Novembro, 2024 - Edição 303
Nasce uma criança, nasce uma mãe empreendedora
As motivações para empreender são diferentes entre mulheres e homens. A maternidade é um gatilho muito forte. Nasce uma
criança, nasce uma mãe empreendedora junto. Os ambientes corporativos ainda são muito hostis para as mulheres. Elas não vão
empreender porque querem ou porque acham fofinhas. Elas são
empurradas, até hoje. É bem diferente a forma de como as mulheres empreendem. Setenta por cento delas empreendem nas áreas
de conforto da mulher: moda, beleza, alimentação fora de casa e
serviço de estética. Já os homens não necessariamente procuram
áreas de conforto, mas oportunidade de negócio. As mulheres
às vezes encontram o caminho da oportunidade, mas através do
caminho da necessidade.
O que é desafiador para as mulheres ao empreender aqui
no Brasil, é que não é um país amigável para empreendedores
em geral. É muito burocrático, é difícil, não incentiva a inovação
em um modo geral, elas têm menos acesso a recursos financeiros
do que os homens. Menos crédito no geral, seja bancário ou seja
investimento e fundos. Ter menos acesso ao capital é uma situação ruim para os negócios. A chance de o negócio crescer e se
desenvolver é muito menor. É difícil o acesso ao mercado, ao local
onde ela venderá o seu produto ou serviço. As mulheres não são
treinadas desde cedo para vender, exceto situações específicas de
vendedoras natas. A maioria não tem essa característica de vendas,
e precisam desenvolvê-la. Seria muito importante que tivéssemos
mais espaços onde as mulheres pudessem aprender, e poder vender.
Um outro ponto, é o desequilíbrio entre o trabalho e o
doméstico. Sabemos que existe um déficit gigantesco nas vagas
de creche no Brasil. Imaginem a mulher empreender e não ter
onde deixar suas crianças, especialmente sendo uma mulher em
situação de vulnerabilidade. Essa situação é um problema dentro
da chamada economia do cuidado. Cerca de 80% do trabalho não
remunerado do mundo é feito por mulheres. Esse trabalho de
cuidado com filhos, de doentes, de famílias e idosos, precisa ser
reconhecido, valorizado e dividido com os companheiros. É outro
fator que impede o desenvolvimento de negócios por mulheres.
Necessário contribuir com a inclusão econômica de mulheres
em situação de vulnerabilidade social, proporcionando a elas
liberdade de decisão e independência financeira.
E um último ponto é a conexão com o ambiente de inovação. Temos que mostrar que o território do dinheiro também é
um território feminino. Um conselho importante é ter paciência.
Temos um senso de urgência, de que as coisas têm que dar certo
rápido. Importante que a mulher não tenha vergonha de pedir
ajuda, e medo de ser julgada pelos outros. Parece que pedir ajuda é
um sinal de fraqueza, mas não é. Mas pedir ajuda é sinal de muita
força, é ter consciência de que você precisa do outro.
Uma outra coisa muito importante, especialmente nesses
tempos em que vivemos, é não medir o seu sucesso pela régua dos
outros. Olhando as redes sociais, o que mais vemos são mulheres
falando que fulana(o) tem mais seguidores(as), isso ou aquilo.
Sucesso é uma medida individual. A mulher tem que se medir
por si mesma, pelo o que está buscando, por quais desafios quer
enfrentar, trabalhando a sua saúde mental e o seu autoconhecimento.
São pontos que fazem a diferença para o sucesso de qualquer pessoa.