Janeiro, 2024 - Edição 304
A espera
Já reparou que estamos sempre à espera de algo, alguma coisa? À espera
de iluminação sem que necessariamente seja elétrica. Por menor que seja, por
maior que seja, breves, longas, doidas, a vida nos traz uma sucessão de esperas
que, enfim, e talvez, a qualquer hora encerrem algum capítulo. Me diga: dá
para viver sem ansiedade?
Milhões de paulistanos passaram a semana esperando a luz, a energia
elétrica apagada depois de alguns minutos de ventos e chuvas que escancaram
o que sempre ando dizendo, que São Paulo está se tornando cada dia mais
impraticável e em diversos sentidos. Inclusive em seus comandos, as instituições, governo e empresas das quais dependemos. A cada previsão do tempo,
continuamos esperando transtornos e, pior, a ocorrência de alguma desgraça,
faça chuva, sol, calor ou frio.
Brasileiros torcedores do futebol, por exemplo, esperam que se faça
luz, mas, na Seleção Brasileira, que anda faz tempo uma coisinha bem chata e
sonolenta de se acompanhar, sem brilho, antes era alegria.
Esperamos por aí o surgimento não só de novos craques, como também de lideranças diversas que realmente nos empolguem, novos quadros,
personalidades interessantes que de alguma forma substituam os tantos que
se aposentam ou nos deixam saudosos. Os mitos verdadeiros nos abandonam
Os ídolos passam à História, ficamos por aqui lendo seus livros, ouvindo suas
músicas, admirando suas artes.
Esperamos alguma salvação – daí buscamos céus, terras, o invisível, o
indizível. Ouvimos promessas que nunca se concretizam, enfim, o que até já
sabemos, mas elegemos sempre quem faz as mais irreais, até parece para ter a
certeza da decepção, parte desse cotidiano – e o que dá conversa e vazão à raiva
nos anos seguintes quando até de muitas nos esquecemos.
Aguardamos momentos, mensagens, respostas às muitas dúvidas, o
acesso aos sonhos que internamente todos cultivamos. Um olhar especial
sobre nós, nem sempre de amor ou romântico, mas de reconhecimento do
qual nunca intimamente desistimos.
Ah, alguma explicação, certamente você aí espera. Seja sobre o que
pode ter acontecido, se fez algo errado, se falou o que não devia, talvez não
tenha sido suficientemente claro, corajoso ou competente. Cada vez o silêncio
e a ausência trazem mais inquietação. No amor, isso é cruel.
Aguardamos. Quando preparamos um alimento, seu sabor. Quando
plantamos, o florescer. O que criamos, seja projeto, gente ou bicho, crescer.
Imagino sempre a espera da mãe por um filho, o misto de angústia, alegria,
medo. Concluo que todos sempre temos, de alguma forma, gestações que nos
trazem os mesmos sentimentos.
Esperamos que nada nos faça mal, e que não façamos inimigos. Que
sobrevivamos com alguma dignidade, força e saúde porque o contrário é a
morte, a tal única certeza um dia. Esperamos ter razão.
Haja paciência.