Maio, 2025 - Edição 306

Cultura, lugar de resistência e direito fundamental da cidadania

A aprovação do Orçamento de 2025 no Congresso, no último dia 20 de março, gerou reclamações de todos nós produtores culturais e artistas. Diversos segmentos denunciaram o corte de 84% da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Ministério da Cultura, que repassa recursos federais para estados e munícipios fomentarem atividades culturais. Os recursos para a PNAB caíram de R$3 bilhões para R$480 milhões por ano na LDO. Ao mesmo tempo, o orçamento reservou cerca de R$50 bilhões para emendas parlamentares. O Ministério da Cultura (MinC) garantiu a “integralidade dos recursos” para a PNAB, apesar de a lei de incentivo ao setor ter sofrido um corte drástico. Fruto do projeto que transferiu recursos de emergência para a cultura durante a pandemia, a Lei Aldir Blanc se transformou em uma política pública de repasse de recursos federais para o setor cultural até 2027.

O orçamento da Aldir Blanc é enquadrado como despesa obrigatória, é uma política que não pode ser descontinuada, uma das maiores vitórias do setor cultural brasileiro nos anos que se seguiram à pandemia de Covid-19. A notícia colocou o setor cultural em estado geral de alerta, onde a mobilização de todos os segmentos está sendo articulada para não permitir esse absurdo retrocesso.

A PNAB representa uma conquista histórica da cultura brasileira, consolidando uma política pública permanente de fomento, construída com ampla pactuação federativa. Os secretários e dirigentes estaduais de cultura estão mobilizados e articulados, contando com o apoio da ministra da Cultura Margareth Menezes para reverter a decisão e garantir a plena alocação dos recursos necessários à efetiva execução das políticas públicas culturais.

Os recursos da PNAB destinam-se a ações e projetos de todo o País. O governo federal previa destinar anualmente R$3 bilhões até 2027 para o setor, e a aplicação é feita pelos entes federativos por meio de editais e prêmios. Tornou-se a maior política cultural do país em termos de investimento direto da União. Aprovada por unanimidade no Congresso Nacional em pleno governo negacionista, é uma lei de despesa obrigatória, que não pode ser cortada ou contingenciada. Nós fazedores e ativistas da cultura precisamos mais do que nunca estarmos unidos e fortes em defesa da não efetivação desse absurdo inconstitucional, pois cultura é um direito do cidadão, e estamos vivendo momentos de muita produção artística e cultural, gerando muito trabalho, emprego, renda, impulsionando a economia criativa, incentivando a inovação e a produção de bens e serviços. Afinal, Cultura é lugar de resistência e direito fundamental da cidadania!

Por Manoel Goes Neto, escritor, produtor cultural e membro do IHGES.