Julho, 2025 - Edição 307
A despedida de Cícero Sandroni

A morte do acadêmico Cícero Sandroni, aos 90 anos, entristeceu familiares, amigos e fãs do escritor, jornalista e intelectual, reconhecido pela sua dedicação à Academia Brasileira de Letras (ABL), da
qual foi presidente entre 2007 e 2009.
Sandroni morreu em casa, de choque séptico causado por
infecção urinária, em estado de saúde delicado devido a uma longa
doença. Era casado com Laura Constância Austregésilo de Athayde,
com quem teve cinco filhos.
Sexto ocupante da Cadeira nº 6, eleito em 25 de setembro de
2003, na sucessão de Raimundo Faoro com 36 votos (a unanimidade
dos votantes), foi recebido em 24 de novembro de 2003 pelo acadêmico Candido Mendes de Almeida. No mesmo ano, eleito tesoureiro da
Presidência de Ivan Junqueira, dois anos depois, secretário-geral do
ministro Marcos Vinicios Vilaça. Tomou posse como presidente da ABL
em 13 de dezembro de 2007, eleito por unanimidade.
Como jornalista, integrou redações de destaque do Rio de
Janeiro, como Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Jornal do Commercio
e O Globo. É coautor, com a esposa, de O Século de um Liberal, livro
que conta sobre a vida e obra de Austregésilo de Athayde, seu sogro,
relevante pensador brasileiro e defensor da revolução constitucionalista e que também foi presidente da Academia. É autor, entre outros,
do livro de contos O Diabo só Chega ao Meio-dia (Nova Fronteira), em
1985
Biografia
Cícero Augusto Ribeiro Sandroni nasceu na cidade de São Paulo,
em 1935, no mesmo dia do saudoso colega Evanildo Bechara (que
também morreu este ano): 26 de fevereiro. Filho de Ranieri Sandroni
e Alzira Ribeiro, fez os estudos primários e parte do ginasial na capital paulista. Com a transferência da família para o Rio de Janeiro, em
1946, concluiu aqui os estudos secundários. Cursou a faculdade de
Jornalismo (hoje de Comunicação) da Pontifícia Universidade Católica
e a EBAP – Escola Brasileira de Administração Pública, da Fundação
Getúlio Vargas, onde foi bolsista.
Em 1954, fez os primeiros estágios em redações de jornais, inicialmente na Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda e, em seguida,
no Correio da Manhã, sob a direção de Antônio Callado e Luiz Alberto
Bahia, onde chegou a chefe da reportagem. Convidado por Odylo
Costa, filho, ingressou na redação do Jornal do Brasil, na época da
reforma editorial do diário, e ao mesmo tempo atuou na Rádio Jornal
do Brasil.
Em julho de 1958, transferiu-se para O Globo onde, destacado
para a cobertura da área da política exterior, fez várias viagens internacionais. Em abril de 1960, integrou a equipe de O Globo que, chefiada
por Mauro Salles, fez a cobertura da inauguração de Brasília. Naquele
mesmo ano, assumiu a chefia da reportagem política do Diário de
Notícias, então sob a direção de Prudente de Morais, neto, onde escreveu a coluna “Notas Políticas”, em substituição de Heráclio Salles.
Convidado por José Aparecido de Oliveira e pelo prefeito de
Brasília, Paulo de Tarso Santos, em 1961 transferiu-se para a nova capital, onde foi secretário de Imprensa da Prefeitura do Distrito Federal
e diretor de Relações Públicas da Novacap, entre outras funções.
Integrou o Conselho Fiscal da Fundação Cultural de Brasília, presidida
por Ferreira Gullar, ao lado do então deputado José Sarney.
No governo parlamentarista de João Goulart/Tancredo Neves,
foi subchefe do gabinete do Ministro Franco Montoro, na pasta do
Trabalho e Previdência Social. Em 1962, foi nomeado representante do
governo no Conselho Fiscal do Instituto de Aposentadoria e Pensões
dos Marítimos (IAPM), sendo naquele mesmo ano eleito presidente
do órgão até 1964.
Com a instalação do regime militar, voltou a trabalhar na
Tribuna da Imprensa de Hélio Fernandes, e em O Cruzeiro, sob a
direção de Odylo Costa, filho. Com Odylo, Álvaro Pacheco e o diplomata Pedro Penner da Cunha, adquiriu uma empresa gráfica, de
cujas máquinas saíram as duas primeiras edições da revista de contos
Ficção, editada com a colaboração de Antônio Olinto e Roberto Seljan
Braga. Em seguida, com Pedro Penner da Cunha, fundou a Edinova,
editora pioneira no Brasil no lançamento de literatura latino-americana e do nouveau roman francês.
Com a censura imposta à imprensa após o Ato Institucional nº
5 e o arrendamento do jornal, deixou o jornalismo diário e ingressou
em Bloch Editores, onde foi redator-chefe das revistas Fatos e Fotos,
Manchete e Tendência. Sob sua direção, esta última recebeu, em 1974,
o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria de Melhor Contribuição à
Imprensa.
Em 1976, coordenou, com os escritores Rubem Fonseca, Lygia
Fagundes Telles, Nélida Piñon, Hélio Silva, José Louzeiro, Ary Quintella
e Jefferson Ribeiro de Andrade, um manifesto contra a censura aos
livros, assinado por mais de mil intelectuais brasileiros, conhecido
como o Manifesto dos Mil. Publicado na imprensa, o documento impediu a continuação da censura aos livros, que proibira a circulação de
mais de quatrocentos títulos de autores brasileiros e estrangeiros. O
mesmo grupo renovou o Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e
levou à sua presidência o acadêmico Antonio Houaiss.
Em 1977, a convite de Walter Fontoura, retornou ao Jornal do
Brasil inicialmente como redator do Caderno B, onde escreveu sobre
arte e cultura e foi crítico de cinema. Em seguida, editou o suplemento
literário “Livro” e, de 1979 a 1983, escreveu a coluna “Informe JB”. Em
1984, assinou a coluna “Ponto de Vista”, no jornal Última Hora, com a
colaboração do poeta José Lino Grünewald. Nesse tempo, foi um dos
primeiros jornalistas a defender a realização de eleições diretas para a
presidência da República.
Em 1984, editou o Jornal do País, semanário de Neiva Moreira.
Em 1985, escreveu artigos sobre política para a Tribuna da Imprensa.
Colaborou com a revista Elle, onde publicou perfis de artistas e escritores, e colaborou com resenhas de livros para a página literária de
O Globo. Naquele mesmo ano, passou a colaborar com a Companhia
Vale do Rio Doce na área de assuntos culturais. Em 1990, foi editor-geral da Tribuna da Imprensa e, a seguir, passou a escrever uma página
semanal sobre cultura e política.
Em 1991, fundou, para a prefeitura do Rio de Janeiro, o mensário literário RioArtes, o qual dirigiu até ser convidado, em fins de 1992,
pelo então ministro da Cultura, Antonio Houaiss, e o presidente da
Funarte, Ferreira Gullar, para dirigir o Departamento de Ação Cultural
(DAC) da entidade. No DAC, entre outras atividades na área das artes
plásticas e da música, organizou o Salão Nacional de Artes Plásticas, de
1993 e 1994, e a Bienal de Música, de 1994. Na mesma ocasião dirigiu,
com Ferreira Gullar e Ivan Junqueira, a revista Piracema.
Editor de Cultura e Opinião do Jornal do Commercio, em 1995,
afastou-se, no ano seguinte, para escrever, com Laura Sandroni, a
biografia de Austregésilo de Athayde. Voltou ao Jornal do Commercio
em 2000, como diretor-adjunto da Redação e participou, com Antônio
Calegari, da reforma gráfica que modernizou o jornal. Criou o suplemento cultural Artes e Espetáculos e deixou a redação em agosto de
2003 para escrever a história do Jornal do Commercio.
Participou de várias maratonas escolares promovidas pelo
Instituto Antares de Cultura, em parceria com a Academia Brasileira
de Letras, deixando um rastro de saudades.