projeto
que foi copiado por muitos países e aqui por
brigas políticas. O primeiro ponto é ampliação
de currículo. O segundo ponto é a valorização de
professor, formação de professores. O professor
é a alma do processo educativo. Você tem que
valorizar os professores em três lugares: cabeça,
coração e bolso. Cabeça é formação continuada.
O mundo foi mudando. Quando a gente fazia
pedagogia, não se falava de bullying, de automutilação, de suicídio. E não é que o professor
seja o psicólogo desses alunos, mas ele tem que
saber como construir uma bagagem que seja
ao mesmo tempo cognitiva, social e emocional.
Então o professor não tem tido a formação que
precisaria ter, não tem tido a valorização que ele
merece ter e financeiramente também não.
Arnaldo Niskier: Daí as greves.
Gabriel Chalita: Exatamente.
Arnaldo Niskier: Duraram mais tempo
do que era suportável.
Gabriel Chalita: Nesse ano, a gente teve
quase 90 dias de greve em universidades públicas.
Arnaldo Niskier: Sobretudo no ensino
superior.
Gabriel Chalita: O que é muito ruim. E
não é que o professor queira fazer greve. Ninguém
gosta de greve. É um grito, é um chamado.
Arnaldo Niskier: É uma revolta.
Gabriel Chalita: E a outra questão: temos
que trazer as famílias para a escola. Sinto cada
vez mais que isso é profundamente essencial.
Você só consegue completar um processo educativo com participação familiar. Com a escola
fazendo uma coisa e a família totalmente desconectada disso, você não melhora esse processo
relacional. Acho que nenhuma dessas premissas
estão sendo colocadas como essencial. Aí a gente
vê os problemas da pandemia que fizeram com
que muitas crianças não tivessem sido alfabetizadas.
Arnaldo Niskier: Que renderam, a meu
ver, mais tempo do que seria suportável.
Gabriel Chalita: Muito mais tempo. Ao
contrário de algumas escolas privadas, que
tinham aulas síncronas, muitos desses alunos
não foram alfabetizados. Eles estavam numa
escola e foram passando de ano sem ter aula
nenhuma.
Arnaldo Niskier: O drama da escola
pública.
Gabriel Chalita: Dou palestras no Brasil
todo. Quando eu chego em algum lugar e quando alguém levanta a mão, no interior da Bahia,
Rio Grande do Sul, e fala assim: “Professor, uma
pergunta. Eu sou professor de ciências do quinto ano e nenhum aluno meu sabe ler e escrever.
E eu não sei alfabetizar. Como e como é que eu
dou aula de ciências se ninguém foi alfabetizado?” A gente foi passando de ano todo mundo,
porque não ia reprovar por causa da pandemia,
ninguém tendo aula, mas não se preparou um
processo de suprir aquela ausência da não alfabetização.
Arnaldo Niskier: Exato. Entender a crise
e superá-la. E não se superou.
Gabriel Chalita: Falta uma consciência de
que a educação não pode ser política de um partido. Não pode nem ser política de um governo. É
uma política de Estado.
Arnaldo Niskier: Mas na prática a coisa
não funciona.
Gabriel Chalita: E há muita perfumaria.
Acham que vão colocar lousa digital e todo
mundo vai aprender. Não vai, isso é acessório.
O professor, bem pago, preparado, valorizado, vale muito mais do que essa lousa digital.
“Ah, não, a gente paga muito bem. Está tudo
resolvido.” Está sobrando dinheiro, aí você põe
a lousa digital, mas não tem sentido se você
não compreender essa importância relacional.
Não existe educação sem somar esses três pilares: cognitivo, social e emocional. Você precisa
ampliar repertórios. A gente estava dando o
exemplo do Machado de Assis. Você pode ler um
conto “Pai contra mãe”, do Machado de Assis,
por exemplo, que é um conto belíssimo sobre
escravidão, sobre compaixão, sobre pensamento ético. Em um conto, você trabalha a bagagem
cognitiva, a bagagem social (Como é que aquela
lei autorizava a escravidão naquele tempo? O
que aconteceu depois?) e a dimensão humana.
Aquele homem que não queria prender aquela
menina em situação de escravidão, mas era o
jeito que ele tinha para salvar o filho dele. Num
conto, você trabalha uma dimensão profunda
das relações humanas.
Arnaldo Niskier: Bem Machado.
Gabriel Chalita: Tive na China há não
muito e hoje é o primeiro país no Pisa em termos
educacionais. China, Finlândia, Israel, Coreia,
países que conseguiram ter um grande aparato
tecnológico...
Arnaldo Niskier: Cingapura.
Gabriel Chalita: Cingapura... Todos voltaram com contação de histórias, com os livros
físicos, com música. China tem aula de música
todos os dias. Israel tem aula de música. Por que
isso? Não é só uma dimensão técnica, não é um
tecnicismo, é uma dimensão relacional. Repito:
máquinas não educam pessoas, pessoas educam
pessoas.
Arnaldo Niskier: E no caso do Brasil,
como você citou, o fato é que somos um povo
musical, então temos uma riqueza de compositores, como Tom Jobim, que são de uma
riqueza extraordinária e acho que não aproveitamos isso para educação de forma adequada.
Quero agradecer muito a presença de Gabriel
Chalita, desejar sucesso nas suas atividades
como escritor, como homem de cultura que
é. Estou certo de que ele ainda fará um bem
enorme ao nosso país em tudo aquilo que ele
se envolve.