Março, 2025 - Edição 305

Intentona 1902 – Restauração da Monarquia

Neste mês de Novembro, em que no dia 15 comemoramos a Proclamação da República, parece-nos oportuno relembrar episódios que, sinceramente, até pouco tempo, ignorávamos completamente. Amante da história, confesso que jamais havia ouvido ou lido menção a uma tentativa armada de restauração da monarquia ocorrida aqui, no Estado de São Paulo, mais precisamente no seu interior e com maior intensidade nas cidades do Espírito Santo do Pinhal e na hoje Taquaritinga (historicamente São Sebastião dos Coqueiros, depois Distrito de Paz Ribeirãozinho da comarca de Jaboticabal, a seguir Vila de São Sebastião do Ribeirãozinho, ao depois município de Ribeirãozinho, e finalmente, em 1907, Taquaritinga)1 estendendo-se por Franca, Araras, Mogi Mirim, Araraquara, São Carlos do Pinhal, Casa Branca, como enumerou o “Estado de São Paulo” em sua edição de 25 de agosto de 1902, havendo chegado ao nosso interesse pela leitura de Marcelo M. A. Bogaciovas,2 Anderson L. Camelucci3 e Taquaritinga – História e Memória acima citada.

Proclamada a República em 1889, o novo regime feriu os interesses daqueles que privilegiados no governo monárquicos gozavam de benesses, de tal modo que buscaram organizar-se para restaurar o status quo ante, colocando no trono a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II. Duas décadas depois de proclamada a República, planejaram minuciosamente a conspirata para depor o presidente da República, o campineiro Campos Salles, com dinheiro em caixa, estoque completo de armas de armas, trocas de mensagens e criação deum Conselho Deliberativo da Revolução, marcando a data de eclosão do movimento, como escreveu Milve A. Peria4 entre 22 e 24 de agosto de 1902.

Escreveu Raimundo de Menezes, autor da magnífica biografia de Campos Salles5, biógrafo de truz na exemplar apresentação que dela fez o então Prefeito Municipal de Campinas Lauro Péricles Gonçalvez, que “nos começos de 1900, os boatos recrudescem” e que “Em plena Rua do Ouvidor declinam-se os nomes dos chefes”.

A insurreição realmente foi deflagrada nas datas referidas apenas nas cidades de Taquaritinga e Pinhal, ocupando-as os revoltosos e assumindo sua administração. Porém, imediatamente o chefe de Polícia de São Paulo José Cardoso de Almeida tomou medidas repressivas, enviando a Araraquara e Taquaritinga, pela estrada de ferro, um contingente da Força Pública, juntamente como o segundo delegado auxiliar Vitor Ayrosa e um batalhão acompanhado pelo primeiro delegado auxiliar José Roberto Leite Penteado para Espírito Santo do Pinhal. Essas medidas tiveram como efeito, pela sua simples presença, desestimular os revoltosos a oferecer batalha.

Se luta armada não houve, início sim teve uma batalha jurídica que, iniciada por denúncia contra 32 indiciados oferecida pelo procurador da República, em que foram indiciados como chefes da conspiração nomes que hoje são muitos deles nomes de vias públicas em vários municípios e que o leitor identificará: Araraquara: Antônio Lourenço Corrêa e Carlos Baptista de Magalhães – Campinas: João Aranha – Espírito Santo do Pinhal: Pedreira de Cerqueira, João Sertório e Barão de Mota Paes – São Carlos do Pinhal: Rafael Sampaio e José Inácio De Camargo – São Paulo: Rafael Corrêa da Silva Sobrinho- Taquaritinga: Thomas Sebastião de Mendonça e Leonardo Botelho, gerou inúmeros pedidos de habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal, alguns concedidos e outros negados, batalha esta que foi encerrada pelo Juiz Federal Dr. Aquino de Castro, declarando-se incompetente de acordo com a legislação que cita e encerrando o processo, improcedente a denúncia.

Fatos que repousam em arquivos poucamente consultados voltam a ser repensados nos dias de hoje quando se vê repúblicas dilaceradas por lutas pelo poder e se notam regimes monárquicos que primam pela condução democrática de seus súditos.


Taquaritinga – História e Memória – Milve Peria – 2016
2 ASBRAP – Associação Brasileira de História e Genealogia – Marcelo Meira
Amaral Bogaciovas – A Intentona Monarqquista de 1902 – Revista No. 9 pág.,
109 – https:/asbrap.org.br >artigos > rev9_art6 PDF
3 Crise Monárquica e as Experiências de República no Município de Franca
(1880-1906) – https:/www.franca.unesp.br>>: Pos-graduaçao. an...PDF
4 Op.cit. P.52
5 Vida e Obra de Campos Salles, Prefeitura Municipal de Campinas /Livraria
Martins Editora – São Paulo, 1974, p. 179.

Por Agostinho Toffoli Tavolaro, advogado e presidente da ACL – Academia Campinense de Letras (2006 – 2016)