Janeiro, 2024 - Edição 304
O acadêmico Arnaldo Niskier recebe título de Doutor Honoris Causa da Universidade Santa Úrsula
Aos 89 anos, o acadêmico, professor, escritor e jornalista Arnaldo
Niskier somou mais uma condecoração à sua extensa carreira. Desta vez, foi
homenageado com o título de Doutor Honoris Causa, conferido por unanimidade pela Universidade Santa Úrsula.
A solenidade de outorga do título, ocorrida em bela cerimônia no
Teatro Raymundo Magalhães Jr., na Academia Brasileira de Letras, contou
com a presença, além da família, de vários acadêmicos, amigos e autoridades. Na ocasião, o reitor da Univesidade Santa Úrsula, Professor Paulo
Alonso, fez um tocante discurso de saudação, ressaltando as qualidades do
homenageado:
“Aos 89 anos, continua escrevendo livros e artigos, proferindo palestras, participando de seminários e congressos e exercendo o jornalismo, como apresentador do programa
Identidade Brasil, levado ao ar pelo Canal
Futura todas as semanas.
Filho dos imigrantes judeus Majer
Niskier e Fany Niskier, que chegaram ao
Brasil num período em que o mundo
tragicamente tomava contato com a intolerância e o ódio, Arnaldo Niskier nasceu
em Pilares, no Rio de Janeiro, em 30 de
abril de 1935. Ainda menino, conheceu os
surpreendentes labirintos da vida. Garoto
ainda, logo sentiu à sua volta o encanto e
a magia do Rio de Janeiro. Cedo, ouviu o
apelo de suas vocações maiores: o jornalismo e o magistério. Mal saído da adolescência, foi trabalhar na Manchete como
repórter e revisor, onde conheceu a figura
patriarcal de Adolpho Bloch, de quem se
tornou grande amigo.
Sempre atento e estudioso, Arnaldo concluiu o bacharelado
em Matemática (1957) e a licenciatura também em Matemática (1958), pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
da UERJ. Nessa mesma Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, graduou-se em Pedagogia (bacharelado, em 1961)
e em Licenciatura em Pedagogia (1962) pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras, tornando-se doutor em Educação (1964). Niskier nunca parou de
estudar, pesquisar, se aprimorar e se aperfeiçoar. Agora, avança em estudos
profundos sobre Inteligência Artificial.
O homenageado foi o primeiro secretário de Estado de Ciência e
Tecnologia do Estado da Guanabara, no governo Negrão de Lima (1968-
1971); secretário de Estado de Educação e Cultura do Rio de Janeiro (1979-
1983); secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro (2004-2005); e secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro (2006).
Educador dos mais notáveis e sempre tendo a educação e a cultura
como centrais em sua magnífica trajetória, nosso homenageado exerceu as
presidências da Fundação de Artes do Rio de Janeiro – Funarj; do Conselho
Estadual de Educação do Rio de Janeiro e do Conselho Estadual de Cultura do
Rio de Janeiro. Nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, atuou
como conselheiro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional
de Educação, tendo elaborado, naquele período, 842 pareceres e 9 indicações (sendo uma delas pioneira sobre educação a distância), quando Paulo
Renato Souza exercia o cargo de ministro da Educação.
Desde 1992, Niskier integra o Conselho de Notáveis, coordenado pelo
senador Bernardo Cabral, da Confederação Nacional do Comércio, Bens,
Serviços e Turismo.
Se nos campos da educação e da cultura Arnaldo Niskier é uma
referência nacional, na comunicação social, seu nome está gravado pelas
décadas de dedicação ao Grupo Bloch, no qual foi chefe de reportagem da
revista Manchete (1960-1968); diretor do Departamento de Jornalismo de
Bloch Editores (1968-1995), empresa na qual, de 1971 a 1988, foi diretor-geral
do programa Sinfonia da Natureza, veiculado pela TV Manchete; e de 1975
a 1992, quando criou e dirigiu a Divisão de Cursos e Seminários. De 1983
a 1987, dirigiu e apresentou o programa Homens e Livros da TV Manchete.
Dirigiu ainda o programa Verso e Reverso/Educando o Educador, da Fundação
Educar, produzido pela TV Manchete, de 1987 a 1989.
Ainda na década de 1970, o visionário e empreendedor Arnaldo
Niskier criou o Planetário do Rio de Janeiro, buscando despertar o interesse
dos jovens pela decifração dos enigmas do cosmos, tema que, hoje, nesta era
espacial, é obrigatório de especulação e estudo.
Sétimo ocupante da cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras
(ABL), eleito em 22 de março de 1984, na sucessão de Peregrino Júnior, o novo
imortal foi saudado em 17 de setembro de 1984 pela acadêmica Rachel de
Queiroz. Em seu memorável discurso de posse na ABL, o novo acadêmico iniciou sua fala sem disfarçar a alegria e a honra que sentia ao chegar à Casa de
Machado de Assis: “Tanto sonhei, que aqui estou, assomando pela primeira
vez a esta tribuna, a mais ilustre do país. Meta e Meca, desafio e santuário dos
homens de letras e do espírito, todos aqui se veem compelidos a debruçar-se
sobre o passado. Cada qual olha o caminho percorrido, não tanto para aferir
o problemático espaço de uma láurea, mas o fatigado tamanho de uma luta.
Sinto-me como o jovem Sérgio ao ouvir o pai, à porta do Ateneu, na descrição
de Raul Pompeia: ‘Vais encontrar o mundo… Coragem para a luta.’”
A oração do novo imortal, proferida há 40 anos, é atualíssima. Senão
vejamos: “A situação do ensino não permite a timidez hesitante do conformismo, nem as atitudes estéreis de negação ou de resistência passiva.
Todos têm o dever de cooperar para que o ensino universitário entre nós
melhore progressivamente nos seus quilates culturais, quer dizer, no sentido
perpendicular da profundidade e da altura. Para isso, poderemos contribuir
decisivamente todos nós, professores, se nos lembrarmos de que o professor
moderno deve exercer, no organismo universitário, aquela prodigiosa função hormonal de que nos falava Marañón. É exatamente esta a função mais
importante do professor: a função estimuladora, que leva, ao espírito do
estudante, os excitantes específicos do entusiasmo, da fé, da confiança e do
interesse científico.”
E ele acrescenta: “O avanço da
ciência e da tecnologia coloca em xeque
a posição do homem diante do mundo
moderno. Sempre houve um componente
técnico na natureza humana, da mesma
forma que sempre coexistiram o instrumento e a linguagem. Se fosse necessário
estabelecer uma ordem de precedência,
diríamos que o humanismo, no que ele
representa de espírito perquiridor, de
busca do ideal da realização humana,
precede a técnica, pois a ferramenta procede da palavra, do pensamento, da criação. O que se busca é uma nova síntese
que supere os antagonismos entre humanismo e civilização tecnológica. Nem
o humanismo é um fim em si mesmo,
contemplativo e estático, nem a civilização tecnológica deve subjugar o homem
com suas ofertas desmedidas e, às vezes,
desnecessárias. Pois, se não houver o
equilíbrio, pode-se chegar ao que Claude
Lévi-Strauss afirmou sobre as civilizações
tropicais: ‘elas correm o risco de passar do
estágio de carência para uma grande depressão, sem conhecer a opulência.’”
Intelectual dos mais brilhantes e referência nas áreas do jornalismo,
da educação e da cultura, Arnaldo Niskier é titular da Academia Brasileira de
Educação; do PEN Clube do Brasil; da Academia Internacional de Educação;
e membro, dentre tantas associações, do Centro de História e Cultura
Judaica, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro.
Como escritor, suas obras versam sobre temas variados, mas é na
educação, na cultura, na ciência e tecnologia e na literatura infantil que se
destacam. São mais de 100 livros publicados.
Se na vida profissional Arnaldo é exemplo, o é também por ter constituído, ao lado da sua esposa, Dona Ruth, com quem está casado há 62 anos,
uma família unida e amorosa. Desse casamento feliz nasceram três filhos:
Celso, Andreia e Sandra.
Grande torcedor do América, clube no qual jogou bola (foi juvenil
do clube, tendo inclusive substituído Zagallo na ponta-esquerda quando
ele saiu para o Flamengo), Arnaldo guarda suas lembranças do tempo em
que foi atleta, e essas memórias estão presentes e o ajudaram muito em sua
trajetória: não desistir nunca, saber driblar o eventual adversário, armar bem
e com inteligência as jogadas.
Arnaldo é um colecionador de amigos, uma pessoa amável, além de
atento, bem-humorado e apaixonado pela educação, pela família e pelas
causas judaicas, que defende com grande orgulho.
Marido amoroso e atencioso, pai dedicado e presente, avô dengoso
e bisavô entusiasmado, Arnaldo tem um enorme amor pela família, considerada o seu verdadeiro porto seguro. Acima de tudo, Arnaldo é um homem
generoso com suas amizades e com todos os que estão à sua volta, tanto sentimentalmente como materialmente. Sabe ser grato por tudo o que recebe,
seja em atenção, carinho ou alguma atitude a seu favor.
Parabéns, mestre Arnaldo Niskier, pela justa e merecida homenagem
ora recebida.